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China pode impulsionar retorno de Assad ao cenário mundial?

Yue Fu
25 de setembro de 2023

Isolado internacionalmente desde o início da guerra civil, em 2011, líder sírio visitou recentemente a China. Seu homólogo chinês, Xi Jinping, busca "parceria estratégica" com o país do Oriente Médio.

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Presidente da Síria, Bashar al-Assad, e esposa chegam ao aeroporto de Hangzhou, na China, e são acompanhados por seguranças e políticos chineses sobre um tapete vermelho. Crianças e jovens agitam bandeiras vermelhas. Ao fundo, está a aeronave.
Bashar al-Assad voltou à China após quase duas décadas, em meio a isolamento devido à guerra civil na SíriaFoto: Huang Zongzhi/Xinhua/picture alliance

Quase duas décadas se passaram desde que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, visitara a China pela última vez. Na quinta-feira (21/09), ele voou para se encontrar com seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Hangzhou. No sábado, ambos participaram da cerimônia de abertura dos 19º Jogos Asiáticos.

Assad esteve na China em 2004, como primeiro presidente sírio a visitar oficialmente o país desde que as relações diplomáticas foram estabelecidas, em 1956.

O líder sírio está majoritariamente isolado em âmbito internacional devido ao modo como seu governo reprimiu a população durante os protestos de 2011 que redundaram em guerra civil. Ele é acusado de crimes de guerra como uso de gás venenoso e bombas de barril, tortura e execuções sumárias.

Só em meados de maio de 2023 Assad participou de uma reunião internacional importante, da Liga Árabe, em Jidá, na Arábia Saudita. Pouco mais de uma semana antes do encontro, o grupo de 22 países havia decidido readmitir a Síria, o que não agradou ao Ocidente. A recente visita à China é mais um passo para normalização.

Presidente da Síria, Bashar al-Assad, e esposa são recebidos por uma menina chinesa no aeroporto de Hangzhou. A escada do avião e a própria aeronave podem ser vistos ao fundo. Todos sorriem, e o presidente sírio segura um buquê de flores.
Bashar al-Assad e esposa foram recebidos por cerca de 100 estudantes no aeroporto de HangzhouFoto: Huang Zongzhi/Xinhua/picture alliance

Pequim: parceria estratégica é "marco histórico"

A emissora estatal chinesa CCTV cobriu a chegada de Assad em Hangzhou com uma transmissão ao vivo de 35 minutos na plataforma de mídia social Sina Weibo, muito popular na China:  uma cobertura que pode ser considerada bastante rara e de grande poder simbólico.

"Hoje anunciaremos a formação de uma parceria estratégica entre China e Síria que se tornará um marco histórico em nossas relações bilaterais", afirmou Xi Jinping, de acordo com a emissora estatal CCTV.

"Diante de uma situação internacional cheia de instabilidade e incerteza, a China está disposta a continuar trabalhando com a Síria, para que ambas se apoiem mútua e fortemente, promovendo a cooperação amigável e preservando conjuntamente a equidade e a justiça internacionais", disse Xi.

A China apoiaria a Síria na "resistência à interferência estrangeira e à intimidação unilateral, e na preservação da independência nacional, da soberania e da integridade territorial", prosseguiu o mandatário. E busca ajudar "na reconstrução [da Síria] e no fortalecimento de sua capacidade de combate ao terrorismo".

As imagens da mídia mostram Bashar al-Assad e sua esposa descendo de um avião da Air China e sendo recebidos com música festiva e bandeiras chinesas e sírias. De trajes coloridos, cerca de 100 jovens e crianças – estudantes, segundo fontes chinesas –, posicionaram-se em fileiras e dançaram.

China impediu resoluções da ONU contra a Síria

Ao contrário do Irã e da Rússia, a China não apoiou diretamente o regime de Assad na retomada do controle sobre a Síria desde o início da guerra civil. Entretanto forneceu apoio substancial a Damasco e, com seu poder de veto, juntamente com a Rússia, impediu resoluções da ONU contra a Síria em pelo menos oito ocasiões.

Em outubro de 2017, a agência de notícias estatal Xinhua informou que o governo do presidente Xi Jinping estava pronto para participar da reconstrução da Síria, devastada pela guerra. Com investimentos estratégicos, a China pretende obter acesso aos portos de Latakia e Tartus, no Mar Mediterrâneo, abrindo novas perspectivas para a Nova Rota da Seda, iniciativa a que a Síria aderiu em janeiro de 2022.

Pequim se vê como o "líder do Sul Global"

Para Alfred Wu, da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Cingapura, a visita de Assad à China não surpreende, pois Xi Jinping continua tentando desafiar abertamente os Estados Unidos.

"Essa visita não tem nada a ver com a Nova Rota da Seda, porque a China não tem mais condições financeiras de expandir o projeto. Trata-se mais de Xi mostrar que ele é o líder do Sul Global." Também por isso Xi viajou para a cúpula do Brics na África do Sul, no fim de agosto, mas não para a cúpula do G-20 na Índia, no início de setembro.

Nos últimos tempos, Pequim tem recebido representantes de alto escalão de países condenados ao ostracismo pelo Ocidente. A visita de Assad é outro sinal dessa estratégia, aponta Wu. Mas o líder sírio não pode garantir que essa viagem o ajudará a se libertar do isolamento internacional, já que "no momento ele só pode ir à China, nenhum país ocidental o receberia".

Haid Haid, do think tank Chatham House, com sede em Londres, escreveu nas redes sociais que a reunião com Xi provavelmente giraria em torno de "convencer a China a ajudar a Síria em sua recuperação econômica".

No anúncio oficial de Pequim após a reunião entre Xi e Assad, Pequim se afirma disposta a fortalecer a cooperação com Damasco na construção conjunta da Nova Rota da Seda, e a intensificar as importações de produtos agrícolas sírios de alta qualidade. Não está claro quanto de ajuda financeira Assad receberá de fato de Xi após o estreitamento da aliança e a conclusão de uma "parceria estratégica".