Burle Marx em Berlim
"Roberto Burle Marx: Modernidade Tropical" é o título da retrospectiva do paisagista brasileiro aberta na capital alemã, cidade onde o filho de um alemão com uma pernambucana descobriu seu interesse pelas plantas.
De volta à Alemanha
Paisagista brasileiro e inventor do jardim moderno, Roberto Burle Marx volta em forma de retrospectiva à cidade onde iniciou seu interesse pela flora: "Roberto Burle Marx: Tropische Moderne" ("Modernidade Tropical") pode ser vista até 3 de outubro no espaço de exposições Deutsche Bank KunstHalle em Berlim. A mostra já esteve em Nova York e, depois da capital alemã, seguirá para o Rio de Janeiro.
Burle Marx
Filho de Willem Marx, um comerciante alemão judeu, e Cecília Burle, uma pernambucana católica, Roberto Burle Marx (1909-1994) nasceu em São Paulo, mas cresceu no Rio de Janeiro. Seu amor pela flora veio da mãe e, ao longo de sua vida, ele projetou mais de 2 mil jardins e descobriu quase 50 novas espécies de plantas. Na foto, Burle Marx segura a flor "Heliconia hirsuta burle marx ii".
Paisagista excepcional
O que diferenciou Burle Marx de outros paisagistas foi não somente o conhecimento profundo de plantas, mas também o fato de ele mesmo cultivá-las no sítio em Barra de Guaratiba comprado com seu irmão Sigfried em 1949. Nessa propriedade no bairro litorâneo do Rio de Janeiro, onde o artista residiu até a morte. hoje se encontra o Centro de Estudos de Paisagismo, Botânica e Conservação da Natureza.
Um brasileiro na Alemanha
Burle Marx cresceu em ambiente artístico, falava seis línguas e se dedicou à música, cantando como barítono. No final dos anos 1920 seu pai o levou a Berlim para tratamento oftalmológico, onde viveu dois anos. No Jardim Botânico da capital alemã, o artista descobriu a flora brasileira, que os europeus já colecionavam há muito. Na foto, vitórias-régias adornam o jardim da Fazenda Vargem Grande.
Brasilidade
De volta ao Rio de Janeiro, em 1930, Burle Marx estudou pintura na Academia de Belas-Artes. Mas não perdeu o interesse pela botânica. É difícil dizer se a pintura o levou à jardinagem ou vice-versa. Na academia, foi contemporâneo de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Era a época da busca do caráter nacional, da "brasilidade". Na foto: o projeto de paisagismo do Palácio Capanema.
O jardim moderno
Burle Marx deve a Lúcio Costa sua primeira grande encomenda: os jardins do antigo Ministério da Educação, primeiro arranha-céu moderno do mundo, projetado em 1936, hoje Palácio Capanema. Influenciado por formas de Hans Arp e Joan Miró, ele resgatou a textura e quebrou a simetria dos jardins franceses. Isso lhe valeu o título de "criador do jardim moderno" pelo Instituto de Arquitetos Americanos.
Paraíso reencontrado
Segundo Burle Marx, a Bíblia "descreve um paraíso em que havia um equilíbrio entre plantas, animais e o homem". Seu objetivo era resgatar esse paraíso perdido com o conhecimento da ecologia e da botânica. Mas o artista também achava que um jardim era algo do homem para o homem. Isso explica os objetos que posiciona em seus projetos, como este, na Fazenda Vargem Grande, em Areias, São Paulo.
O longe e o perto
Influenciado pelo jardim japonês, Burle Marx introduziu os seixos no paisagismo moderno, onde criou formas e texturas que preenchia às vezes com plantas, às vezes com pedras. Para ele, o paisagismo deveria ter uma estrutura básica, o que lhe permitiu transformar seus jardins em pinturas quando observados de longe. Mas, de perto, eles assumem outras dimensões, como no Banco Safra, em São Paulo.
Arquiteto das plantas
Como aqui no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, Burle Marx introduziu a água no jardim moderno, trabalhando com grupos de plantas similares e regionais para facilitar os cuidados de manutenção. Ele também usava muros e paredes para contextualizar espacialmente os jardins, enriquecendo-os com azulejos e resgatando assim uma tradição portuguesa. Suas ideias foram copiadas em todo o mundo.
O belo mais belo
Burle Marx trabalhou com os principais arquitetos de sua época. Neste projeto de Oscar Niemeyer, do início dos anos 1950, ele deixou a natureza ainda mais bela, usando a montanha como pano de fundo, agrupando plantas em texturas e cores, complementando a arquitetura. O paisagista também gostava de ver pássaros em seus jardins, atraindo-os com flores e frutos.
Cores e formas
Seu vocabulário formal, no entanto, não se restringiu aos projetos de paisagismo, estendendo-se por toda sua produção criativa. Variando entre o figurativo e o abstrato, Burle Marx criou os mais diversos objetos, que também utilizava em seus jardins. Nesta foto de 1980, ele pinta uma toalha de mesa em seu ateliê no sítio em Guaratiba. O candelabro é adornado com frutas e flores.
Plantas, joias e pedras
O contraste é uma das principais características formais do trabalho de Burle Marx. As formas desenvolvidas por ele podem ser traduzidas nos mais diversos objetos, de azulejos e pinturas a projetos de jardinagem ou até mesmo joias. Como neste bracelete em ouro e água-marinh, provavelmente desenhado na década de 1960.
Vitrais de sinagoga
Entre os projetos não executados de Roberto Burle Marx, apresentados na mostra do Museu Judaico de Nova York, está o desenho de oito vitrais, projetados em 1985 para a sinagoga Beit Yaakov, no Guarujá, São Paulo. Também aqui se encontra o jogo de formas e cores que caracteriza toda a obra do artista brasileiro.
Do Brasil para o mundo
A calceteria - o famoso mosaico de "pedras portuguesas" - é uma das principais características dos pisos de jardins projetados por Burle Marx nas lajes e cobertas de edifícios, bem como ao longo de calçadões, como este no Biscayne Boulevard, em Miami, nos Estados Unidos. Com pedrinhas brancas, pretas e marrons, Burle Marx deu vida a pisos antes marcados pela monotonia monocromática.
Copacabana
O projeto de renovação urbana dessa parte da orla na zona do sul do Rio de Janeiro se iniciou em 1954 com as obras do aterro do Flamengo e foi concluído em 1970 com o calçadão de Copacabana. Burle Marx foi responsável pelo projeto de paisagismo, como também pelos desenhos abstratos de calceteria que elevaram ainda mais a fama de Copacabana como a praia mais famosa do mundo.