Brexit preocupa territórios britânicos ultramarinos
28 de setembro de 2019Cerca de cinco semanas antes do planejado Brexit, diminuem as esperanças de um consenso com o Reino Unido, enquanto aumenta a probabilidade de um Brexit sem acordo, o chamado "Brexit duro".
Se, em 31 de outubro, o Reino Unido realmente sair da União Europeia (UE) de maneira desordenada, isso teria consequências dramáticas para os aproximadamente 20 territórios e exclaves britânicos no exterior. Alguns exemplos:
Ilhas Malvinas: Localizado no Atlântico Sul, a cerca de 13 mil quilômetros da Grã-Bretanha, esse arquipélago é quase totalmente dependente de Londres, a Falkland Islands pound tem paridade com a libra esterlina. Como território ultramarino, seus cidadãos não têm direito a voto, nem mesmo no referendo sobre a saída da UE.
As Ilhas Malvinas vivem não apenas da criação de ovinos e da venda de lã, couro e sebo, mas principalmente da pesca. Quase todos os peixes são exportados para a Espanha e de lá para outros países da UE. Um terço dos calamares à venda na Espanha é proveniente das Ilhas Malvinas.
Se acontecer um Brexit sem acordo, súbito os clientes teriam que pagar de 6% a 18% do imposto, encarecendo significativamente os produtos. É questionável se a Espanha ou outros países da UE ainda se interessariam por esses peixes e frutos do mar.
Gibraltar: O território britânico no extremo sul da Espanha votou quase por unanimidade (96%) a favor da permanência na UE. O exclave com cerca de 34 mil habitantes é economicamente dependente da Península Ibérica.
Todos os dias, por volta de 15 mil pessoas atravessam a divisa com a Espanha. Um fechamento de fronteiras, como ocorrido entre 1969 e 1985, teria consequências imprevisíveis.
Nos últimos 300 anos, o território tem sido motivo de disputa entre a Espanha e o Reino Unido. Houve tempos em que a contenda ameaçou se agravar – a questão de Gibraltar foi o último grande obstáculo antes da aprovação do Brexit. Mas Londres e Madri chegaram a um consenso. Assim, as decisões sobre Gibraltar também devem ser aprovadas pela Espanha no futuro.
Anguilla: A cerca de 6.500 quilômetros de Londres se localiza o território ultramarino britânico de Anguilla. Ele está associado à UE e, portanto, intimamente ligado a ela na economia. Apesar da distância em relação ao Reino Unido, a ilha do Caribe seria maciçamente afetada por um Brexit sem acordo.
A maioria dos 13 mil insulanos é contra o Brexit – mas eles não foram consultados. No caso de um Brexit sem acordo, temem não poder mais trabalhar, como fazem atualmente, com a ilha vizinha de Saint Martin, que faz parte do território francês no Caribe. Essa cooperação é imprescindível: muitas importações necessárias – de materiais de construção a água potável – chegam à ilha pelo porto de carga de Saint Martin.
Também em termos de infraestrutura, as consequências se fariam sentir. Os danos causados pelo furacão Irma, no fim de 2017, não foram eliminados, casas e escolas ainda estão parcialmente destruídas. Até agora a UE tem ajudado na reconstrução da ilha – o bloco europeu é o maior doador na ajuda ao desenvolvimento de Anguilla. Ninguém sabe o que vem depois do Brexit. Por esse motivo, ouvem-se cada vez mais vozes a favor de uma independência em relação ao Reino Unido.
Ilhas do Canal: As ilhas no sudoeste do Canal da Mancha e a Ilha de Man, no mar da Irlanda, não fazem parte dos territórios britânicos ultramarinos, mas têm o status especial de dependências da Coroa Britânica. Em outras palavras: a rainha é sua soberana, embora não estejam sob jurisdição do Reino Unido.
Apesar dos pitorescos calçadões à beira-mar, sua principal fonte de renda não é o turismo, mas o sistema tributário. Nas três ilhas (Guernsey, Jersey e Ilha de Man), muitas empresas estrangeiras não precisam pagar nenhum imposto, e tampouco há imposto sobre ganhos de capital e heranças.
Um Brexit agora pode representar grandes problemas para as ilhas. Pois, até agora, elas contaram com a proteção do Reino Unido na UE, o que se perderia numa eventual saída do bloco europeu.
As Bermudas no Atlântico Norte, as Ilhas Virgens Britânicas e as Ilhas Cayman no Caribe, entre outras, igualmente se beneficiam desse modelo de negócios até agora pacífico – ainda.
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