Bush quer apoio da Europa e tolera protestos
22 de maio de 2002Em entrevista a correspondentes europeus em Washington, o chefe de Estado norte-americano asseverou que seu país não conseguirá vencer sozinho a "guerra contra o terror". Para ele, o governo de Saddam Hussein é uma "ameaça para a liberdade mundial, a ser levada a sério".
Embora não tenha, no momento, nenhum plano de ataque àquele país árabe, o republicano está considerando todas opções. Bush afirmou ser "óbvio" que consultará seus aliados. Ele exortou seus parceiros na OTAN a "adaptar suas capacidades e orçamentos às novas ameaças".
O presidente negou que hajam dificuldades sérias entre os EUA e a Europa, pois acredita que, no cerne, estas relações continuam "fortes e saudáveis".
Protesto = democracia
Bush também vê com despreocupação as manifestações contra ele, que na terça-feira já reuniram mais de 20 mil em Berlim: "Isto é bom, é democracia." O primeiro-ministro alemão, Gerhard Schröder, apelou aos manifestantes para que ajam pacificamente: "Bush é extremamente bem-vindo na Alemanha." Afinal, os norte-americanos sempre estiveram presentes em Berlim, nas horas críticas, acrescentou o chanceler federal.
Os protestos anti-Bush foram retomados em cerca de 50 cidades alemãs na tarde de quarta-feira (22) e deverão se espalhar por todo o país até as 20h30, hora prevista para chegada do casal presidencial. Para sua segurança, todo o bairro governamental está interditado: o acesso só é permitido aos que lá trabalham ou residem.
Políticos x povo
Por sua vez, boa parte dos políticos alemães reafirma a resistência contra uma intervenção no Iraque. O líder da bancada dos social-democratas no Bundestag (Parlamento federal), Peter Struck, considera "injustificada" uma ação militar contra Bagdá, até "estar comprovado que Saddam apóia ou abriga terroristas do Al Qaeda".
A vice-presidente do Bundestag, Antje Vollmer, acusou Bush de "fundamentalismo" na luta contra o terror. Segundo a política verde, o presidente dos EUA executa "um programa quase missionário contra o mal em pessoa".
Os deputados Hans-Christian Ströbele (Partido Verde) e Carsten Hübner (Partido do Socialismo Democrático) anunciaram que não assistirão ao discurso de Bush no Parlamento. Neste pronunciamento, já considerado histórico, o chefe de Estado deverá expor as bases para uma nova cooperação transatlântica. É a primeira vez que um presidente norte-americano falará no Reichstag.
Já Karl Lamers, porta-voz dos partidos de direita moderada CDU/CSU para assuntos de política externa, teme os efeitos negativos dos protestos contra Bush, que classificou como "um grave erro", pois prejudicariam os interesses da Alemanha.