Cientistas encontram oceano subterrâneo em lua de Saturno
8 de fevereiro de 2024Existe vida fora da Terra? A pergunta que existe desde que o mundo é mundo pode estar mais perto de ser respondida. Pelo menos é o que um estudo do Observatório de Paris publicado pela revista Nature. Segundo os cientistas, por baixo da crosta congelada da lua Mimas, que orbita Saturno, existe um oceano subterrâneo.
A superfície repleta de crateras é inerte e não dava nenhum sinal de atividade geológica que pudesse sugerir um oceano oculto.
"Se tem um lugar no universo onde nós não esperávamos encontrar condições favoráveis à vida, é em Mimas", disse o astrônomo que comandou a pesquisa, Valery Lainey.
Agora, Mimas se junta a um grupo crescente de luas geladas do nosso sistema solar que abrigam oceanos em seu interior. Além dela, outros dois satélites naturais de Saturno, Encélado e Titã, também estão na lista, bem como Europa e Ganímedes, que orbitam Júpiter.
A Estrela da Morte da vida real
Descoberta pelo astrônomo inglês William Herschel em 1789, a lua tem o apelido de "Estrela da Morte" por causa de uma cratera enorme em sua superfície que a torna semelhante à estação espacial usada porDarth Vadere o Império Galáctico na saga Star Wars.
Apesar de seu exterior aparentemente desolado, Lainey disse que os pesquisadores suspeitavam que "algo estava acontecendo dentro" do satélite natural. O resultado divulgado pelo observatório é fruto de uma década de trabalho: a primeira pesquisa publicada sobre essa ideia data de 2014. Na época, os indícios não eram fortes o suficiente.
A descoberta
Muitos especialistas acreditavam em outra hipótese: a de que Mimas tinha um interior rochoso. Lainey e sua equipe não se deram por satisfeitos e seguiram investigando até que detectaram pequenas oscilações – rotações de apenas algumas centenas de metros – que não poderiam ocorrer se o satélite natural tivesse um interior rochoso sólido.
Segundo Nicolas Rambaux, coautor do estudo, a descoberta aponta que a lua "tem todas as condições necessárias para o surgimento da vida", que seriam calor, água e compostos orgânicos. Em Mimas, a água é mantida por uma fonte de calor e está em contato com as rochas, o que também permite que se desenvolvam trocas químicas.
Os próximos passos
Então, isso quer dizer que esse mundo aquático próximo poderia abrigar formas primitivas de vida, como bactérias? Só o tempo dirá. "Essa questão será abordada em futuras missões espaciais nas próximas décadas", disse Lainey.
Segundo o estudo, o oceano parece ter se formado recentemente, em termos cósmicos - provavelmente entre 5 e 15 milhões de anos atrás. Por mais que as condições apontem a possibilidade, o fato do oceano ser tão jovem "pode ser um desafio para o desenvolvimento da vida", disse Gabriel Tobie, coautor da pesquisa. Em outras palavras, o fato de o ambiente ser favorável à vida não quer dizer que obrigatoriamente há vida lá.
"No entanto, ninguém sabe quanto tempo a vida precisa para emergir de um ambiente adequado", acrescentou. Nesse sentido, a lua de Saturno pode oferecer um ambiente único para explorar o primeiro estágio do desenvolvimento da vida.
ec/le (AFP, Reuters)