Brasil entra definitivamente na mira das montadoras alemãs
6 de outubro de 2013Nas últimas semanas, as montadoras alemãs Volkswagen, Audi e Daimler anunciaram investimentos no Brasil que, somados, chegam a 1,5 bilhão de reais. O montante anunciado por cada marca é de cerca de 500 milhões.
"O Brasil será um importante mercado no futuro. Com a produção local, nós vamos participar disso", afirmou o diretor mundial de produção da Daimler, Andreas Renschler, ao lado da presidente Dilma Rousseff, nesta terça-feira (01/10), ao confirmar uma fábrica em Iracemápolis, no interior de São Paulo.
Dois dias depois, foi a vez de o presidente da Volkswagen, Thomas Schmall, unir-se ao coro. "Quarenta por cento dos brasileiros hoje não conseguem comprar carro, o que significa um potencial e um mercado muito grande", disse ele, que também havia se reunido com Dilma para comunicar os planos da montadora para a fábrica em São José do Pinhais, no Paraná.
A Volks foi a quarta montadora alemã a dar esse passo no intervalo de um ano. A primeira havia sido a BMW, que anunciara uma fábrica em Santa Catarina em outubro de 2012. Duas semanas atrás, foi a vez de a Audi comunicar novos investimentos na fábrica que mantém em parceria com a Volks em São José dos Pinhais.
Quarto maior mercado de automóveis do mundo
Os números falam por si: o Brasil se tornou o quarto maior mercado de automóveis do mundo. Nos últimos dez anos, o número de carros registrados no país quase dobrou.
"Mas o negócio do carro não é fácil no Brasil", afirma o especialista em indústria automotiva da Universidade de Duisburg-Essen, Ferdinand Dudenhöffer. "Se você importar veículos, são cobradas taxas de até 30%, então é necessário ter a produção no país", diz.
Além disso, há o "efeito ioiô", comenta Dudenhöffer: "O Brasil sempre foi um mercado de relativa instabilidade, com altos e baixos". Contudo, o especialista em automóveis diz que, com cerca de 3,6 milhões de novos registros por ano, o mercado se tornou muito interessante para as montadoras.
Difícil acesso ao mercado
Mas BMW, Audi e Daimler não pretendem que seus veículos sejam fabricados integralmente no Brasil. Na maioria dos casos, trata-se do sistema CKD, do inglês complete knocked down, que significa que os carros são importados como kits completos e montados no país. Isso é suficiente para contornar as altas taxas alfandegárias.
Entretanto, a Audi planeja produzir o modelo Q3 no sistema semi knocked down, em que os componentes do veículo são parcialmente comprados ou fabricados no país. Por ser uma subsidiária da Volkswagen, a Audi tem a vantagem de ter a maior fabricante de automóveis do país do Brasil como aliada.
A Volks, por sua vez, quer produzir a sétima geração do Golf no Brasil. O modelo, segundo Schmall, é o melhor da empresa. De acordo com ele, as unidades produzidas no Paraná serão idênticas às alemãs.
Tendência de SUV compacto
Impression que três marcas estejam apostando no SUV compacto (sigla em inglês para veículo utilitário esportivo). A Daimler planeja fabricar o GLA; a Audi, o Q3; e a BMW deve produzir o X1.
O executivo da Audi Bernd Martens está convencido dessa estratégia: "Nas taxas de crescimento do Brasil, particularmente dos veículos mais caros, o segmento de SUV é de grande importância", argumenta.
A Daimler se afastou da sua estratégia antiga de produzir carros compactos. A empresa já fabricou automóveis no Brasil entre 1999 e 2010, incluindo o Classe A. A antiga fábrica de carros foi renovada e passou a produzir caminhões em 2012. Esse é o caminho certo, afirma o especialista em automóveis Ferdinand Dudenhöffer: "Os modelos atuais são certamente mais adequados aos novos mercados mundiais que o antigo Classe A."