Castelo Solitude 20 anos
10 de março de 2010Situada num castelo barroco nos arredores de Stuttgart, a Academia do Castelo Solitude já abrigou, nos últimos 20 anos, cerca de 850 artistas, provenientes de mais de 90 países.
Nesse período, a Academia do Castelo Solitude se transformou em um importante ponto de encontro internacional, com um extenso programa apresentado pelos próprios artistas residentes. Para eles, a academia oferece alojamento e espaço para trabalhar, como também bolsa de estudos e outras subvenções.
Com uma série de eventos especiais, que incluem exibições, performances, recitais e concertos, o Castelo Solitude inicia nesta quinta-feira (11/03) as comemorações de seu vigésimo aniversário.
Intercâmbio e recolhimento
O Castelo Solitude, ou Castelo Solidão, é uma academia que combina o intercâmbio cultural e científico com a ideia do recolhimento – o que, como revela o próprio nome do castelo, ele sempre foi, afirmam os responsáveis.
A academia, fundada no castelo em 1990, opera em um espaço intermediário entre o privado e o público – onde a produção e a reflexão sobre a arte também encontram uma conexão com o público.
A academia possui 45 estúdios e, a cada dois anos, outorga 50 a 60 residências e bolsas de estudo. Artistas que terminaram seus estudos básicos e que tenham menos de 35 anos podem se candidatar a uma residência na academia. Outras bolsas de estudo também são distribuídas independentemente da idade do candidato.
Em entrevista à Deutsche Welle, o diretor da Academia do Castelo Solitude, Jean-Baptiste Joly, explicou que sua intenção não é somente criar uma colônia de artistas, mas um espírito inspirador.
Deutsche Welle: Como surgiu a ideia de criar uma colônia de artistas 20 anos atrás?
Jean-Baptiste Joly: O que leva um artista a deixa o lugar onde mora e partir para outra parte do mundo? As razões podem ser políticas, econômicas ou para estar perto de algo que possa ser interessante para o artista. Minha ideia foi que temos que criar um "espírito Solitude".
Como o senhor descreveria esse "espírito Solitude"?
Ter a impressão de fazer parte de um sistema que é mais artístico e privado do que institucional e organizado. E ser internacional é uma parte disso. Ser interdisciplinar também faz parte disso.
O senhor traz artistas de todo o mundo para cá: escritores, músicos, pintores, arquitetos. O senhor acredita que um escritor pode aprender de um músico e vice-versa?
Eu colocaria isso de forma mais genérica: as perguntas colocadas por todos os artistas de todas as disciplinas, as perguntas colocadas por cientistas e as perguntas colocadas por pessoas da área de economia são as mesmas. As pessoas estão se perguntando sobre gênero, morte e vida, sobre o que é uma imagem e o que significa quando falamos sobre um conceito icônico na sociedade moderna.
Eu não estou seguro se um artista pode aprender de outra disciplina, mas ele pode aprender que as questões que ele tem na cabeça são, hoje, as mesmas em todas as disciplinas – para todos aqueles que estão questionando nosso mundo, questionando a humanidade.
E é essencial escutar e trocar ideias com pessoas que estão cuidando das mesmas questões, sob um ponto de vista completamente diferente e com uma ferramenta completamente diversa de pensamento e expressão
O senhor acha que as necessidades e as atitudes dos artistas que vieram para cá mudaram nos últimos 20 anos?
Completamente – e esta é a razão pela qual a instituição mudou completamente. Entrementes, os artistas sabem melhor por que querem vir para cá – porque eles conhecem nossa reputação, e nossa reputação é baseada no fato de estarmos nos adaptando ao processo. O que eles precisam é de calma.
Através das modernas tecnologias, as atividades humanas no mundo se aceleraram imensamente nos últimos 20 anos – no entanto, é impossível comprimir o tempo de produção da arte.
Dessa forma, quando os artistas querem fazer um bom trabalho, eles precisam de um lugar onde possam andar mais devagar. E eles precisam andar muito mais devagar do que há 20 anos. Então, para mim, esta é a maior mudança – a relação com o tempo.
Autor: Peggy Graham / Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer