Cerveja alemã em apuros
15 de abril de 2003Oktoberfest, cervejarias, canecões de litro: Alemanha é sinônimo de cerveja. Porém os alemães a bebem cada vez menos. Em meados da década de 90, cada cidadão consumia, por ano, 17 caixas da bebida, atualmente são apenas 15. Com drásticas conseqüências: segundo conhecedores do setor, em todo o país há 170 fábricas à venda. As restantes trabalham, em média, 25% abaixo de suas capacidades de produção.
Das 1700 fábricas do produto existentes na União Européia, 1300 localizam-se na Alemanha. A globalização ainda passa ao largo da cerveja alemã: para a maioria dos donos de cervejarias tradicionais, vale a máxima "cerveja precisa de casa", ou seja, seu ideal é cada cidade ter sua própria cerveja. Uma concepção nem sempre muito prática: o "patriotismo local" impede com freqüência que duas fábricas vizinhas se reúnam numa única, mais rentável.
Solidariedade do consumidor
Este é o caso da Iserlohner Pils, originária da região de Sauerland, na Renânia do Norte-Vestfália. Segundo matéria do semanário Die Zeit, desde 1899 esta cerveja é feita em Iserlohn, com a água da cidade, e pretende permanecer assim, apesar da recente ameaça de fechamento. Numa região onde a taxa de desemprego é de quase 10%, suas 85 vagas de trabalho são vitais. Porém, só melhorando suas vendas ela teria ao menos a chance de encontrar um comprador.
O apelo aos bebedores locais surtiu efeito: eles passaram a consumir mais o líquido dourado, não por sede, mas por princípio. Dessa forma, nos últimos meses a empresa aumentou sua produção em 3%. Mesmo assim, continua muito aquém de seu potencial: com a pils e dois outros tipos especiais de cerveja, ela chega aos 163 mil hectolitros por ano, enquanto disporia de capacidade para 400 mil hectolitros. Mas o importante é que a atratividade da Iserlohner para os investidores cresceu. Segundo a Brau und Brunnen, a empresa que a produz, as negociações para venda estão em bom caminho.
A cerveja alemã e o mundo
Devido à política de "uma cidade, uma cerveja", mesmo os grandes fabricantes alemães são relativamente pequenos. A Krombacher, campeã entre as produtoras de pils, não alcança nem 10% de participação no mercado. O total dos empregados do setor é de apenas 38 mil, com uma média de 29 por empresa. Segundo o consultor Patrick Mannsperger, entre os grandes mercados de cerveja, somente o da China é tão fragmentado quanto o da Alemanha: "Todos os outros mercados são distribuídos entre os grupos cervejeiros internacionais".
Um exemplo é a líder mundial Anheuser-Busch, dos Estados Unidos, que em 14 fábricas produz mais do que toda a Alemanha. O segundo lugar cabe à americana-sul-africana SABMiller, seguida da Interbrew, da Bélgica, e da holandesa Heineken. A produção em massa é econômica, permitindo às multinacionais atingirem lucros de 10% contra a média de 2% das cervejarias alemãs, afirma Richard Weber, diretor da fábrica Karlsberg.
Por outro lado, a presença dos grandes consórcios é um obstáculo à penetração das marcas alemãs no mercado internacional: "É irreal cogitar uma expansão das cervejarias alemãs através da exportação", declara Mannsperger. Falta simplesmente dinheiro aos fabricantes nacionais para comprarem uma fatia considerável desse mercado. Seu papel limita-se, na melhor das hipóteses, ao de junior partners.
Medidas impopulares, como a imposição de depósito sobre as latas, contribuíram para uma queda de 10% do consumo interno da cerveja, no início do ano. E as inovações agressivamente antitradicionais, como a cerveja em garrafas de plástico ou as misturas exóticas – com vodca, coca-cola, ou outros refrigerantes – parecem só contribuir para a derrocada de uma secular cultura alcoólica.