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Centro Moses Mendelssohn preserva herança judaico-alemã

15 de fevereiro de 2013

Para quem pesquisa o legado cultural judaico-alemão, até documentos que parecem insignificantes podem ser importantes, dizem funcionários do Centro Moses Mendelssohn. Pesquisadores rodam o mundo em busca de material.

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Foto: DW

Numa foto, uma bela mulher acompanhada de um distinto senhor. Ambos riem para a câmera, envoltos em seus casacos de inverno. A data da imagem é 7 de novembro de 1938 – dois dias antes do pogrom do 9 de novembro, no qual os nazistas destruíram sistematicamente sinagogas, estabelecimentos comerciais e casas pertencentes a judeus, bem como cemitérios judaicos no país.

Para a jovem da foto, o 7 de novembro marcou o fim de uma etapa de vida, pois a partir daquela data a ditadura nazista passou a proibir a Associação Judaica Cultural do Reno e do Ruhr, à qual ela havia dedicado toda sua força de trabalho e interesse até então. "A senhorita Adelheid Struck", constaria do certificado que ela recebeu mais tarde, "liderou nossa associação atuante em nove cidades", tendo sido uma funcionária "altamente confiável" e "sempre apreciada". Declarações que podem ser comprovadas pelas imagens de seu álbum: Adelheid Struck vivia no meio de artistas e guardava sempre as fotos de estreias e ocasiões festivas, tendo também documentado o dia do fim da associação que dirigia.

Cartas de Theresienstadt

Hoje, seu álbum fica guardado em cima de uma mesa na casa de seu filho, Michael Naveh, em Tel Aviv. O objeto faz parte do acervo deixado por seus pais, que fugiram do nazismo rumo à Palestina, onde vieram a se conhecer mais tarde. Naveh guarda cartas, certidões, fotos e livros, além de um delicado desenho onde se vê sua mãe com um semblante suave e um olhar melancólico. Um desenho possivelmente feito por algum admirador.

Deutsch-Jüdisches Kulturerbe MMZ Potsdam
Adelheid Struck, a mãe de Naveh, ainda jovemFoto: Privatbesitz Michael Naveh

Naveh tem ainda folhetos de programação da Associação Cultural Judaica, entradas de espetáculos teatrais e contos de fadas dos irmãos Grimm, em alemão e inglês. Além da certidão de imigração de seu pai, datada do ano de 1936 e assinada pelo Comissário para a Palestina, na época território sob mandato britânico.

Outro documento importante é uma carta de seus avós, enviada em 1942, do campo de concentração Theresienstadt, ao filho na Palestina. Carimbada pela Cruz Vermelha e pelo censor na Palestina. A carta chegou, mas os avós morreram "desaparecidos" em Theresienstadt, como diz Naveh.

"Fico emocionado quando vejo um documento original como esse", diz Felicitas Grützmann, do Centro Moses Mendelssohn de Potsdam (MMZ, na sigla original). Ela é uma das pesquisadoras de um projeto voltado para a preservação da herança cultural judaico-alemã.

Naveh ficou sabendo do projeto através de um artigo na revista hebraico-alemã MB Yakinton e entrou em contato com a instituição, pois pretendia encaminhar o material que possui a algum lugar onde ele pudesse ficar bem guardado. "Não posso entregar isso para qualquer arquivo, onde vão surgir teias de aranha no material", diz o veterinário que trabalha para a indústria farmacêutica. Sua esperança é que os pesquisadores se interessem por tais documentos particulares.

Bens culturais na mala

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Correspondência enviada pelos avós de Naveh a seu pai, do campo de concentração TheresienstadtFoto: DW

Felicitas Grützmann observa o material de maneira objetiva, apesar de seu envolvimento emocional com o tema. "O álbum de fotografias é o que há de mais interessante para a pesquisa, é um verdadeiro tesouro. É interessante notar que a mãe dele tenha trazido o álbum de fotografias e as programações da Associação Cultural para a Palestina, provavelmente numa mala de talvez uns 10 quilos. Documentos como a carta de Theresienstadt talvez existam em outros acervos, embora isso não signifique que eu esteja minimizando seu significado", observa a pesquisadora.

Michael Naveh já refletiu muito a respeito da importância do acervo deixado por seus pais: "O que eles fizeram aqui eu chamo de 'cápsula do tempo': eles trouxeram as culturas de Berlim e Colônia, que se encontravam, quando eles deixaram a Alemanha, em seu auge. E preservaram essa cultura aqui. No decorrer do tempo, nada disso foi modificado".

Sonhos em alemão

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Tesouro para a pesquisa: álbum de fotografias de Adelheid Struck, com imagens dos anos 1930Foto: DW

O mesmo aconteceu também com seu pai, que era decorador. "Ele continuou vivendo como um alemão", ou seja, como um judeu que vinha da Alemanha, conta Naveh. "Com o hábito de fazer caminhadas e cantar, com os saraus noturnos, concertos e óperas. E música clássica em casa. Ele lia muito. Mais tarde, ele voltaria muitas vezes a Berlim, a convite da prefeitura da cidade. Ele viveu a vida de um judeu alemão no exílio. E provavelmente continuava sonhando em alemão", presume o filho.

É este tipo de biografia que o Centro Moses Mendelssohn pretende examinar. "Tentamos compreender, numa espécie de busca de vestígios, a vida dos emigrantes judeus no exílio. E tentamos descobrir o que aconteceu com essa cultura específica judaico-alemã no país de destino dos emigrantes", explica Grützmann. "É claro que as questões relacionadas à identidade são também importantes: saber como as pessoas se posicionavam nos países aonde chegavam, como se sentiam", questiona a pesquisadora.

O Centro Moses Mendelssohn pretende criar uma rede de instituições que trabalhem com temas semelhantes em todo o mundo: arquivos, museus, organizações de pesquisa. A ressonância, até agora, tem sido positiva, diz Grützmann. Segundo ela, muita gente pergunta por que nenhum projeto do gênero foi feito até agora. "O tempo está correndo contra nós. Os documentos estão se destruindo nos porões e as testemunhas morrendo. Precisamos agir", alerta a pesquisadora.

A importância das correspondências

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Contos dos Irmãos Grimm: parte do acervo dos pais de NavehFoto: DW

Um dos principais objetivos do projeto é a criação de um banco de dados digital, que possa contribuir sensivelmente para melhorar as pesquisas a respeito do assunto em todo o mundo. E que também possa ser útil para pessoas como Michael Naveh, que querem preservar a herança familiar, mas não sabem onde entregá-la. "Quando alguém diz: 'Eu tenho aqui uma correspondência, devo jogá-la fora?', gritamos de imediato", fala Grützmann.

"Mesmo pequenas trocas de cartas são importantes, a fim de mostrar para as próximas gerações como era a situação naquele momento", completa a pesquisadora. Pois o projeto não tem ambições meramente acadêmicas, mas sim de divulgação entre a opinião pública. Afinal, muitas pessoas não têm até hoje consciência a respeito da estreita simbiose entre as culturas judaica e alemã antes da disseminação da ideologia nazista.

"O povo alemão perdeu muito com a Segunda Guerra", diz Naveh com convicção. "Não somente do ponto de vista material, mas também cultural. Os judeus contribuíram para a cultura alemã. Quando skinheads marcham em Berlim, penso: hoje eles são contra os turcos, amanhã contra os judeus. É preciso se ocupar com o passado. Trata-se de uma doença que tem que ser tratada para que se caminhe para frente e não haja retrocessos rumo à mesma situação de antes", resume.

Autora: Aya Bach (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer