Brasil e Alemanha querem estimular pequenas e médias empresas
14 de maio de 2013Se as pequenas e médias empresas alemãs (PMEs) já nascem olhando para o mercado internacional, as brasileiras, focadas no mercado interno, poderiam olhar mais para fora. “A empresa brasileira tem o mercado local, mas é preciso desenvolver uma cultura de mercado internacional”, diz Alex Figueiredo, gerente do Escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (APEX-Brasil) na Europa, durante um dos painéis do 31º Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA), que reuniu cerca de 2.500 participantes em São Paulo nestes últimos dois dias (13 e 14/05).
Responsáveis por cerca de 60% do Produto Interno Bruto da Alemanha, as PMEs foram um dos principais destaques do EEBA, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) do Brasil, a homóloga alemã BDI e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
Apesar de não ter uma “mentalidade exportadora” como a que existe tradicionalmente na Alemanha, as empresas brasileiras estariam começando a mudar, disse Bodo Liesenfeld, presidente da empresa alemã Liesenfeld International, com sede em Hamburgo. “A internacionalização não é apenas uma questão de mentalidade, é também uma questão de competitividade, composta pela qualidade dos produtos e serviços oferecidos no mercado internacional, combinada com os preços”, afirmou o empresário.
Ele lembrou o desenvolvimento de motores automotivos flex no Brasil como exemplo de tecnologia e criatividade presentes no país. Liesenfeld também exortou a iniciativa privada dos dois países a ter “coragem para assumir mais riscos”, construindo uma cultura de “criadores de empresas”.
Dificuldades para atingir o mercado internacional
Já Reinhold Festge, presidente da Latin America Initiative of German Business (LAI), destacou que as PMEs brasileiras enfrentam dificuldades com o câmbio, mesmo que, para ele, esta seja uma “fase que deverá passar daqui a cerca de dois anos”.
“Ao contrário de 2011, quando o Brasil tinha uma vantagem de cerca de 20% sobre a produção alemã, o país agora está em desvantagem, porque a produção de bens na Alemanha é mais barata. Um dos motivos é a taxa de câmbio que prejudica o Brasil”, disse Festge, retomando um dos pontos citados pela presidente Dilma Rousseff na abertura do evento.
Com a desvalorização artificial das moedas de países ricos por meio de "injeções monetárias", a competitividade dos produtos brasileiros estaria sofrendo, disse a presidente brasileira, lembrando uma questão que a opôs à chanceler alemã Angela Merkel no ano passado, quando esta visitou o Brasil.
Com o salto econômico do país nos últimos anos, os salários de profissionais brasileiros também teriam aumentado muito. “Uma empresa alemã que quer se estabelecer no Brasil, hoje, pensa em expatriar profissionais e suas famílias porque ficou caro recrutar aqui”, exemplificou Festge, que ainda indicou que as empresas brasileiras precisam encontrar nichos onde não tenham tanta concorrência internacional.
“No ramo da tecnologia, é difícil competir com um país como a Alemanha. E as empresas brasileiras só podem ficar melhores se tiverem apoio do Estado, uma legislação tributária coerente e quando é possível exportar”, afirmou Festge, dizendo que “os portos brasileiros estão entupidos e não conseguimos entregar os produtos”.
Na segunda-feira, a Câmara dos Deputados brasileira iniciou uma segunda tentativa de votar a medida provisória dos portos, que prevê o estímulo à concorrência entre terminais públicos e privados pelo governo e que foi criticada por empresas que atuam em portos públicos porque estes perderiam competitividade para os privados.
Parceria mais intensa para estimular desenvolvimento
Do lado brasileiro, uma parceria mais intensa com a Alemanha, como a anunciada por Dilma na abertura do EEBA, poderia alçar o país a um patamar de maior importância internacional. “O Brasil tem que investir no aparelho produtivo”, disse Thomas Schulthess, presidente da SoWiTec do Brasil Energias Alternativas, em entrevista à DW após um workshop que discutiu os desafios – especialmente econômicos – ligados ao setor de eficiência energética.
Para Schulthess, o setor petrolífero brasileiro, no qual faltam refinarias, “mostra a necessidade de eficiência no Brasil para exportar produtos".
"Francamente, estou vendo poucos produtos industrializados no Brasil que tenham um padrão mundial. Falta qualidade, falta muita coisa para o Brasil virar uma potência industrial”, afirma.
Por isso, uma maior cooperação entre a Alemanha e o Brasil seria de ganho para os dois lados, diz Schulthess – não só no setor das energias renováveis, no qual o Brasil também pode oferecer know how para o país europeu, que quer deixar de usar a energia nuclear até 2022. Outros nichos para parcerias são a gestão de megaprojetos e a administração de cidades, temas também abordados durante o EEBA.
No encerramento do encontro, o embaixador Eduardo dos Santos, secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, afirmou ter feito uma “proposta concreta de constituir um fórum de especialistas do governo, da iniciativa privada e da indústria” para discutir a tecnologia e a inovação, um outro destaque do EEBA. Empresários reunidos na plenária de encerramento citaram a importância da formação e da educação de empresários em vários setores, dando o exemplo da formação dual alemã, que prepara estudantes tanto para universidades quanto para capacitações técnicas.
Entre os problemas da cooperação bilateral, Santos citou o acordo de bitributação entre Brasil e Alemanha, que segundo ele ainda precisa de um “denominador comum”.