Brasil desaba em ranking de liberdade de expressão
29 de julho de 2021O Brasil atingiu em 2020 sua pior pontuação no Ranking Global de Liberdade de Expressão elaborado anualmente desde 2010 pela ONG Artigo 19. Com apenas 52 pontos numa escala de zero a 100, o país apareceu na 86ª posição entre os 161 países analisados, abaixo de nações como Haiti e Albânia.
Em sua primeira edição, em 2010, a ONG havia atribuído 89 pontos ao Brasil. A escala de pontos é elaborada a partir de 25 indicadores de liberdade de expressão, sendo zero a categoria de um país em crise na liberdade de expressão e 100, a de total liberdade.
Países que somam entre 80 e 100 pontos são classificados na categoria liberdade de expressão aberta. Pela sua posição atual, abaixo de 60 pontos, o Brasil é classificado como país de expressão "restrita".
Segundo a ONG, apenas um punhado de países ou territórios registrou um declínio tão acentuado na sua pontuação em uma década: Hong Kong, Índia, Nicarágua e Filipinas. Dos 37 pontos perdidos pelo Brasil ao longo de dez anos, 33 foram eliminados nos últimos cinco anos, período que coincide com o início da crise política que resultou na ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência.
O relatório da Artigo 19 destaca o papel do presidente brasileiro na deterioração do estado de liberdade de expressão no país. O documento acusa o governo Bolsonaro de falta de transparência, ataques a jornalistas, disseminação de notícias falsas e de dificultar acesso a informações públicas, uma tendência que se acentuou durante a pandemia.
Segundo a ONG, em 2020 Bolsonaro emitiu 1.682 declarações falsas ou enganosas – uma média de 4,3 por dia. No ano anterior, foram cerca de 500 declarações do tipo.
Na quarta-feira, por exemplo, o presidente foi desmentido mais uma vez pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por espalhar mentiras sobre uma decisão da Corte em relação à autonomia de governadores e prefeitos para lidar com a pandemia.
Bolsonaro também tem espalhado mentiras sobre o processo eleitoral e o impacto da pandemia. Recentemente, membros do círculo do presidente chegaram a forjar um documento sobre a contagem de mortes por covid-19 que depois foi falsamente atribuído ao Tribunal de Contas da União (TCU). Bolsonaro propagandeou a falsificação.
Ataques à imprensa e desinformação
O relatório ainda destaca ataques de Bolsonaro e membros do governo contra profissionais da imprensa, que são especialmente dirigidos contra mulheres. Segundo a ONG, uma campanha governamental contra a imprensa nessa escala não era vista desde o fim da ditadura (1964-1985).
"Em 2020, a Artigo 19 registrou 464 declarações públicas que atacavam ou deslegitimizavam jornalistas e seu trabalho feitas pelo presidente da República, seus ministros ou seus assessores próximos. Os filhos de Bolsonaro, que ocupam cargos públicos, perpetraram muitos ataques. Essas atitudes influenciam as autoridades locais e se manifestam em atitudes, assédio e ações judiciais contra jornalistas. Esse nível de agressão pública não era visto desde o fim da ditadura", aponta o relatório.
A ONG ainda destaca a crescente deterioração do acesso a dados públicos no Brasil, apontando que Bolsonaro vem criando um ambiente de informação extremamente restrito.
O relatório destaca, por exemplo, a tentativa do Ministério da Saúde de esconder o total de mortes causadas pela covid-19, apontando que esse tipo de iniciativa só tem paralelos com ações tomadas pelas ditaduras do Irã e de Belarus.
A ONG ainda exemplificou as crescentes restrições a dados governamentais, apontando que somente 15% dos seus pedidos de informação foram respondidos na íntegra – e que 35% foram respondidos com informações incorretas.
Na quarta-feira, a organização não governamental Repórteres sem Fronteiras (RSF) apontou que registrou 87 ataques feitos pelo presidente Bolsonaro à imprensa no primeiro semestre de 2021, uma alta de 74% em relação ao segundo semestre do ano passado. No início do mês, a ONG incluiu Bolsonaro numa lista de 37 líderes de todo o mundo que a RSF considera "predadores da liberdade de imprensa". Além de Bolsonaro, a relação inclui ainda os chefes de Estado da Síria, Bashar al-Assad, e da China, Xi Jinping.
jps (ots)