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Checkpoint Berlim: Os males da gentrificação

27 de março de 2017

Padaria em Kreuzberg se torna símbolo do combate ao processo de valorização de espaços urbanos na capital alemã. Investidor resolve expulsar estabelecimento que não combinaria mais com o bairro e desencadeia protestos.

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A Filou, no número 86 da rua Reichenberger: padaria "não combinaria" mais com o bairro
A Filou, no número 86 da rua Reichenberger: padaria "não combinaria" mais com o bairroFoto: DW/C.Neher

Uma inesperada notícia pegou de surpresa os moradores do bairro de Kreuzberg. Depois de 20 anos, a tradicional padaria Filou teria que fechar suas portas no meio deste ano. A decisão não partiu de seus proprietários, mas do dono do imóvel onde o estabelecimento se encontra: um resultado da especulação imobiliária e da gentrificação do bairro.

Há alguns anos, o imóvel foi adquirido pelo investidor britânico Charles Skinner, considerado por muitos a figura mais odiada em Berlim no momento. Depois de idas e vindas devido a um aumento no aluguel, o investidor cancelou o contrato com os donos da padaria.

Skinner alega diferença entre ele e os proprietários, chegando a dizer que cancelou o contrato porque os produtos vendidos na padaria eram muito ruins para seu gosto. A Filou, para ele, não combinaria mais com o bairro. É uma padaria simples, bem diferente do restaurante chique que o investidor abriu ao lado.

Com faixas, vizinhos protestam contra o fechamento da padaria
"Filou fica", diz cartaz na sacada do vizinhoFoto: DW/C.Neher

A expulsão de Filou causou protestos. Uma passeata em Kreuzberg para defender estabelecimentos comerciais ameaçados pela gentrificação reuniu 2 mil pessoas no fim de fevereiro, e protestos passaram a ocorrer quase todo fim de semana. Diversos moradores da região penduraram faixas nas quais pediam para a que Filou continuasse onde está.

Mas o caso da Filou não é uma exceção na cidade. Além de estabelecimento comerciais, inquilinos de regiões que passam por processos de gentrificação sofrem com esta constante ameaça, e aqueles que resolvem ficar precisam se preparar para batalhas judiciais e retaliação dos donos de imóveis.

Nos últimos anos, Berlim se tornou um paraíso para investidores imobiliários que compram barato pensando em lucrar muito com pesados aluguéis, devido ao crescimento da cidade e à alta procura por residências.

Para inquilinos, há uma regulamentação que ajuda um pouco a controlar o aumento dos aluguéis, como a tabela oficial que estabelece o valor máximo em determinada região. Mas isso não está sendo suficiente. O novo governo da capital pretende criar barreiras para frear os preços. Até lá, os inquilinos contam apenas com o apoio de vizinhos. 

No caso da Filou, esse apoio foi fundamental e encheu de esperança outros estabelecimentos comerciais na mesma situação. A pressão dos protestos foi tanta que, na semana passada, o dono do imóvel voltou atrás e anunciou que a padaria poderá continuar onde está, pelo menos nos próximos três anos, e sem aumento do aluguel.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.