Buchenwald: espaço de memória e aprendizado
15 de julho de 2012Buchenwald foi erigido no ano de 1937 em meio a uma região idílica, procurada por turistas e interessados em caminhar na natureza. No lado norte da edificação, mais fria e com mais vento, era onde ficavam os prisioneiros do campo. Na parte voltada para o sul e com mais entrada de luz, ficava a parte ocupada pela SS e pela direção do campo.
"A existência do campo não era um segredo", diz o historiador Ronald Hirte ao andar pelo local. Ele conta que o prédio antigamente ficava mais visível, antes que o bosque ao redor se tornasse mais denso, como é hoje. Buchenwald, distante 10 quilômetros de Weimar, foi um agouro na vizinhança, um lugar de atrocidades, a respeito do qual as pessoas na "cidade das artes" nem queriam saber.
"Mas muitas empresas usufruíram bem do trabalho dos prisioneiros", conta Hirte. Milhares de pessoas de toda a Europa foram deportadas para Buchenwald a partir de 1937, até onde foram obrigadas a seguir a pé a partir de Weimar. Mais tarde foi criada uma linha ferroviária de ligação com o local, construída pelos próprios prisioneiros, bem como uma estrada, conhecida hoje como "rota do sangue".
Na Appellplatz, uma praça que hoje parece vazia e erma no alto da colina, os prisioneiros permaneciam horas de manhã e à noite para serem contados. No prédio da torre com a inscrição Jedem das Seine (A cada um, o seu), é possível visitar hoje o bunker – uma série de salas pequenas, mal iluminadas e com pouca circulação de ar, nas quais os carcereiros da SS torturavam e matavam os prisioneiros. São lugares claustrofóbicos, opressores, ameaçadores.
Importância da conscientização
Buchenwald é diariamente visitado por pelo menos 20 grupos de escolares. "O interesse tem aumentado e o número de visitantes, crescido", diz o historiador Hirte. Os dois prédios educativos em frente ao memorial também permanecem em grande parte do ano ocupados. São a terceira e quarta gerações do pós-Guerra que frequentam o lugar para aprender sobre o passado.
A equipe do memorial desenvolveu um amplo programa pedagógico, distribui folhetos explicativos e organiza seminários sobre projetos específicos. A proposta não é culpar ou dar lições de moral, diz o diretor da instituição, Volkhard Knigge: "Queremos colocar questões do presente ao passado", diz ele. Violações dos direitos humanos, exclusão, extremismo de direita e nacionalismo são tratados como fenômenos modernos tendo em vista o fundo histórico. "Esta é hoje uma importante tarefa educativa no sentido histórico, político e ético", acentua Knigge.
Lugar histórico como exemplo
Os funcionários do memorial estão sempre se deparando com questões sobre o que mostrar hoje, como comentar a respeito do local, o que é autêntico e o que não é confiável. A proposta é abdicar de efeitos e também da reconstrução. "Não queremos oferecer imagens baratas, que remetam ao quanto era apertado e barulhento lá dentro ou a quanto o odor era desagradável. Hoje não é possível, de qualquer forma, transpor isso ao visitante", fala Ronald Hirte.
O memorial reformado de Buchenwald – um lugar de autoreflexão crítica e histórica, como diz o diretor Knigge – se transformou em modelo para outros países, no sentido de parcerias com outros locais dedicados à memória. "Em diversos lugares do mundo, na América do Sul, em Ruanda, na África do Sul, na Hungria, na antiga Iugoslávia, há pessoas refletindo sobre suas próprias histórias. Apoiamos e encorajamos essa busca por uma cultura própria da memória, por uma cultura que concede às vítimas reconhecimento e respeito, que não omite os crimes do passado, mas os nomeia", fala Hirte.
Na Alemanha, a elaboração do passado nazista se tornou um projeto de relevância para o Estado e, apesar de muita resistência, é hoje uma normalidade na sociedade. "É uma história bem-sucedida, mas não no sentido de se colher folhas de louro por isso. Ainda precisamos da cultura da lembrança para mostrar até onde fomos capazes de ir", conclui Hirte.
De campo de concentração a campo soviético
O memorial lembra, além das vítimas judias do Holocausto, também dos perseguidos políticos de todo o mundo, dos prisioneiros soviéticos de guerra, dos sintos e roma. Nas instalações do local, foram colocadas há poucos anos pedras em memória dos grupos de vítimas que ficaram esquecidos por muito tempo: os desertores da Wehrhmacht, os homossexuais, os testemunhas de Jeová. Nas proximidades, sob árvores num pequeno bosque, há um memorial que lembra o "pequeno campo": um campo de isolamento, para o qual foram deportadas milhares de pessoas de outros campos no Leste Europeu em 1944 e onde ficaram aprisionadas sob condições inimagináveis até a morte.
Em diversas exposições, é possível se informar também sobre o campo especial soviético, que funcionou pouco tempo depois do fim da Segunda Guerra em Buchenwald, mas do qual há muito poucos rastros. Ali foram confinados todos os acusados de colaboração com o regime nazista, embora as suspeitas não se confirmassem em todos os casos. O que não fazia diferença para as autoridades soviéticas: a mera suspeita já era suficiente para o cumprimento de pena de vários anos – um capítulo da história que permaneceu como tabu durante os anos de existência da Alemanha Oriental.
Milhares de pessoas morreram ali de fome e em consequência de enfermidades entre 1945 e 1950, enterradas em valas comuns, hoje transformada em cemitérios. Uma lembrança que transforma Buchenwald em um local que abriga, assim, dois memoriais.
Autora: Cornelia Rabitz (sv)
Revisão: Alexandre Schossler