Campeão olímpico do tiro esportivo treinou sem munição
16 de agosto de 2016Imaginem jogadores de futebol treinando sem bola ou um ciclista que se prepara sem pedalar numa bicicleta – e, mesmo assim, são coroados campeões do mundo. Parece surreal, mas ocorreu no tiro esportivo nos Jogos Olímpicos de 2016.
Na prova de pistola de ar 10 metros – na qual o paulistano Felipe Wu foi medalhista de prata – o vietnamita Xuan Vinh Hoang conquistou o primeiro ouro da história do Vietnã em Jogos Olímpicos. Mas esta não é a maior façanha: o campeão olímpico de tiro esportivo treinou praticamente sem munição.
Motivo? Munição é muito cara e o Vietnã investe pouco dinheiro no esporte de rendimento. "Cerca de 100 dos meus atiradores não ouvem um estrondo real de suas armas há anos", disse o treinador dos atiradores vietnamitas, Nguyen Tan Nam, ao portal de notícias do país Tuoi Tre. "Como não temos munição, eles apenas levantam a arma, miram e ouvem o som do clique do gatilho."
"As habilidades dos nossos atletas ficam comprometidas. Além disso, como nenhuma bala atinge o alvo, é impossível fazer uma avaliação de progresso e desempenho nos treinamentos", desabafou Tan Nam.
Hoang, que é tenente-coronel do Exército do Vietnã, foi receber munição para os treinamentos somente pouco tempo antes do início dos Jogos do Rio de Janeiro: 100 cartuchos por dia. Um atirador campeão olímpico quase sem munição. Sem mencionar que Hoang sofre de miopia.
As dificuldades de Hoang, porém, não são exclusivas. O brasileiro Wu, que ficou apenas 0,4 pontos atrás do campeão olímpico, também relatou alguns percalços no treinamento no Brasil, um país em meio a sua pior crise econômica em décadas, além do alto custo e o atraso nas importações de munição.
"Às vezes, tenho de esperar um ano para obter a minha munição", disse Wu, que com sua medalha de prata na pistola de ar 10m quebrou um jejum de 96 anos sem medalhas no tiro esportivo do Brasil.
PV/rtr/ots