Cao Hamburger relembra irmãos Villas-Bôas em “Xingu”
15 de fevereiro de 2012Explorar e se aventurar pelo coração do Brasil foram as premissas que levaram os jovens irmãos Villas-Bôas a se alistarem em uma das expedições desbravadoras no ano de 1943. No entanto, quando Cláudio (João Miguel), Orlando (Felipe Camargo) e Leonardo (Caio Blat) encontraram os índios Xingu tudo mudou.
O respeito pelos costumes, cultura e o sistema social dos índios viraram não só uma paixão, mas também uma luta de vida que foi muito além da criação do parque em 1961. O que eles buscavam era dar liberdade aos nativos para preservarem o que para eles era uma fascinação.
"Através das gerações, essa importante história foi sendo esquecida. Fizemos esse filme para resgatar essa história, que apesar de ser de época se relaciona com conflitos que ainda hoje existem no Brasil", declarou Cao Hamburger em coletiva de imprensa na tarde dessa quarta-feira (15/02) em Berlim.
Diferentes pontos de vista
Para contar essa saga, o filme começa como um épico histórico que apesar das deslumbrantes imagens da reserva perde força com a narração e a excessiva trilha sonora. Já a história dos irmãos e a relação com os índios ganha contornos dramáticos e tocantes, além de revelar com mais detalhes a história de Leonardo, o menos conhecido dos três irmãos. Seu envolvimento com as índias foi um escândalo na imprensa, levando a uma briga com Orlando e seu afastamento do Xingu.
O projeto chegou à produtora O2 através da família de Orlando, que deu toda a liberdade para roteiristas e diretores terem sua própria visão da história. Os parentes de Orlando também abriram os arquivos da família, que foram fundamentais para os dois anos de pesquisa que antecederam o roteiro.
Foram quatro anos de trabalho, que usou como referência os dois livros deixados pelos Villas-Bôas, mas se baseou principalmente em entrevistas. Cao Hamburger queria que o filme tivesse diferentes pontos de vista. Assim eles conversaram com familiares, colegas e com os próprios índios, já que Cláudio viveu por 40 anos no Xingu. Essa subjetividade fez com que o diretor e os roteiristas achassem nas contradições sua visão da história.
Tecnologia e tradição
Um dos grandes desafios da equipe foi trabalhar com os índios que fazem parte do elenco. Quase todos os índios vistos no filme vivem na reserva. Essa relação já foi estabelecida no começo do projeto, dando espaço e tempo para se criar uma confiança mútua. O resultado foi uma experiência muito rica.
A integração com o restante do elenco aconteceu antes da filmagem, já que os atores principais viveram alguns dias na aldeia. "Fiquei muito fascinado com a cultura dos índios, conectar com eles e perceber que em seu olhar tem uma espontaneidade absurda, cheia de tragédia e pureza", disse Caio Blat. "Defender essa história é um grande encantamento e responsabilidade. Hoje, ainda tenho contato com os índios pelo Facebook", comentou o ator, que se disse fascinado com o fato de eles conseguirem utilizar a tecnologia, mas ainda manter as tradições.
Além dos índios, quem rouba a cena é o ator João Miguel, que reconstrói o personagem Cláudio de maneira apaixonante. "Depois do Xingu nunca mais fui o mesmo. O entendimento deles das tradições me fez perceber que o Brasil não é um país que se pode entender racionalmente. Temos que vivenciá-lo. Esses irmãos se apaixonaram por uma cultura que é essencial para nós brasileiros", completou João.
O universo fascinou tanto o diretor que o seu próximo projeto também envolve comunidades indígenas. "Quero me aprofundar mais nessa cultura. Dessa vez, quero ir ao âmago da Floresta Amazônica, pois até hoje ainda existem grupos de índios que fogem da civilização branca. Quero investigar a fundo esse processo e descobrir mais sobre a cultura deles", disse Cao Hamburger.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque