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Brics: contraponto ao G7, mas sem dar poder a novos membros

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
23 de agosto de 2023

Grupo ganhou importância geopolítica em meio às tensões entre China e EUA e à guerra na Ucrânia. Em relação ao tamanho econômico, Brasil tem uma influência desproporcional – mas a China é quem manda no grêmio.

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Lula, Xi Jinping, Cyril Ramaphosa, Narendra Modi e Serguei Lavrov em Joanesburgo
Líderes dos países do Brics posam para foto oficial em JoanesburgoFoto: Alet Pretorius/AFP

Fazia tempo que um encontro do Brics não chamava tanta atenção quanto este 15º, transcorrido esta semana em Joanesburgo. Representantes de 40 países compareceram, segundo os relatos: além dos cinco membros – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, dezenas de outros que aspiram a ingressar. E ainda os países africanos convidados pelo anfitrião.

A atenção dispensada deve-se sobretudo ao fato de o Brics, sob a liderança – daria para dizer também a pressão – da China, estar se transformando cada vez mais num fórum antiocidental. Se depender de Pequim, o Brics deverá se tornar um fórum institucional antagônico ao G7, dominado pelas democracias ocidentais.

Diante das tensões geopolíticas entre a China e os Estados Unidos, mas também do ataque da Rússia à Ucrânia, é importante para a Europa e para os Estados Unidos observar como o Sul Global se posiciona no Brics.

Pois o grupo dos países do Brics está diante de uma nova fase de desenvolvimento. Eles são cada vez menos o clube dos países de crescimento econômico acelerado. É verdade que o percentual do grupo no PIB mundial passou de 8% para 26% desde 2001, quando o banco de investimento Goldman Sachs criou a sigla – então ainda BRIC, sem o S da África do Sul – para um fundo de investimento.

Só que esse sucesso econômico se deveu sobretudo à China, que produz hoje mais do que as quatro outras economias da sigla somadas.

Se Brasil, Rússia e África do Sul cresceram, em média, menos de 1% nos últimos dez anos, China e Índia cresceram em média 6% ao ano.

Assim, o novo tema que une os países do Brics é a transformação global: os governos do grupo exigem nada menos do que uma nova ordem global num mundo "pós-ocidental".

É essa nova narrativa que une esse grupo heterogêneo: a China, como potência global emergente, quer reunir o maior número possível de países em torno de si para criar um polo antagônico aos Estados Unidos. A Rússia pode, com o Brics, contornar seu isolamento internacional depois do seu ataque à Ucrânia. Já para a Índia, o Brasil e a África do Sul – e também para outros países interessados – o formato oferece a possibilidade de se apresentar como neutro num mundo geopoliticamente dividido.

Mesmo assim, os demais países-membros, exceto a isolada Rússia, não fazem automaticamente causa comum com a China. Eles são globalmente conectados, tanto política como economicamente, e não querem nem arriscar suas relações com o Ocidente nem trocar estas por uma dependência da China.

Por isso esses três países se opuseram, em Joanesburgo, à admissão de novos membros. Concordaram apenas em estabelecer diretrizes e princípios para a expansão do bloco. Com isso, esses três países ganham tempo para tentar controlar o processo. Um grupo maior reduziria a importância política deles.

Pois, na verdade, no Brics, sobretudo Brasil e África do Sul estão jogando numa liga muito elevada se for levado em conta o tamanho das economias. Se países ricos, como a Arábia Saudita, ou grandes, como a Indonésia, forem aceitos, então os dois países-membros menores claramente perderiam influência.

Também por isso novos membros deverão ser aceitos apenas com direito restrito de voto no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), como é chamado o banco de desenvolvimento do Brics.

Mas a China conseguiu o que queria: Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Argentina vão aderir ao grupo a partir do início de 2024. 

Assim, a China mostrou que é quem manda no Brics. Conclusão: o Sul Global também terá de se habituar ao fato de que, entre eles, uma potência mundial é quem dá as cartas.

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Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

 

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.