Brasileiros protestam contra a BHP na Austrália
26 de novembro de 2015Vestidos de verde e amarelo e sujos de lama, em alusão ao desastre ambiental de Mariana (MG), brasileiros protestam nesta sexta-feira (27/11) em frente à sede da multinacional anglo-australiana BHP Billiton, em Melbourne, no sudeste da Austrália.
A empresa é acionista, junto com a brasileira Vale, da mineradora Samarco, que despejou bilhões de litros de lama de rejeitos no rio Doce, com o rompimento de duas barragens no início do mês no distrito de Bento Rodrigues, na cidade mineira.
"Sabendo dos enormes lucros da BHP, gostaríamos de pressionar para que haja uma ação da empresa na mesma proporção do que seria feito se a tragédia tivesse acontecido na Austrália", diz o professor da Universidade de Melbourne Alysson Costa, natural de Campina Grande (PB).
"BHP, pague pelo seu crime imundo", "Foi um crime, não um acidente" são alguns dizeres em inglês nos cartazes elaborados por Costa e outros quatro organizadores da manifestação.
A ideia surgiu na comunidade de brasileiros em Melbourne no Facebook para chamar a atenção dos australianos para o desastre. Na página criada para o protesto, australianos demonstram solidariedade e apoio à mobilização.
Na semana passada, outro grupo de brasileiros denunciou o crime ambiental num pequeno protesto na cidade de Perth, na costa oeste australiana, durante um encontro de acionistas da BHP.
Costa diz que a repercussão do desastre ainda é pequena no país. A imprensa australiana tem abordado o aspecto financeiro, com a queda do valor das ações da BHP. Notícias sobre os impactos sociais e ambientais ficam em segundo plano.
"As pessoas se chocam ao ver as notícias e as imagens. Os australianos se impressionam pelo fato de uma companhia australiana estar envolvida num desastre de tamanhas proporções. Entre os brasileiros há um sentimento de luto e indignação", conta.
O grupo cobra ações emergenciais e de longo prazo para apoiar as comunidades atingidas e recuperar o ecossistema do rio Doce e do litoral do Espírito Santo.
"Meu pai estava na barragem na hora do acidente"
Há três meses em Melbourne, a universitária Carina Mol decidiu participar da organização do protesto depois de ver de longe sua cidade natal ser coberta pela lama.
Natural de Mariana, a estudante soube por telefone que o pai, que trabalha para uma empresa terceirizada da Vale numa das barragens atingidas, sobreviveu à catástrofe.
"É extremamente triste imaginar que ao retornar à minha cidade, em vez de ver as montanhas verdes em que passei minha infância, vou encontrar apenas lama", lamenta. "Vários conhecidos perderam seus empregos. Me sinto completamente triste, indignada e na obrigação de agir de alguma forma."
Mobilização em Sidney
Em Sidney, brasileiros também planejam manifestações para as próximas semanas. O principal objetivo será pressionar a empresa a se explicar e arrecadar fundos para serem doados às famílias afetadas.
"Senti a necessidade de ajudar, mesmo estando tão longe", diz o mineiro Augusto Lage, que vive há quase um ano na Austrália. "A comunidade brasileira está extremamente abalada e se sentindo impotente devido à grande distância entre os países."
O publicitário de Belo Horizonte destaca que grandes mineradores na Austrália possuem um forte lobby por empregar milhares de pessoas e desempenhar um papel importante na economia do país.
"Aqui existe uma briga muito grande, pois as grandes mineradoras estão prejudicando drasticamente a fauna e a flora do nordeste australiano, inclusive ameaçando de extinção a grande barreira de corais", afirma. "No caso do Brasil, fica evidente que a BHP está sendo omissa."
A ONU afirmou nesta semana que a resposta da Vale e da BHP ao desastre foi "insuficiente" e "inaceitável".
Nesta quinta-feira, bombeiros encontraram um corpo em Ponte Nova (MG), uma das áreas atingidas pela lama, o que eleva para 13 o número de vítimas. Outras 11 pessoas continuam desaparecidas.