Checkpoint Berlim: Tradição centenária
27 de janeiro de 2017Quando Maximilian Levy entrou na pista, o público presente no velódromo de Berlim, para a Corrida de Seis Dias, foi ao delírio. Ovacionado, o medalhista olímpico bateu o recorde na prova de velocidade no terceiro dia da maratona de ciclismo que é uma das tradições de Berlim.
Confesso que a primeira vez que ouvi falar da Corrida de Seis Dias, que ocorre uma vez por ano na cidade e atraiu um público grande, não dei muita bola. Resolvi neste ano conferir o porquê do alvoroço por uma maratona de ciclismo. Fui achando que seria um evento chato, afinal, qual a graça de ver um bando de pessoas andando de bicicleta em círculos? Mas me surpreendi, as provas são viciantes.
O público presente era bem variado e sabia exatamente quem eram os ciclistas que estavam participando do evento, que ocorre desde 1909 na capital alemã. Como no futebol, cada esportista tinha sua torcida. Durante seis dias, os ciclistas participam de provas em diferentes modalidades, e o vencedor é aquele que alcançar o melhor resultado no conjunto da disciplina, ou seja, até o sexto dia os participantes sempre têm uma chance de recuperar um resultado anterior ruim.
O formato Corrida de Seis Dias não é exclusivo da capital alemã. Na edição deste ano, por exemplo, a cidade passou a ser uma etapa de um circuito que incluiu Londres e Amsterdã, entre outros. Porém, poucos sabem, que das atuais sedes deste tipo de campeonato Berlim é a mais antiga.
A primeira competição realizada na cidade – inspirada no formato que surgiu no Reino Unido em 1875 – contou com 15 duplas que disputavam um prêmio em dinheiro. Ao longo de sua história, o evento foi interrompido por alguns anos, durante a Segunda Guerra Mundial e na década de 1990, depois da demolição do velódromo onde era realizada a prova.
Desde 1997, no entanto, o ciclo passou a ser anual, e neste ano foi disputada a 106ª edição da prova que ocorre em janeiro na cidade. Em Berlim, os ciclistas costumam ser recepcionados com casa cheia.
Hoje, pouco resta do caráter exclusivamente esportivo do evento. A corrida virou um verdadeiro espetáculo, com provas embaladas por músicas. A atmosfera de show é conquistada ainda com uma iluminação especial, para destacar os competidores. Entre o intervalo de uma prova e outra, apresentações de danças e de bicicletas iluminadas tomam conta da pista.
Mas, na minha opinião, o melhor da noite é, mesmo, a competição, que não precisaria de tanta tecnologia para empolgar o público. A prova que mais gostei foi a Madison, na qual ciclistas disputavam, durante 45 minutos, em dupla os melhores resultados e para trocarem de posição, pois somente um pode correr oficialmente, eles têm pedalar de mãos dadas a velocidades elevadas. Por incrível que pareça, nenhum acidente ocorreu durante a prova.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.