Futuro de Portugal
24 de janeiro de 2011Em seu primeiro discurso como presidente reeleito, Aníbal Cavaco Silva, tocou nos pontos sensíveis que assolam Portugal. "Na linha de frente da minha magistratura estará a luta pela inclusão social, combatendo as situações de exclusão, pobreza, desemprego e precariedade do trabalho. Estarei ao lado dos portugueses que não se resignam, que não se conformam", disse neste domingo (23/01), em Lisboa.
Num momento de crise, os portugueses escolheram pela continuidade de Silva no cargo, que obteve 52,9% dos votos, que totalizaram 2,2 milhões. O presidente conseguiu a maioria em todos os distritos, assim como nas regiões autônomas de Açores e Madeira.
A vitória de Cavaco Silva já era esperada – apesar do altíssimo índice de abstenção, que chegou a 52,4%.
Derrota da esquerda
O candidato social-democrata, de 71 anos, prometeu combater o endividamento externo de Portugal e trabalhar pelo aumento da competitividade da economia.
Para analistas políticos, o resultado também indica uma derrota para o Partido Socialista e, sobretudo, para o bloco de esquerda. O primeiro-ministro José Sócrates felicitou o presidente reeleito e prometeu "cooperar lealmente" com Cavaco Silva.
Repercussão
O jornal português Diário de Notícias classificou o resultado como uma confirmação da "tradição eleitoral, das previsões, do senso comum". Apesar da vitória, Cavaco Silva é o "presidente menos popular da 3ª República, não só é o único que nunca teve três milhões de votos, como ficou abaixo de Jorge Sampaio, que havia registrado o pior desempenho até a data, com 55,6% dos votos e 2,4 milhões na reeleição de 2001", diz o jornal.
Além da abstenção, a publicação ressalta os 4,3% de votos em branco e 1,9% de nulos: "Então temos o espelho de uma sociedade que não se reviu em nenhum candidato – e não parece acreditar muito na atual elite dirigente."
Para a imprensa francesa, a vitória do "economista conservador" não deve impedir o destino de Portugal, que "vai entrar em recessão em 2011". O Le Fígaro sublinha que "os poderes do presidente são limitados em Portugal", e o Le Monde explica que Cavaco Silva é uma "figura muito respeitada em seu país, representa uma autoridade moral importante, mas não tem poderes executivos, mesmo dispondo do direito de dissolução no Parlamento."
Na Espanha, o El Pais analisa que, em seu discurso da vitória, Cavaco Silva "exibiu um tom agressivo e longe da generosidade que se espera de quem ganha uma reeleição." E o El Mundo faz uma crítica: "Aníbal Cavaco Silva e a abstenção empatam em Portugal".
Realidade portuguesa
O país enfrenta a pior crise econômica desde a Revolução dos Cravos, em 1974, que pôs fim a décadas de ditadura. Em 2010, a economia portuguesa registrou uma taxa de crescimento de 1,3%, mas a previsão é que haja contração neste ano, segundo o Banco Central de Portugal.
Na tentativa de controlar o déficit público, o governo Sócrates adotou medidas austeras, que incluem corte de 5% nos salários públicos e aumento de impostos. A meta é que o déficit, que fechou em 7,3% do Produto Interno Bruto em 2010, caia para 4,6% em 2011.
NP/lusa/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer