Cafeína nem sempre tem o efeito desejado
18 de março de 2013Em época de provas, muitos estudantes têm a impressão de que a sua capacidade de concentração diminui. Ou então o tempo para se preparar é curto demais, e a saída é estudar noite adentro. Eles costumam então apelar para um antigo remédio: altas quantidades de café para se manter acordados.
Outros vão além e usam tabletes de cafeína ou até mesmo medicamentos que só podem ser comprados com receita médica – o chamado doping cerebral é muito comum entre aqueles que estão sob estresse.
"Doping cerebral é o consumo de substâncias psicoativas com o objetivo de elevar o desempenho do cérebro. Essas substâncias costumam ser vendidas com receita médica", diz o professor Klaus Lieb, diretor de Psiquiatria e Psicoterapia da Universidade de Mainz.
A universidade alemã realizou uma pesquisa com cerca de 2.600 estudantes para saber com que frequência eles recorrem ao doping cerebral. Segundo a pesquisa, 20% dos alunos tomaram, ao menos uma vez, comprimidos de cafeína, anfetaminas, ritalina ou outras substâncias no período de um ano. O percentual elevado se deve ao anonimato assegurado aos participantes e também ao fato de os pesquisadores não diferenciarem entre os tipos de medicamentos.
O professor de neurofilosofia Stephan Schleim, da Universidade de Munique, diz que as pesquisas sobre doping cerebral costumam ser feitas com estudantes porque é muito comum o uso de substâncias para elevar o desempenho cerebral entre esse público. "Mas todas as pesquisas que eu conheço mostram um percentual de uso inferior a 10%", diz.
Com ou sem receita
Na Alemanha, comprimidos de cafeína são vendidos em farmácias sem prescrição médica. Esse não é o caso da ritalina e de outras substâncias. O medicamento tem efeito estimulante e é utilizado no tratamento do Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), uma síndrome caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade. A ritalina aumenta a concentração sanguínea da dopamina, mais conhecida como hormônio do prazer.
A maioria dos estimulantes só é vendida com receita médica, e alguns são considerados entorpecentes, diz Schleim. "É importante ir ao médico para saber se existem fatores individuais de risco."
Cada pessoa reage de maneira diferente a uma substância, mesmo à cafeína. Geralmente há também uma diferença entre a melhora percebida pela pessoa e a real, explica o psicólogo Tim Pfeiffer-Gerschel, do Instituto para Pesquisas de Terapia de Munique. Segundo ele, pessoas que consomem uma grande quantidade de estimulantes tendem a superestimar suas capacidades.
Nem sempre o efeito desejado
Uma sensação de euforia é seguida de um estado de depressão – quando o efeito estimulante obtido com o uso de uma substância começa a diminuir, muitas pessoas costumam ingeri-la novamente para manter o efeito. Isso tem um preço: "A pessoa atribui todo o seu desempenho ao uso de estimulantes", diz Pfeiffer-Gerschel. "Esse é certamente um aspecto que consideramos na hora de diagnosticar uma dependência psicológica."
Além disso, estudos mostram que o consumo de substâncias para se manter acordado ou para melhorar o desempenho nem sempre tem o efeito desejado. Muitas pessoas passam a reagir impulsivamente. Na hora da prova, elas podem responder rápido demais, o que pode fazer com que elas tenham notas até mais baixas do que as dos colegas.
A tarefa a ser cumprida também é um fator importante. "Se a tarefa é memorizar números ou cartões de um jogo da memória, o desempenho talvez possa ser um pouco melhorado", diz Schleim. Mas quando se trata de tarefas complicadas ou de planejamento, o uso de medicamentos pode ser contraprodutivo.