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Novo disco

12 de julho de 2009

Vivendo uma fase de intensa produtividade, a cantora e compositora carioca emplaca mais uma bela homenagem a Tom Jobim, desta vez com a alemã WDR Big Band.

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Joyce ao vivoFoto: label

Antonio Carlos Jobim é o compositor brasileiro mais celebrado internacionalmente. São inúmeros os tributos publicados nos quatro cantos do mundo desde seu precoce falecimento nos Estados Unidos, em dezembro de 1994, aos 67 anos. A genialidade do carioca da Tijuca vem sendo redescoberta até por músicos como Iggy Pop, precursor do punk rock, que gravou recentemente Insensatez, clássico da safra de 1961, feito em parceria com Vinicius de Moraes.

Nas próximas semanas, chega ao mercado alemão mais um disco que vem enriquecer o acervo dos intérpretes do compositor: Joyce with WDR Big Band Celebrating Jobim, do selo Caracalla. O álbum, que foi lançado primeiramente no Japão, traz arranjos de Gilson Peranzzetta, Jacques Morelembaum e Nailor Proveta para canções como A Felicidade, Desafinado e Água de Beber.

Mas a voz de Joyce e as roupagens orquestrais dos três arranjadores livram o tributo de qualquer resquício de previsibilidade. A artista falou com exclusividade à Deutsche Welle sobre seu trabalho.

Deutsche Welle: Como surgiu a possibilidade de gravar um disco com a WDR Big Band?

Joyce: A primeira temporada de shows que fiz com eles foi em 2002. Lucas Schmid, seu diretor artístico, tinha convidado Gilson Peranzzetta para participar, que então me chamou. Me dei super bem com a orquestra e depois seguiram outras duas temporadas, em 2004 e 2007.

A ideia era gravar um disco de Celebrating Jobim, o projeto de 2007, mas, como em 2002 já tínhamos gravado algumas músicas do Tom que ficaram muito boas, resolvemos aproveitar algumas faixas daquela temporada neste álbum.

WDR Big Band
WDR Big Band ganhou o Grammy em 2007Foto: picture-alliance/dpa

Você já tinha lançado no Brasil em 1987 um disco todo dedicado ao repertório de Tom Jobim. Há outras semelhanças entre esse álbum de agora e o anterior?

Na verdade, ainda há um terceiro disco com músicas do Tom, chamado Sem Você, que fiz com Toninho Horta logo depois que o Tom morreu. O disco foi gravado em 1995 e saiu primeiro no Japão e só depois no Brasil, em 2006, pela gravadora Biscoito Fino.

Nunca parei para pensar se essa ou aquela música já estavam num disco, porque tenho esse lado jazzístico da improvisação, da criação. Nunca uma gravação vai ser igual à outra. Tem uma música que com toda segurança está nos três discos, Ela é Carioca, que adoro. Cada vez que canto é uma leitura diferente, um outro ambiente.

Um dos integrantes da WDR Big Band é seu genro, o trombonista sueco Mattis Cederberg. O fato de uma de tuas filhas viver em Colônia, na Alemanha, representou algum estreitamento musical com o país?

Musicalmente falando, não houve esse estreitamento. Eles estiveram em abril aqui no Rio de Janeiro, onde passaram umas pequenas férias, e o Mattis participou de uma faixa como solista convidado do meu disco com João Donato. Minhas idas profissionais à Alemanha são independentes da família, mas minha relação com o país mudou.

Colônia é uma cidade da qual eu já gostava e gosto cada vez mais. Toda vez que tenho oportunidade de estar lá, aproveito. Em setembro, por exemplo, quando irei ao Japão, passarei pela Europa e não pelos Estados Unidos, para dar uma paradinha em Colônia e ficar um pouquinho com eles. No ano passado, fui fazer um festival de jazz na Espanha e passei de novo por Colônia.

A relação sólida que tenho com a big band inclui também outros futuros projetos. Eles têm um diretor musical que adoro, o Michael Abene, um arranjador americano que já trabalhou com Sinatra. Temos projetos para fazer outro trabalho com ele daqui a um ou dois anos.

Em 2009, você vai ter lançado ao todo quatro álbuns. Fale um pouco dos outros três.

O Visions of Dawn saiu em março, pela Far Out, de Londres. É uma coisa muito antiga, uma sessão gravada em 1976 em Paris, com Naná Vasconcelos e Maurício Maestro. O material estava numa fita analógica inédita. O Maurício trouxe essa fita para o Brasil, que ficou guardada com ele durante anos e anos. Joe Davis, o dono da gravadora, ficou sabendo, pediu ao Maurício para ouvi-la e ficou doido pela música.

Inclusive há canções ali que gravei posteriormente em outros discos meus, como Clareana, que tinha acabado de fazer naquela época. Era a primeira gravação dessa música. Também Banana, que saiu no disco Feminina [1980], além de músicas do Naná e do Maurício. São três amigos num estúdio em Paris na década de 70. A resposta a esse trabalho está sendo absurda, eu nem esperava por isso. A imprensa da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Canadá tem falado bastante, parece até a volta dos Beatles (risos). A volta dos que não foram.

Já a Biscoito Fino vai lançar em julho o disco Slow Music, um projeto de baladas e canções de amor meio ácidas, reflexivas, nada de amor com muito açúcar. Gravamos eu e um trio em três dias: o pianista Hélio Alves, que mora em Nova York, o baixista Jorge Hélder e o baterista Tutty Moreno. Estou completamente apaixonada por este disco. E o outro é o Aquarius, com João Donato, que sai no Japão em julho. É uma encomenda deles.

Você foi muito influenciada pela Bossa Nova. Concorda que os brasileiros hoje em dia nutrem uma admiração muito maior por esse estilo do que nas décadas passadas?

De maneira geral, sim. Espero que esse reconhecimento dure, porque no Brasil as pessoas têm memória muito curta. O ano passado [ano de comemoração dos 50 anos da Bossa Nova] foi muito bacana. Participei de muitos eventos. Teve um grande concerto na praia de Ipanema, com um público enorme, participei também de eventos em Brasília e em São Paulo, e fui curadora de um evento lindo no Barbican Hall, em Londres, para duas mil pessoas. Levamos três gerações da Bossa Nova, com Donato, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Dori Caymmi, Marcos Valle, e ainda Celso Fonseca, Clara Moreno e Vinícius Cantuária.

Dos anos 80 até o final dos 90, a Bossa Nova viveu na clandestinidade. Quando fiz aquele disco para o Tom em 1987, ele ficou tão, mas tão feliz. Ele estava fazendo 60 anos e a música dele no Brasil era vista como uma coisa ultrapassada. Isso fez com que eu me desse conta de o quanto a gente estava escondendo essa música que é a maior riqueza do nosso país. Acho que a Bossa deveria ser patrimônio imaterial do Brasil. Ela é uma identidade cultural brasileira muito forte, é a música que botou o Brasil no mapa.

No seu livro Fotografei Você na Minha Rolleyflex [Editora Multimais, 1997], você afirma que Tom Jobim foi a mais perfeita tradução do Brasil na segunda metade do século 20. Qual seria a mulher mais representativa?

Se você não se importa, vou dizer uma pessoa que não é da música, mas que considero uma mulher espetacular, de uma dignidade incrível, que é a Fernanda Montenegro. É uma personagem que dignifica muito o país até hoje. Ela está completando 80 anos em 2009, está em plena atividade, acabou de perder seu companheiro (Fernando Torres) de 60 anos de vida em comum…Fernanda pensa o Brasil.

Autor: Felipe Tadeu

Revisão: Rodrigo Abdelmalack