Centenas de milhares marcham contra armas nos EUA
24 de março de 2018Centenas de milhares de americanos saíram às ruas em diversas cidades do país neste sábado (24/03) para pedir um maior controle de armas.
Convocado por estudantes sobreviventes do recente massacre na Flórida, os atos foram a maior manifestação antiarmas nos EUA dos últimos anos e um dos maiores protestos capitaneados por jovens desde a Guerra do Vietnã.
O principal ato, intitulado "Marcha por nossas vidas", aconteceu em Washington, onde os organizadores estimaram a participação em centenas de milhares de manifestantes. O evento contou com diversos sobreviventes do massacre na Flórida.
"Hoje é o começo de um novo e brilhante futuro para o nosso país. Viemos para as ruas para exigir leis de controle de armas e bom senso. Nós somos a mudança", disse Cameron Kasky, uma das sobreviventes do ataque, diante de uma multidão.
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"Podemos ouvir as pessoas no poder tremendo", afirmou David Hogg, outro sobrevivente. "Vamos garantir que pessoas melhores entrem nas nossas eleições, não como políticos, mas como americanos. Nós podemos e vamos mudar o mundo", acrescentou.
Um dos momentos mais emocionantes do ato foi quando a sobrevivente Emma Gonzalez subiu ao palco e permaneceu em silêncio por seis minutos e 20 segundos. Ela começou seu discurso dizendo que o tempo em que esteve calada foi o mesmo que o atirador levou para matar 17 pessoas em sua escola e depois citou, em meio a lágrimas, o nome de todas as vítimas.
Os manifestantes se reuniram em frente ao Capitólio, sede do Legislativo americano. Cartazes com a inscrição "Somos a mudança”, "Chega de silêncio" e criticando o lobby armas foram levados pelos participantes.
"Somos as pessoas que têm medo de ir para a escola, pois não sabemos se seremos os próximos. Nossa mensagem é que não vamos nos calar e continuaremos lutando. Nossa geração quer mudança", afirmou Lauren Tilley, de 17 anos, que veio da Califórnia para participar do ato na capital americana.
A neta de Martin Luther King de apenas nove anos fez uma aparição surpresa na marcha e lembrou a luta de seu avô durante o discurso. "Meu avô tinha o sonho de que seus quatro filhos pequenos não fossem julgados pela cor da pele, mas pelo seu caráter. Eu tenho um sonho de um mundo livre de armas", destacou Yolanda Renee King.
Diversos artistas, como Ariana Grande, Jennifer Hudson, Miley Cyrus e Demi Lovato também participam do ato e se apresentaram no final da marcha.
O presidente americano, Donald Trump, porém, deixou Washington na sexta-feira e passará o fim de semana com sua família em Mar-a-Lago, na Flórida. Em comunicado, a Casa Branca elogiou a coragem dos jovens em exercer seus direitos e destacou que a segurança das crianças americanas é a principal prioridade do presidente.
Nunca mais
Sob o slogan "Nunca mais", mais de 800 atos foram realizados nos EUA e pelo mundo. Milhares de manifestantes se reuniram em Boston, Houston, Mineápolis, Atlanta, Los Angeles, Seatle, Chicago, e Parkland. Nesta última, 20 mil pessoas participam da marcha que terminou em frente à escola palco do massacre que deixou 17 mortos em fevereiro.
Em Nova York, uma multidão foi às ruas do lado oeste do Central Park, entre elas o prefeito da cidade, Bill De Blasio. "O que estamos vendo agora é uma revolução pacífica para que haja uma mudança neste país", disse o prefeito.
Entre os manifestantes estava também Paul McCartney. "Um dos meus melhores amigos foi baleado não muito longe daqui", afirmou o cantor à emissora americana CNN, em referência ao seu colega de banda nos Beatles John Lennon, que foi assassinado em 1980.
Entre os manifestantes, há muitos jovens menores de 18 anos. Eles dizem que a liderança da juventude pode ser o diferencial que faltava para impulsionar uma legislação mais restritiva em relação às armas no país. Uma pesquisa recente revelou que 69% dos americanos apoiam essa mudança.
Os Estados Unidos têm mais de 30 mil mortes relacionadas a armas anualmente. Após o massacre na Flórida, os estudantes do colégio Stoneman Douglas lideraram uma campanha nacional de controle de armas, que forçou uma nova lei sobre o limite de idade para compra de armamento no estado.
Trump, que recebeu uma enxurrada de críticas ao sugerir armar professores nas escolas, chegou a sinalizar certo apoio à redução do acesso às armas, como elevar o limite de idade para compra de 18 a 21 anos. Ele acabou voltando atrás mais tarde, e chegou a ser acusado por seus opositores de fazer lobby para a Associação Nacional do Rifle (NRA).
Atos em apoio à marcha americana ocorreram ainda em diversas cidades da Europa, como Bruxelas, Londres, Roma, Berlim e Paris. Nesta última, cerca de 100 pessoas protestaram próximo à torre Eiffel.
CN/afp/ap
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