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"Carrasco" Ringo é estrela secreta da Oktoberfest de Munique

Insa Moog (ca)6 de outubro de 2013

A guilhotina é seu instrumento de trabalho, e ele já a fez descer cerca de 14 mil vezes. Há 30 anos o verdugo Ringo se apresenta no teatro popular Schichtl, e já se tornou a estrela secreta da Oktoberfest de Munique.

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Foto: DW/I. Moog

"Não tenham medo, fora uma cabeça, não corto mais nada", estrondeia no mais profundo dialeto bávaro um grandalhão ostentando um bigode polpudo. Com o rosto maquiado de branco e cartola preta na cabeça, ele é o carrasco Ringo da Oktoberfest de Munique.

Ao lado dele, no pequeno palco montado sob uma barraca, vê-se uma mulher usando um vestido de gola alta e corpete negro, coroada também por uma cartola na cabeça. "Quem for decapitado recebe um capuz de ponta, para não ver nem ouvir o que está acontecendo em volta", sibila. Para ela, a "Schichtlin" (corruptela de Scharfrichterin, executora), e para Ringo, agora só falta uma coisa: a vítima.

400 funções por Oktoberfest

Eles fazem isso 25 vezes por dia, nos 16 dias da maior festa popular do mundo, a Oktoberfest da capital bávara, realizada desde 1810 no gramado da Theresienwiese. A execução é a atração principal do show de variedades Auf geht's beim Schichtl ("Começa a função no Schichtl", em tradução livre). Desde 1869, a casa se abre todos os anos para os visitantes da Oktoberfest. O carrasco Ringo é um veterano e já participa da festa há 30 anos.

Bildergalerie Oktoberfest in München 2013
Teatro de variedades Schichtl na OktoberfestFoto: DW/I. Moog

Também desta vez encontrou-se rapidamente uma "cabeça" para a guilhotina, cuja presença na parte posterior do palco não pode ser ignorada: a escolhida faz parte de um grupo vestido de dirndl, o traje tradicional da Baviera.

Ringo acena para que ela venha até ele. Em seu caminho até o palco, a "condenada à morte" é acompanhada pelas zombarias e risos estridentes de suas amigas. Ao chegar ali, seus olhos são vendados e, como anunciado, ela recebe um capuz preto.

Um, dois, três e rolam as cabeças

"Cabeça reta, assim se morre mais fácil", brada Ringo sob os risos do público. A mulher, agora de olhos vendados, se posiciona numa tábua atrás da guilhotina. "Então!", diz Ringo, puxando uma alavanca. A mulher grita e é transportada com um solavanco para a horizontal.

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Carrasco Ringo e colega de show na entrada do teatroFoto: DW/I. Moog

Aí a coisa fica séria: a afiada lâmina da guilhotina cintila sob os holofotes, os cerca de 30 espectadores cochicham no escuro da plateia. "Sim, vamos contar até três, então a lâmina desce e a cabeça diz adeus ao tronco", diz a Schichtlin, que, ao que tudo indica, assume a gestão da execução. "Oans, zwoa, drei!", conta, no dialeto da Baviera. A lâmina cai – mas, bem entendido, ninguém morre.

Pouco tempo depois, o carrasco Ringo aparece na saída do palco para uma pequena entrevista. A próxima apresentação de 15 minutos já começa alguns minutos mais tarde. A execução obrigatória só é o ponto alto da apresentação dos 11 membros da equipe do Schichtl, que inclui magia, dança e um número de malabarismo.

Perguntado sobre como é o cotidiano de um algoz de meio expediente, Ringo, cujo nome verdadeiro é Hjalmar-Maximilian Praetorius, responde: "São 14 horas diárias". E quando se vai para a cama, primeiro é preciso esperar duas horas até cair no sono – porque tudo gira.

Simples e sensacional

Mas vale a pena. "A graça da coisa é o sentimento de estar na Oktoberfest e participar de uma empresa de espetáculos antiquíssima. Usando os mais simples meios e sem qualquer eletrônica, fazemos algo que até hoje agrada as pessoas." Da mesma forma que no final do século 19, para os espectadores, o que atrai é a sensação de estar num espetáculo de execução. Ringo relata tudo com ar matreiro, sua forma de falar é sempre cheia de humor.

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"Schichtlin" e carrasco Ringo procuram uma "vítima" no públicoFoto: DW/I. Moog

Após a apresentação, o feedback é imediato – e quase sempre positivo, afirma o chefe do Schichtl, Manfred Schauer, durante uma breve pausa. "Nota-se pela reação das pessoas que elas ainda gostam do Schichtl, embora ele tenha 144 anos."

Em 1985 o empresário de variedades Schauer assumiu a direção do teatro das mãos dos descendentes da família de artistas Schichtl. Ele faz o papel do animador na frente do palco, atraindo os visitantes da Oktoberfest para assistir ao espetáculo, e apresenta os artistas e as atrações. É algo que faz de coração. Nas pausas, recebe pessoalmente os convidados na taverna do Schichtl, que desde 2007 pertence ao teatro.

14 mil "vítimas"

Segundo estimativas próprias, Praetorius, atualmente com 70 anos, já praticou por volta de 14 mil execuções em suas três décadas como "carrasco". Rindo, ele diz: "Eu cumpri meu dever, pode-se dizer. Decapitei toda uma cidadezinha." Na verdade, ela já deveria ter se aposentado há bastante tempo.

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Antes, o "carrasco" era escultorFoto: DW/I. Moog

Desde alguns anos, o "carrasco" natural muniquense vive numa pequena casa no Lago Balaton, no oeste da Hungria – seu lugar de descanso, onde se recupera das semanas na Oktoberfest. "Apesar disso, eu não posso parar com o Schichtl", diz ele sem pestanejar. "Em Munique, eu ainda passo uns três meses ao longo do ano."

Mas como alguém se torna um carrasco de espetáculo? "Para tal não há oferta nos classificados. É uma profissão que se herda de outra pessoa que parou de trabalhar e que chama alguém e diz: 'Vem, continua você agora'. Ou você pede demissão depois da primeira temporada, ou continua até cair". O antecessor de Praetorius deixou o trabalho aos 92 anos.