Cem dias de Merkel não decepcionam alemães
28 de fevereiro de 2006Pesquisas mostram que mais de 70% dos alemães estão satisfeitos com Angela Merkel. No termômetro da rede de televisão ZDF que mede a popularidade de políticos, a chanceler federal registra 2,2. A escala vai de -5 a +5. A maioria dos chanceleres dificilmente passa de 0,5.
Há uma onda de otimismo entre os Alpes e o Mar Báltico. O índice do instituto de pesquisas ifo, que mede o grau de otimismo dos empresários do país, bateu em 103,3 pontos, o maior resultado desde 1991.
Entre os consumidores, o clima de confiança cresce há cinco meses seguidos, sendo "o mais positivo em vários anos", segundo o instituto de pesquisas GfK.
Segundo o instituto, boa parte dos alemães acredita que há espaço para uma recuperação da economia. Parte desse otimismo está também relacionado à Copa do Mundo e à expectativa de que o Mundial gere mais empregos.
Podia ser pior
O interessante é que não há exatamente um motivo para esse sucesso. O governo aprovou o maior aumento de impostos da história da Alemanha, passando o Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), o ICMS alemão, de 16% para 19% já a partir do próximo ano.
O número de desempregados voltou a superar a barreira dos cinco milhões. A idade mínima para a aposentadoria subirá progressivamente de 65 para 67 anos. E, em cem dias, nenhuma das reformas necessárias, como a do sistema de saúde ou a do mercado de trabalho, foi levada adiante.
Para Gero Neugebauer, professor do Instituto Otto Suhr de Ciências Políticas, o governo Merkel pode simplesmente estar se beneficiando do fato de que todos esperavam que ele desse errado. "Os alemães estão felizes por Merkel não ser tão ruim como se pensava que ela poderia ser", afirmou.
Ele lembra que as expectativas em torno do governo da grande coalizão eram muito mais modestas do que as que cercavam o governo anterior. "É um começo mais pragmático, mais modesto, o que torna as coisas mais fáceis."
Guantánamo
Merkel também se esforçou para criar uma imagem positiva no campo internacional – é a área do seu governo que mais lhe rende elogios. A chanceler surpreendeu ao criticar os Estados Unidos pela manutenção de um campo de prisioneiros em Guantánamo, Cuba.
"Uma instituição como Guantánamo não deve e não pode existir por muito tempo. Essa é a minha declaração, a minha posição e a minha opinião. E, assim como eu a estou dizendo aqui, irei também dizê-la em outros lugares."
O presidente russo, Vladimir Putin, confrontou-se igualmente com essa postura forte. "Nós também conversamos sobre tópicos, como a situação na Tchetchênia e no norte do Cáucaso, sobre os quais não temos de imediato a mesma opinião", afirmou Merkel, após o primeiro encontro com Putin.
Economia
A política, ou melhor dizendo, postura externa pode render frutos no presente, mas não vai segurar a boa avaliação da chanceler por muito tempo. "O começo é bom. Mas não devemos esquecer que as tarefas mais difíceis ainda esperam uma solução", afirmou o presidente da União das Federações Alemãs de Empregadores, Dieter Hundt.
De concreto, houve até agora a aprovação de um pacote de 25 bilhões de euros, destinado principalmente aos setores de pesquisa e desenvolvimento, transporte e construção civil, assim como a investimentos sociais.
Houve, ainda, a definição do orçamento da União para 2006 e o planejamento financeiro até 2009, além da elevação do IVA para 19%, numa tentativa de se enquadrar nas regras do Tratado de Maastricht, e da idade mínima para aposentadoria.
Time muito bom
O governo terá, logo, se deparar com os desafios que o aguardam: a redução do desemprego, as reformas da saúde, do mercado de trabalho e dos sistema de impostos e o cumprimento do pacto de estabilidade do euro.
São temas nos quais a sintonia entre democrata-cristãos e social-democratas não é tão fina quanto na questão do aumento do IVA. Aí talvez não se ouçam mais frases como a do líder da bancada da CDU/CSU no Bundestag (câmara baixa do Parlamento), Volker Kauder: "Os primeiros 100 dias mostraram que essa grande coalizão age de forma enérgica e encara suas tarefas com vontade."
Ou esta, de Angela Merkel: "Nós formamos um time muito bom."