O antigo paraíso de diversão da Alemanha Oriental
26 de março de 2018Escondidas no meio da floresta conhecida como Plänterwald, no sudeste de Berlim, as ruínas do Spreepark pouco lembram os tempos áureos do parque de diversões que chegou a ser uma das atrações mais populares da antiga República Democrática Alemã (RDA).
Inaugurado em 1969, para comemorar os 20 anos da Alemanha Oriental, o chamado na época Parque Cultural Plänterwald, foi o primeiro e único parque temático em toda a RDA. Uma roda-gigante de 45 metros de altura era sua grande atração. Sobrevivendo ao capitalismo, ela foi e é praticamente a única lembrança do período socialista que restou no local.
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Além da roda-gigante, que se tornou seu símbolo, o local possuía montanha-russa, trenzinho, diversos brinquedos típicos de parques de diversão e restaurantes com um cardápio internacional. Durante o período socialista ele chegou a atrair cerca de 1,7 milhão de visitantes por ano.
A reunificação da Alemanha marcou o início da decadência do local, cuja história posterior daria um ótimo enredo de romance policial.
Em 1991, após um processo de licitação, Berlim passou a administração do parque à família Witte, que um ano depois reinaugurou o local com o nome pelo qual é conhecido até hoje: Spreepark. Nos primeiros anos de funcionamento, a família investiu cerca de 40 milhões de marcos, instalando novos brinquedos e atrações. Depois da mudança, o Parque Cultural Plänterwald havia ficado no passado.
Porém no fim da década de 90 o parque começou a perder visitantes. O investimento feito pela família parece não ter sido muito bem planejado e, em 2001, cheios de dívidas, os Witte anunciaram a falência. Logo em seguida, o Spreepark foi fechado. A família se mudou para o Peru e levou consigo diversos brinquedos do antigo parque. Sua intenção era iniciar um negócio semelhante no país sul-americano. Novamente eles foram à falência.
Em 2003, os Witte, e com eles o Spreepark, voltaram a ser notícia. O patriarca da família foi detido tentando entrar na Alemanha com mais de 100 quilos de cocaína e foi condenado a sete anos de prisão. Seu filho também foi condenado alguns anos mais tarde por tráfico de drogas, porém no Peru.
Desde 2001, o Spreepark está fechado, só abrindo para visitas guiadas esporádicas. O tempo não perdoou as atrações que restaram. Em menos de 20 anos, os antigos pavilhões viraram ruínas. O mato invadiu caminhos. Dos brinquedos, o que não enferrujou foi alvo de saques e pichadores. A roda-gigante, que costuma se movimentar sozinha com o vento, fazendo um barulho arrepiante, lembra o cenário de um filme de terror.
Em 2016, a empresa pública Grün Berlin, que administra áreas verdes na cidade, assumiu o controle do Spreepark e vem organizando debates com a sociedade e especialistas para decidir o futuro do parque.
A ideia é destinar parte do espaço a arte e cultura. Algumas das ruínas devem ser mantidas, mas outras serão removidas – o que considero uma perda, já que o charme e o chamativo do local são exatamente as ruínas. Além disso, a roda-gigante deve ser restaurada e voltará a girar com pessoas dentro. O antigo trenzinho que circulava pelo parque também deve voltar a funcionar.
A nova abertura do Spreepark para o público só está prevista para 2019. Por enquanto, a Grün Berlin oferece visitas guiadas nos fins de semana. As datas são divulgadas no site da própria empresa, no qual também é possível comprar os ingressos.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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