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Chefe da missão Rosetta comemora estado do robô Philae

Conor Dillon (pv)15 de junho de 2015

Após meses, dispositivo volta a emitir dados de um vale com temperaturas mais amenas do Cometa Chury. Em entrevista à DW, Paolo Ferri, da ESA, explica por que pesquisa científica pode sair melhor que o esperado.

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Foto: ESA via Getty Images

Depois de sete meses de silêncio, o módulo Philae voltou a se comunicar a partir do distante cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, no último fim de semana. Segundo especialistas do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) da França, o robô espacial enviou aproximadamente dois minutos de telemetria – sem dados científicos sobre coleta de solo ou emissão de gases, no entanto.

"O contato foi bastante curto, mas em menos de dois minutos recebemos 343 pacotes de telemetria. Eles contêm informações de engenharia sobre o estado da sonda", disse o chefe de operações de missões do Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC), Paolo Ferri. Localizado em Darmstadt, na Alemanha, o ESOC é um departamento da Agência Espacial Europeia (ESA).

"O estado do robô é muito melhor do que o esperado. Toda a parte eletrônica parece funcionar bem. No final do mês ou, na melhor das hipóteses, no início de julho, estaremos em condição de realizar algumas operações com os instrumentos científicos", disse o coordenador da missão Rosetta, em entrevista à DW.

Deutsche Welle: Onde você estava e como reagiu quando soube que o robô Philae voltou a fornecer dados?

ESA Missionsleiter Paolo Ferri im Satellitenkontrollzentrum
Paolo Ferri: "Toda a parte eletrônica parece funcionar bem"Foto: DW/Fabian Schmidt

Paolo Ferri: Eu estava indo para a cama. Eram 23h30, no sábado (13/06), e recebi uma mensagem de texto do gerente de operações espaciais, Sylvain Lodiot, que trabalha no meu departamento. A primeira frase da mensagem era: 'Tenha cautela, nada confirmado ainda. Temos dois minutos de telemetria do Philae.'

E assim, em vez de ir para a cama, comecei a fazer ligações telefônicas e mandar mensagens de texto para o meu diretor e a checar qual era a situação no centro de controle. Demorou cerca de duas horas até que tivéssemos uma confirmação sólida de que isso era uma boa telemetria de Philae. Portanto, um final de sábado empolgante.

A ESA está recebendo informações. Conte-nos sobre os dados!

O contato foi bastante curto e ainda não sabemos realmente por que foi tão curto, mas em menos de dois minutos recebemos 343 pacotes de telemetria. Eles contêm informações de engenharia sobre o estado do robô. E todas essas informações foram processadas por nossos colegas em Colônia [onde fica a sede do Centro Aeroespacial Alemão, DLR], e eles nos garantiram que o estado do robô é excelente.

Muito melhor do que o esperado. A temperatura é de cerca -35 graus Celsius, o que é muito acima do que precisamos para uma operação normal. Ainda é muito frio lá em cima. Mesmo o nível de energia ainda é muito bom – cerca de 25 Watts quando iluminado pelo sol.

Ou seja, o equipamento está mais "saudável" do que o esperado.

Definitivamente mais saudável do que eu esperava. E até mesmo os nossos colegas em Colônia definitivamente devem ter se animado com esse estado. Porque toda a parte eletrônica parece funcionar bem. A memória começou a despejar seus dados gravados. Ou seja, o que recebemos não foi apenas informação em tempo real, mas também alguns dados gravados dos últimos dias.

O robô deve ter estado ativo um pouco mais do que esstes dois minutos, quando esteve em contato conosco. Tudo parece funcionar muito bem. Porém, os contatos ainda são muito, muito instáveis e precisamos de mais que isso.

Agora precisamos de novos contatos. Porque com esses dois minutos não se pode fazer muito. Na última noite tivemos outro breve contato. No geral, ele foi de 30 segundos – dividido em três partes.

Originalmente, Philae deveria pousar numa planície no Cometa Chury, onde estaria exposto a tanta luz solar que poderia ter arruinado o sensível equipamento. Então, na verdade, foi um golpe de sorte que o robô caiu num vale?

Bem, digamos que é uma oportunidade, porque – como você disse corretamente – ele teria aquecido muito mais rápido se tivesse ficado nessa área. E o equipamento foi projetado para trabalhar sob temperaturas muito baixas. Ou seja, no local elevado, o robô estaria agora fora das temperaturas de funcionamento.

Agora, na sombra e neste canto escuro, onde acabou caindo, é bem mais frio. Se conseguirmos colocá-lo para operar corretamente – e esperamos que isso aconteça nos próximos dias –, então, estará ótimo, porque poderemos operar num período no qual o cometa é muito mais ativo.

É mais perto do Sol, e há uma grande quantidade de emissão de materiais, porque está aquecendo. Ser capaz de operar em junho e julho, em detrimento de novembro, dezembro e janeiro, é cientificamente uma grande oportunidade. Ainda temos que averiguar se será possível. Demos um grande passo agora – ver que Philae está vivo –, mas ainda há muito trabalho a ser feito.

Portanto, os dados enviados se restringem ao estado do robô, mas não foram enviados dados científicos sobre coletas de solo ou emissões de gases.

O robô e todos os instrumentos científicos estão desligados. Philae está num modo em que está operando sistemas básicos, que são o controle térmico, o controle de energia e, claro, a transmissão e o computador de bordo, que o mantêm vivo, estão ativos. Temos boas informações sobre a saúde desses sistemas e parecem muito, muito promissores, mas não sabemos nada sobre os instrumentos.

Para quando podemos esperar que os instrumentos científicos voltem e operar?

Vamos supor que estabilizemos o contato nos próximos dias, nesta semana, por exemplo. Nossos colegas responsáveis pelo pouso, que são os únicos que têm que estabelecer um plano para o futuro, nos disseram que precisam de uma ou duas semanas para estabelecer um plano, assim que tiverem informações suficientes sobre o estado da sonda.

Então, eu diria que no final do mês, mas certamente no início de julho, na melhor das hipóteses, estaremos em condição de realizar as operações de alguns instrumentos.