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Brasil teve recorde de ataques à imprensa em 2020, diz Fenaj

26 de janeiro de 2021

Fenaj aponta 428 casos de agressões a jornalistas, mais que o dobro do ano anterior. Bolsonaro lidera ataques, e entidade associa explosão de casos a ações do presidente para desacreditar a mídia.

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O presidente Jair Bolsonaro conversa com uma multidão de jornalistas
Foto: Alan Santos/Presidência da República do Brasil

O Brasil foi novamente palco de uma intensa campanha de ataques à liberdade de imprensa em 2020, aponta relatório divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) nesta terça-feira (26/01). Ao todo, foram 428 ataques contra jornalistas, veículos e a imprensa em geral. Entre os ataques estão agressões verbais, físicas e virtuais, censura, intimidações, ameaças, assédio judicial, atos de descredibilização da imprensa e até assassinatos.

O número é 105,77% superior ao registrado em 2019, quando a entidade listou 208 ocorrências. É o número mais alto desde 1990, quando a Fenaj começou a coletar os dados.

Segundo a entidade, tal como ocorreu em 2019, o presidente Jair Bolsonaro foi mais uma vez o principal ator dos ataques, sendo responsável por 175 casos (40,89% do total). Nesse cálculo estão 145 ataques genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas; 26 casos de agressões verbais; um caso de ameaça direta a jornalistas; uma ameaça à TV Globo; e dois ataques à Fenaj.

A entidade ainda aponta que o comportamento e as políticas de Bolsonaro também continuam a incentivar em 2020 que seus auxiliares e apoiadores "adotassem a violência contra jornalistas como prática".

"A explosão de casos está associada à sistemática ação do presidente da República, Jair Bolsonaro, para descredibilizar a imprensa, e à ação de seus apoiadores contra veículos de comunicação social e contra os jornalistas. Ela começou em 2019 e agravou-se em 2020, quando a cobertura jornalística da pandemia provocada pelo novo coronavírus foi pretexto para dezenas de ataques do presidente e dos que o seguiram na negação da crise sanitária", aponta a federação.

A entidade também lista 32 casos de agressões físicas a jornalistas. O relatório destaca casos de repórteres agredidos por apoiadores de Bolsonaro nos atos golpistas que ocorreram no primeiro semestre de 2020.

Ataques

Entre os 76 ataques verbais ou virtuais a jornalistas, a entidade destaca falas de Bolsonaro. Em fevereiro, por exemplo, o presidente insinuou de maneira mentirosa que a repórter Patrícia Campos Melo, da Folha de S. Paulo, trocou favores sexuais por informações contra o presidente. O ataque sexista causou ampla condenação à época. Não foi o único.

Em maio, em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente mandou um jornalista da Folha "calar a boca". Bolsonaro também fez vários ataques a jornalistas em suas lives semanais. Entre os alvos regulares do presidente estão os jornalistas Guilherme Amado, da revista Época, e Vera Magalhães, que ao longo de 2020 atuou no jornal O Estado de S. Paulo e agora está no Grupo Globo.

Já entre os ataques virtuais, o relatório destaca o caso da repórter fotográfica Gabriela Biró, do jornal O Estado de S. Paulo, que teve seus dados pessoais vazados em redes sociais por um apoiador de Bolsonaro. Foram divulgados os números do RG e CPF, além de endereço e telefone da jornalista.

Intimidação e censura

Entre os 34 casos de intimidação ou ameaças registrados em 2020, o relatório menciona dois pedidos de inquérito apresentados pelo ministro da Justiça, André Mendonça, contra os colunistas Ricardo Noblat, da revista Veja, e Hélio Schwartsman, da Folha, além do chargista Aroeira.

Nos casos de censura listado pela Fenaj, a situação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ligada ao governo, recebeu destaque negativo. Foram 76 casos do tipo na empresa, que deixou de publicar reportagens que desagradem o governo e vetou até mesmo a expressão "ditadura" para se referir ao regime militar em suas reportagens.

A Fenaj ainda citou que ocorreram dois assassinatos de jornalistas em 2020, mesmo número de 2019.  O relatório afirma que "o registro de duas mortes de jornalistas, por dois anos seguidos, é evidência concreta de que há insegurança" para o exercício profissional.

Os jornalistas assassinados em 2020 foram Léo Veras, que publicou reportagens sobre crime organizado na fronteira com o Paraguai, e Edney Neves, que atuava na campanha à reeleição da prefeitura de Peixoto de Azevedo (MT).

jps/ek (ots)