Canadá vira alternativa a Trump e Brexit
30 de maio de 2017A mexicana Sofia Solar Cafaggi, de 29 anos, diz que nunca havia enfrentado problemas em seus quatro anos nos Estados Unidos. Isso tudo mudou na noite em que Donald Trump ganhou a eleição. "Pela primeira vez, eu me senti indesejável. Metade do país na verdade não se importa em ter lá esse fanático racista."
Depois de se graduar na Universidade McGill, em Montreal, Cafaggi se mudou para os EUA para cursar mestrado em Berkeley. Apesar de ela ter recebido uma oferta de bolsa de estudos para uma faculdade de medicina nos Estados Unidos, está indo embora ainda este ano para a Universidade de Toronto.
Donald Trump entrando na arena política e a retórica que se seguiu sobre mexicanos e imigração fez com que o Canadá se tornasse especialmente atraente. "Isso definitivamente ajuda a tornar a decisão mais fácil de ir para o Canadá. No geral, tenho a impressão de que o Canadá é um país muito acolhedor", observa. "É um enorme contraste no momento."
O Canadá está tendo um boom este ano em candidaturas de estudantes estrangeiros, e funcionários das universidades citam o clima político nos Estados Unidos e o Brexit como alguns dos fatores que levam a isso.
Tapete de boas-vindas
Ted Sargent, diretor adjunto do departamento internacional da Universidade de Toronto, diz que os alunos citam a natureza inclusiva e acolhedora do Canadá como as algumas das principais razões para que eles se candidatem a uma vaga na instituição:
"Se você olhar ao redor do mundo e você olhar para os EUA, você olhar para o Reino Unido, você vê alguns países que parecem ir em uma outra direção. O Canadá olha para fora e olha globalmente, à procura de engajamento e de talento."
Na Universidade de Toronto, houve um aumento de 27% de candidatos estrangeiros para os programas de pós-graduação neste ano em relação ao ano passado. Para cursos de graduação, houve uma alta de 22%.
Outras universidades canadenses têm registrado números semelhantes ou ainda maiores. A Universidade Concórdia, em Montreal, recebeu 325% a mais de candidatos do México em maio de 2017, em comparação com maio de 2016. Também houve um aumento de candidatos dos seis países de maioria muçulmana que Trump tem tentado proibir de entrarem no país.
Na Concórdia, houve um aumento de 317% de iranianos que se candidatam para cursos de graduação, enquanto a Universidade de Alberta viu o número de candidatos crescer de 10 ano passado para 117 candidatos neste ano.
Mais americanos saindo
Os EUA não estão apenas empurrando alunos estrangeiros para o Canadá, mas também os seus próprios. As universidades do país têm visto um interesse significativamente maior de cidadãos da nação vizinha.
As candidaturas de americanos para a pós-graduação na Concórdia aumentaram 74%, enquanto o número de candidatos americanos que aceitaram ofertas para cursos de graduação na Universidade de Toronto subiu 70%.
Para Madeline Zeif, de 18 anos, que estará deixando o estado de Vermont, nos EUA, para fazer curso de graduação em estudos ambientais e políticos da Universidade de Colúmbia Britânica, no Canadá, a eleição foi mais um dos problemas para que ela continuasse nos EUA.
"Era difícil para mim estar próxima de pessoas que se não aceitam a proteção climática, que não acreditam que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens", diz. "Eu não queria que isso influenciasse a maneira como eu estarei aprendendo."
Ela diz que a comunidade e círculo social dela estiveram fortemente divididos durante a eleição, até o ponto de ela ter perdido amigos – algo que ela espera que não venha a acontecer na liberal Colúmbia Britânica.
Também há um aumento de estudantes vindos da Índia. As candidaturas vindas do país aumentaram 233% na Concórdia, enquanto a quantidade de alunos que ganharam uma vaga na Universidade de Toronto aumentou 59%.
De acordo com Pari Johnston, vice-presidente da Universities Canada, organização que representa as universidades canadenses, a causa parece ser o Brexit: "Particularmente no caso de estudantes provenientes da Índia, que teriam normalmente escolhido universidades no Reino Unido, devido a laços familiares, relações históricas e à alta qualidade de universidades britânicas, realmente eles estão voltando sua atenção para o que o Canadá tem para oferecer."
Uma enquete entre estudantes indianos mostrou que 58% eram menos propensos a estudar no Reino Unido devido ao Brexit. Johnston conta que os visitantes do site da entidade que dão detalhes sobre suas bolsas de estudo e estágios afirmaram que saíram depois do referendo, ocorrido em junho de 2016.
Facilidade para imigrantes
A política não é a única razão por trás desse aumento. Como muitos outros exemplos, Zeif diz que poupar dinheiro com as taxas das universidades canadenses enquanto recebe uma formação de alta qualidade foi a razão principal para a sua ida para a Colúmbia Britânica.
A anuidade de cursos de graduação na Universidade da Colúmbia Britânica é de cerca de 53 mil dólares canadenses (26 mil dólares americanos), o que torna uma opção mais acessível do que as faculdades dos EUA que eram consideradas por Zeif.
O Canadá também é ajudado pelo fato de que a maioria das universidades ensinarem em inglês, tornando o país uma escolha óbvia para aqueles que, de outra forma, teriam escolhido os EUA ou o Reino Unido.
Sofia, que deixou o México em 2007, diz que uma das coisas mais atraentes sobre o Canadá é a possibilidade de obtenção de um passaporte. Depois de terminar a faculdade de medicina, ela logo poderia estar a caminho de obter a cidadania – diferentemente dos EUA, onde ela precisaria de um hospital para patrociná-la enquanto trabalhasse após obter o seu diploma, fazendo com que o caminho até a cidadania americana fosse de muitos anos. "Isso significa muito para alguém que é estrangeiro há 10 anos."