Checkpoint Berlim: Bicicletas e transporte público
7 de agosto de 2017Andar de bicicleta nem sempre é fácil e tranquilo em Berlim. Já falei sobre minha experiência num texto anterior, no qual citei a iniciativa que tentava promover um referendo para obrigar a prefeitura a adotar uma legislação específica para as bicicletas. Com a eleição do novo governo local no ano passado, a coalizão – formada pelos Partido Social Democrata (SPD), Partido Verde e A Esquerda – se comprometeu a estudar o projeto e a integrá-lo no seu plano de mobilidade urbana.
Depois de nove meses, o governo finalmente apresentou, no final da semana passado, o tão esperado plano que deve guiar as diretrizes de políticas públicas neste setor nos próximos anos, ao ser aprovado como lei. A proposta foca exclusivamente no transporte público e nas bicicletas, que devem ter prioridade no futuro.
Entre as medidas estão a expansão das ciclovias na cidade; a criação de 100 quilômetros de via expressa exclusiva para ciclistas; o aumento no número de estacionamentos para bicicletas; além da criação de vias exclusivas para ônibus e a adaptação de toda a rede de transporte público para torná-la completamente acessível a pessoas com dificuldades de locomoção.
Nem bem o plano foi lançado, já recebeu diversas críticas. Parlamentares da União Democrata Cristã (CDU) criticaram o projeto por ele focar "apenas" no transporte público e em ciclistas e afirmaram que a medida irá reduzir o espaço de usuários de outros meios de transporte na cidade. A ampliação da rede de ciclovias requer, por exemplo, a redução no número de vagas de estacionamento para carros.
Na minha percepção, a crítica é vazia. Durante décadas, projetos de mobilidade urbana priorizaram somente os carros. O transporte público vinha em segundo plano, e a bicicleta era vista apenas como um objeto de lazer. Berlim é uma cidade concebida para os automóveis. Chegou a hora de olhar para os usuários dos outros meios de transporte, e é isso que o governo está fazendo. Pela primeira vez, é dada prioridade a esses grupos.
Outro aspecto importante: esse plano não foi feito para punir motoristas, como alguns críticos tentam vendê-lo, mas tem um objetivo maior: reduzir a poluição e as emissões de gases que causam o aquecimento global pela queima de combustíveis fósseis que impulsionam os carros.
Até 2050, Berlim deseja alcançar a neutralização do carbono, ou seja, conseguir evitar e compensar todas as suas emissões de CO2. Para isso, a cidade precisa diminuir o número de automóveis em circulação, e isso só será alcançado se a população tiver alternativas eficientes de locomoção.
A proposta do plano de mobilidade urbana deve ser votada ainda neste ano, e o governo espera que a nova legislação entre em vigor já no início de 2018.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.