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HistóriaBrasil

Brasil relutou até entrar na Guerra ao lado dos Aliados

6 de maio de 2015

Dividido entre correntes pró-Eixo e favoráveis aos Aliados, o Estado Novo somente se decidiu quando já não havia mais opção por causa do forte envolvimento dos EUA. Ainda assim, conseguiu uma vantagem econômica: a CSN.

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Getúlio Vargas (esq.) e Franklin D. Roosevelt conversam a bordo de um destróier americano em Natal, em 1943
Getúlio Vargas (esq.) e Franklin D. Roosevelt conversam a bordo de um destróier americano em Natal, em 1943Foto: picture-alliance/United Archives/WHA

O Brasil declarou guerra às potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 22 de agosto de 1942, depois de sucessivos ataques de submarinos alemães e italianos a navios da Marinha Mercante brasileira.

Apesar de incidentes com navios brasileiros no exterior serem registrados desde 1940, uma decorrência até previsível do clima de guerra que já dominava o mundo, foi só após o Brasil romper relações diplomáticas com as potências do Eixo, em 28 de janeiro de 1942, que Alemanha e Itália passaram a atacar de forma sistemática e com a clara intenção de afundar as embarcações brasileiras.

Entre maio e julho, 14 navios foram afundados. Até então, o número de mortos era inferior a dez, e a maioria eram marinheiros. Ainda que repudiáveis, os ataques não tiveram força suficiente para levar o Brasil à guerra. Foram os sucessivos e trágicos ataques de agosto de 1942 que provocaram uma radical mudança na opinião pública brasileira e obrigaram o governo, até então relutante, a se envolver no esforço de guerra.

No período de quatro dias, apenas um submarino alemão, o U-507, afundou cinco navios e um barco, matando mais de 600 pessoas, incluindo muitas mulheres e crianças. Naquela época, viajar de navio era uma opção barata para quem precisava vencer as grandes distâncias brasileiras, e muitos optavam por esse meio de transporte.

As fotos de pessoas mortas na praia e os relatos na imprensa criaram um ambiente favorável à guerra no país. Passeatas e manifestações exigindo uma resposta do governo aconteceram no Rio de Janeiro, então capital da República, e deram fôlego à corrente pró-Aliados dentro do regime ditatorial do Estado Novo, que por muito tempo esteve em desvantagem perante a corrente pró-Eixo.

A Alemanha e o Estado Novo

Ainda que as origens autoritárias do Estado Novo remetam ao positivismo gaúcho e não ao fascismo europeu, é inegável que seu caráter ditatorial o aproximava muito mais da Itália fascista e da Alemanha nazista do que da democracia americana. E, de fato, esses regimes autoritários desfrutavam de amplas simpatias dentro do governo brasileiro.

O ministro da Justiça, Francisco Campos, autor da Constituição ditatorial pejorativamente chamada de "Polaca", era um notório admirador de Mussolini. O ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, não escondia suas simpatias por Hitler, assim como o chefe do Estado-Maior, Góes de Monteiro, e o chefe da polícia da capital, Filinto Müller. Dutra e Monteiro chegaram a ser condecorados pelo Terceiro Reich com a maior distinção possível dada a estrangeiros.

O Exército tinha um enorme poder no regime do Estado Novo. Sem o seu apoio, Getúlio Vargas não conseguiria manter-se no poder, o que aliás ficou evidente em 1945, quando os militares o depuseram. Assim, as inclinações pró-Eixo da cúpula do Exército davam um viés claramente fascista ao governo brasileiro, apesar de o governo Getúlio ter, também, adotado medidas claramente desfavoráveis a Berlim, como a proibição do Partido Nazista e o processo de nacionalização das colônias alemãs no sul do Brasil.

A Alemanha era ainda a principal fornecedora de armas para o Exército, em franco contraste com a postura relutante dos Estados Unidos, e tinha ainda um grande peso nas relações comerciais, como principal origem das importações brasileiras e segundo principal destino das exportações.

O único ponto de contato dos Aliados – principalmente dos Estados Unidos – dentro do núcleo central do governo era o Ministério das Relações Exteriores, comandado pelo chanceler Oswaldo Aranha, ex-embaixador nos Estados Unidos. Aranha era, por assim dizer, um contraponto à forte influência alemã no regime.

Com Getúlio acenando publicamente para o Eixo – e Aranha negociando nos bastidores com os Estados Unidos – o Brasil passou os anos que antecederam o início da Segunda Guerra Mundial e os primeiros anos do conflito numa posição de ambiguidade em relação às potências conflitantes, posição que refletia as divisões internas do governo. Mas muitos historiadores também veem pragmatismo nessa postura.

Getúlio inspeciona as Forças Armadas em Natal, sentado atrás de Roosevelt, em 1943
Getúlio (de chapéu branco e óculos) inspeciona as Forças Armadas em Natal, com Roosevelt (sentado ao lado do motorista)Foto: picture-alliance/AP Photo//U.S. Army Air

Guinada para os EUA

Primeiro, tanto os Estados Unidos (que, mesmo não estando em guerra, já agiam ativamente no apoio aos aliados europeus) como a Alemanha eram parceiros comerciais importantes. Até meados de 1942, não era possível saber o desfecho da guerra, e muitos apostavam numa vitória alemã. Assim, manter-se neutro era uma maneira de não ficar mal com nenhum dos lados.

Segundo, o Brasil tinha um trunfo que interessava aos dois lados: o Nordeste, mais precisamente Natal e Fernando de Noronha, de importância estratégica para o apoio às operações militares no norte da África. E o governo Getúlio usou esse trunfo para obter vantagens econômicas. Um empréstimo do governo americano possibilitou a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, o berço da industrialização brasileira. A outra opção era a Alemanha, com a participação da Krupp.

A contrapartida à CSN foi o alinhamento gradativo e definitivo do Brasil aos Aliados manifesto inicialmente nas construções de bases militares americanas em solo brasileiro (Natal) e, depois, na criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A famosa visita dos presidentes Franklin Delano Roosevelt e Getúlio Vargas a Natal, já em janeiro de 1943, serviria para acertar detalhes da participação brasileira.

Com o ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, e a entrada oficial dos americanos na guerra, a posição pró-Aliados dentro do governo brasileiro se tornaria ainda mais forte, pois o interesse dos Estados Unidos pelo que acontecia no continente americano era cada vez maior.

Assim, em 28 de janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações com os três países do Eixo, e, no final de agosto do mesmo ano, declarou guerra à Alemanha e à Itália. A FEB, porém, seria criada apenas um ano depois, e iria se unir ao esforço de guerra em julho de 1944, a menos de um ano do final do conflito.