Chavistas impõem rival de Guaidó como chefe do Parlamento
5 de janeiro de 2020A tensão política voltou a aumentar neste domingo (05/01) na Venezuela durante a eleição da nova mesa diretora da Assembleia Nacional do país. Um grupo rival do presidente do Parlamento, Juan Guaidó, tomou a presidência do órgão com apoio do regime chavista. Guaidó, que buscava ser reeleito para mais um mandato como presidente da Assembleia, foi impedido por forças de segurança de entrar no prédio durante a votação.
O grupo de Guaidó, que tem maioria na casa, denunciou a manobra como "um golpe parlamentar". O deputado Luis Parra – que tecnicamente faz parte da oposição – se autoproclamou presidente da Assembleia com apoio do grupo minoritário de deputados chavistas. A eleição de Parra, segundo o grupo de Guaidó, não teve quórum mínimo de 84 parlamentares. Parra já foi filiado ao partido opositor Primero Justicia, mas foi expulso em dezembro por suspeita de corrupção.
A eleição deste domingo era considerada crucial para Guaidó. Em 23 de janeiro de 2019, ele foi proclamado pela Assembleia Nacional, então dominada pela oposição, como presidente interino da Venezuela. Essa reivindicação, que foi reconhecida por 50 países que rechaçaram a última eleição de Nicolás Maduro, estava justamente apoiada no fato de Guaidó chefiar a Assembleia Nacional.
A Assembleia Nacional tem 167 deputados, dos quais 112 são de oposição e 55 pertencentes ao chavismo.
Durante o dia, enquanto a entrada de deputados opositores do regime era dificultada pelas forças de segurança, membros chavistas da Assembleia não tiveram nenhum entrave para entrar no prédio, segundo imagens da própria rede estatal de televisão. Além de impedir a entrada de deputados opositores no Parlamento, agentes de segurança também dificultaram a entrada de jornalistas.
Agora, com a tomada da presidência da Assembleia por Parra, os chavistas estendem seu controle sobre todos os poderes do país. Em 2017, Maduro já tinha lançado uma Assembleia Constituinte dominada por seus partidários para esvaziar a Assembleia Nacional de maioria oposicionista.
Após a votação, Guaidó, disse que o país assistiu neste domingo ao "assassinato da República". "Hoje, no que é o desmantelamento do Estado de direito e o assassinato da República, vimos como eles tomaram violentamente o Palácio Federal Legislativo", afirmou do lado de fora da Assembleia Nacional, até então presidida por ele.
Antes da votação, a oposição já havia denunciado que o governo estava oferecendo de 30 mil a 1 milhão de dólares a deputados para que eles retirassem seu apoio a Guaidó. Parras inclusive foi acusado por rivais na oposição de aceitar os subornos.
Neste domingo, Guaidó tentou garantir que todos os deputados opositores do regime pudessem participar da sessão, mas um grupo da Polícia Nacional Bolivariana impediu a entrada de muitos deles, apontando que não estavam "legalmente habilitados" para participar na votação.
"Se não entram todos, não entra nenhum", disse Juan Guaidó, quando foi barrado à entrada da Assembleia Nacional. Guaidó tentou até mesmo escalar a cerca do prédio para tentar participar da sessão, mas foi impedido por forças de segurança. Segundo Guaidó, o episódio mostrou que "a ditadura revela-se, mais uma vez".
Com Guaidó e vários deputados do lado de fora, Parra fez o juramento de posse como presidente da Assembleia Nacional, entre gritos e empurrões de vários deputados oposicionistas, mas com o apoio da bancada chavista.
O governo dos Estados Unidos classificou a eleição de Parra como "farsa" e disse que seguirá apoiando Guaidó como presidente interino da Venezuela, posição também adotada por Brasil e Colômbia.
"Guaidó segue sendo o presidente interino da Venezuela sob a Constituição. A sessão falsa da Assembleia Nacional nesta manhã careceu de quórum legal. Não houve votação", disse o responsável pela América Latina no Departamento de Estado dos EUA, Michael Kozak.
"As ações desesperadas do antigo regime de Maduro, impedindo ilegalmente com uso da força a entrada de Guaidó e da maioria dos deputados da Assembleia Nacional, fez com que a 'votação' desta manhã, que carece de quórum e não cumpre os padrões institucionais mínimos, seja uma farsa", completou o representante da diplomacia americana.
Já o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, afirmou pelo Twitter que "Maduro tenta impedir, à força, votação legítima da AN e reeleição de Juan Guaidó para a presidência da AN e do governo interino, crucial para a redemocratização do país. O Brasil não reconhecerá qualquer resultado dessa violência e afronta à democracia".
O governo da Colômbia também publicou comunicado no qual informa que não reconhecerá o resultado da eleição para a presidência da Assembleia Nacional da Venezuela.
"O resultado de um processo eleitoral realizado de maneira fraudulenta, sem transparência e garantias, não será reconhecido pelo Estado colombiano", afirmou o Ministério das Relações Exteriores do país.
JPS/efe/lusa/dpa
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