Brasileira de 7 anos ganha fama como pintora na Europa
19 de abril de 2023Uma menina brasileira de 7 anos que mora na região da Baviera está chamando atenção com suas pinturas na Alemanha. Asuka Krach é uma promissora artista que vive na cidade de Augsburg. Os desenhos são uma forma da tímida menina se expressar.
Ela passou a se dedicar de forma séria à pintura quando a chefe do pai dela a presenteou com carvões para desenho. Asuka então presenteou a chefe do pai com um desenho feito com o material. A chefe ficou maravilhada e elogiou a menina, dizendo que a arte dela lembrava a famosa artista plástica mexicana Frida Kahlo. A menina, sem saber quem era Frida Kahlo, perguntou sobre a origem e a arte dela.
Ali brotou um intenso interesse por artistas femininas, que serviram de inspiração para a pintora mirim. "Ela começou a pesquisar, e eu a ajudei a conhecer mulheres de expressão para ela se inspirar", conta a mãe, Juliana Krach. Hoje as principais inspirações da jovem pintora são mulheres. Tarsila do Amaral, Anne Frank, Malala Yousafzai e Frida Kahlo são algumas mencionadas por ela.
Pintar para se expressar
Nascida em Votorantim, no interior de São Paulo, e de família humilde, Asuka foi ainda bebê para a Alemanha. Filha de pai alemão e mãe brasileira, a menina fala os dois idiomas fluentemente. Mesmo assim, sofreu bullying na pré-escola por mesclar palavras das duas línguas e pela pronúncia da língua alemã. Colegas e até professores zombavam dela, diz a menina. "Minha professora era muito má comigo. Eu desenhava na parede do meu quarto, tentando explicar com meus desenhos a dor que eu sentia", conta Asuka.
"Ela se retraiu muito, e só percebemos [o problema] porque ela desenhava as coisas por que passava. Conversávamos, mas ela não queria tocar no assunto. Era pela arte que ela falava", relata Juliana. Por conta disso, Asuka tinha vergonha de ser imigrante.
Foi nas pinturas e desenhos que ela encontrou espaço para ser vista e ouvida. Hoje no ensino fundamental, recebe incentivos. Tanto professores quanto colegas têm um comportamento oposto ao de antes: de acolhimento.
A primeira experiência dela como pintora ocorreu quando ela visitou o Centro Anne Frank em Berlim. Lá resolveu fazer um retrato da jovem judia ícone da resistência ao nazismo. O curador do local gostou tanto que resolveu deixar exposto para que outros visitantes pudessem ver.
A mãe então começou a postar nas redes sociais as pinturas da filha e a postar fotos dela com suas pinturas diante de cartões postais da Alemanha, como o Portão de Brandemburgo, em Berlim. Com a repercussão, Asuka recebeu um convite para realizar a exposição de sua primeira obra no Grand Hotel de Augsburg.
Presentes a autoridades
Foi na escola que ela descobriu que a encarregada para Cultura do governo da Alemanha é uma mulher, a ministra Claudia Roth. Ela então sugeriu à mãe presenteá-la com um quadro. A família enviou o presente ao gabinete da ministra, contando a história da pequena pintora e recebeu como resposta que Roth participaria em breve de um evento na catedral Augsburg.
"Ela ficou muito feliz por conhecer a ministra e ver de perto uma mulher numa posição tão elevada na sociedade. Até disse que queria um dia ser assim", relata a mãe.
Com incentivo de professores e familiares, a promissora pintora foi se desenvolvendo. Um dos sonhos de Asuka era conhecer sua obra de arte preferida: a Mona Lisa.
Juliana então mandou um e-mail ao Museu do Louvre, em Paris — onde o quadro está exposto — perguntando se havia algum programa para crianças estudarem arte na instituição e assim também poderem aproveitar para conhecer a famosa obra de Leonardo da Vinci. Ao receber uma resposta negativa, Asuka ficou chateada.
Ela então quis enviar um quadro de presente ao presidente francês, Emmanuel Macron, para sensibilizá-lo a criar um programa como esse. O gabinete de Macron recebeu a mensagem com entusiasmo e elogiou a atitude de Asuka. A pintura feita especialmente para ele é um retrato do presidente com elementos indígenas, como um cocar e pinturas faciais.
Segundo Asuka, serve para lembrar que a França deve apoiar a preservação da Amazônia . As manchas negras no retrato são as cinzas causadas pelas queimadas na floresta, explica a menina.
"Ela já tem uma consciência social enorme. Eu a apoio em tudo porque sabemos que ela está tendo uma chance que nem toda criança vai ter e tem que viver isso com felicidade, sendo ela mesma", diz a mãe.
Saudades do Brasil
Um quadro em que Asuka representa sua tristeza mostra três bandeiras: a da Ucrânia— por conta da guerra no país —, da Turquia — devido ao terremoto em fevereiro deste ano — e a do Brasil. A do país natal contém a expressão "ha ha" para representar a dor da saudade de estar dando gargalhadas com os avós maternos e de comer brigadeiro de panela e coxinha.
"Ela é muito brasileira, ela se orgulha de saber que a bisavó é indígena e tem uma forte consciência do que se passa na Amazônia", relata Juliana.
Se antes tinha vergonha de ser imigrante, hoje não tem mais. Tímida, Asuka compartilha seu maior sonho. "Ter minha própria galeria um dia e inspirar mais crianças no mundo inteiro. Por que no fim tudo dá certo."