CD faz 20 anos, mas já pode estar condenado
Noventa e dois anos após o surgimento do primeiro disco de goma-laca, 31 anos depois da introdução do long-play (LP) de vinil e 17 após o início do uso das fitas cassetes magnéticas, a indústria fonográfica entrava na era digital, com a promessa do som puro, sem chiados e arranhões.
A pioneira foi a PolyGram, que em 17 de agosto de 1982 produziu em Hanôver os primeiros CDs em escala industrial, com uma gravação do pianista Claudio Arrau. O lançamento histórico custou a seus compradores o equivalente a 20 euros (mais de 60 reais).
Os discos prateados apresentam muitas vantagens em relação ao antecessor imediato, os long-plays. Com apenas 12 centímetros de diâmetro, o CD é quase três vezes menor do que um LP. Nele, pode-se gravar muito mais tempo de música. Sua composição de policarbonato o faz mais resistente do que o vinil, o qual sofria arranhões com facilidade. E, enquanto o LP era gravado em relevo e lido através de uma agulha, o CD armazena dados digitais, identificados por raio laser, sem contato físico.
O consumidor comum, porém, só pôde adquirir CDs a partir de março de 1983, quando as lojas de discos receberam para vender os primeiros 120 títulos, que variavam de música clássica a pop. Como sempre, o novo produto foi recebido pelos consumidores e apreciadores de música com elogios, mas também com alguma desconfiança. Muitos defendem ainda hoje que os sons mínimos, mais detalhados, eram melhor reproduzidos pela gravação em alto-relevo.
Bayer criou o CD
A idéia de a indústria fonográfica investir em CDs começou a amadurecer muito tempo antes. Já em novembro de 1974, a Philips havia decidido apostar na tecnologia digital. Os pesquisadores estavam convencidos ser possível o laser ler sinais de áudio e os reproduzir numa qualidade até então incomparável. Cinco anos depois, Philips e Sony uniram-se num projeto. "A Philips era na época líder na tecnologia de armazenamento ótico, enquanto a Sony estava mais avançada na área digital. A união foi o melhor para ambas", lembra Klaus Petri, da Philips.
No entanto, nem a empresa holandesa, nem a japonesa possuíam o meio adequado para a revolução musical. A solução foi encontrada pela indústria química alemã Bayer. Já amplamente utilizado na cobertura de estádios, em tacos de golfe e lentes de óculos, seu inquebrável policarbonato Makrolon despontara como a base material que se procurava. Então subsidiária da Philips, a PolyGram – rebatizada atualmente de Universal Music – realizou a primeira impressão industrial de CDs.
Sinfonia de Beethoven determinou tamanho
Que o primeiro compact disc da Philips possuía 74 minutos em vez dos 60 originalmente planejados, deve-se ao então vice-presidente da Sony. Amante da música clássica e maestro de formação, Norio Ohga insistiu que o lançamento da nova tecnologia fosse um álbum com a Nona Sinfonia, de Beethoven, completa. Para atender à exigência, o CD teve seu diâmetro ampliado dos programados 11,5 centímetros para 12.
Apostando no futuro da nova tecnologia, a Sony desde o início investiu também no desenvolvimento de um aparelho de reprodução portátil para a nova mídia, de tamanho similar aos walkman, utilizados para fitas K-7.
Expansão rápida e novos desafios à sobrevivência
O CD conquistou rapidamente os consumidores. Na Alemanha, impulsionada pela chamada Neue Deustche Welle (Nova Onda Alemã), com a revelação de novos intérpretes, a indústria fonográfica registrou a venda de mais de 20 milhões de compact discs em apenas dois anos. Um sucesso acima do esperado.
Já em 1988 o disco de vinil havia perdido a liderança do mercado. "Desde 1982, já se produziu cerca de 110 bilhões de CDs em todo o mundo", informa Frank Rothbarth, da Bayer. "Colocados um ao lado do outro, daria para dar 33 voltas em torno da Terra."
Com o tempo, a indústria fonográfica descobriu que a nova tecnologia também lhe trazia problemas, especialmente após o lançamento de gravadores domésticos de CDs – também conhecidos como "queimadores" – e de CDs virgens. Graças à grande capacidade de armazenamento e à facilidade de se fazer cópias sem perda de qualidade, a pirataria se alastrou, incentivada principalmente pela internet.
A Philips, porém, parece não se preocupar tanto com a ameaça. "A maioria das pessoas ainda prefere exibir na mão um disco com uma bela capa do que exatamente escutar música", acredita Klaus Petri.
Embora o compact disc ainda domine com 72% o mercado entre os meios de gravação de áudio, o aniversariante está sendo desafiado por um concorrente oriundo da tecnologia de vídeo. Lançado no mercado em 1996, o DVD oferece capacidade de memória 14 vezes maior.
"O boom do DVD é, para nós, algo excepcional", afirma Hartmut Spiesecke, da Federação Alemã da Indústria Fonográfica. A possibilidade de se armazenar neste meio tanto sons quanto imagens abre vastas perspectivas para a indústria musical.