Literatura brasileira
13 de outubro de 2011"Em 2014, o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol. Mas, para nós da literatura, a Copa do Mundo será em 2013, em Frankfurt." Assim o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, abriu o anúncio do novo Programa de Incentivo à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior durante o primeiro dia da Feira do Livro de Frankfurt, nesta quarta-feira (12/10).
Tendo em vista a participação do Brasil como país homenageado da maior feira do livro do mundo em 2013, o governo brasileiro investirá R$ 12 milhões em bolsas de tradução concedidas a editoras estrangeiras. O programa faz parte de um conjunto de ações com o objetivo de internacionalizar a literatura do Brasil, um dos dez maiores produtores de livros do mundo.
Programas semelhantes já existiam no Brasil, mas não com tal dimensão: o valor investido anualmente pela Fundação Biblioteca Nacional – um órgão do Ministério da Cultura – até 2020 é dez vezes maior que o concedido a incentivos de traduções nos últimos dez anos. Além disso, o programa promete ser ininterrupto, permitindo inscrições a qualquer momento durante a próxima década.
Entre 2011 e 2013 – quando, depois da Índia, o Brasil será o segundo país a ser homenageado duas vezes na Buchmesse (a primeira foi em 1994) – serão investidos R$ 3,2 milhões, com bolsas entre 2 mil e 8 mil dólares por obra, dependendo da dimensão.
Além das bolsas de tradução para todos os gêneros literários, o programa concederá apoio financeiro à reedição de títulos já traduzidos – entre 500 e 4 mil dólares. O orçamento do programa aumentará progressivamente – passando de um total de R$ 1,1 milhão em 2011 para R$ 1,4 milhão em 2020.
"A literatura tem um papel importante na difusão da cultura brasileira. Ela transmite o modo de pensar, de viver e de encarar o mundo dos brasileiros, mostrando que o país tem muito mais a oferecer do que futebol e carnaval", afirma Amorim.
O programa havia sido anunciado no Brasil durante a Festa Literária de Paraty (Flip), em julho, e a Feira do Livro de Frankfurt foi tomada como oportunidade para chamar a atenção de editoras estrangeiras para a iniciativa. Além de Amorim, discursaram Renato Prado Guimarães, ex-cônsul geral do Brasil em Frankfurt, e Danilo Zimbres, vice-cônsul do Brasil em Frankfurt.
Brasil e Alemanha
Paralelamente ao anúncio do programa de fomento à tradução, também foi lançado na feira o Diálogo Literário Brasil-Alemanha, uma espécie de fórum entre autores, editores, tradutores e agentes literários dos dois países. O objetivo é efetivar parcerias, com apoio do programa de tradução do governo.
Zimbres explica que tais iniciativas fazem parte de um esforço do Brasil para estreitar relações com a Alemanha. "Também pretendemos ter uma presença internacional constante no âmbito da cultura, que ajude a projetar uma imagem mais positiva e menos estereotipada do Brasil, condizente com a realidade do Brasil moderno", considera.
O foco específico na Alemanha, parceiro estratégico do Brasil, faz parte dos preparativos para a presença do Brasil como homenageado da feira de 2013. "Queremos estimular a tradução de livros brasileiros para o alemão, um idioma importantíssimo", diz Zimbres, ressaltando que, paralelamente, em 2013 será comemorado o Ano da Alemanha no Brasil. "É um momento muito rico de aprofundamento do diálogo e dos laços culturais entre os dois países."
"A Alemanha representa uma porta de entrada para o mercado mundial de livros por conta da sua importância na área. Para nós, brasileiros, além de ser a maior feira de livros do mundo, esta feira é um trampolim para a internacionalização de nossa literatura", completa Amorim.
Impacto positivo
O tradutor alemão Michael Kegler, que viveu no Brasil quando criança e hoje traduz do português para o alemão, também aposta na ação do governo brasileiro. Ele será o representante do Diálogo Literário Brasil-Alemanha no país europeu.
Kegler conta que a maioria dos livros que traduziu foi escrita em outros países lusófonos, já que Portugal apoiava a tradução de autores portugueses e africanos, enquanto faltava suporte do governo brasileiro. "Quando traduzi o livro Notícias do Mirandão, do brasileiro Fernando Molica, fiz um requerimento para uma bolsa de tradução ao governo brasileiro e não obtive nem resposta."
Para Kegler, o Brasil precisava lançar um programa de financiamento de traduções confiável. "E é o que está fazendo agora. Por isso me envolvi no programa. Como tradutor, quero ajudar a levar esse dinheiro às mãos certas." Com a divulgação do programa, Kegler conta que já está negociando a publicação de obras brasileiras na Alemanha.
O tradutor diz ainda que, com a homenagem ao Brasil em 2013 e as novas bolsas de tradução, a Alemanha percebeu que o cenário literário brasileiro está num ponto alto. Num levantamento realizado por ele, o alemão verificou que apenas 61 títulos do Brasil estão disponíveis nas livrarias da Alemanha hoje. Entre eles, 39 são de Paulo Coelho, que "é considerado um autor universal e não identificado como brasileiro". Mas Kegler está convencido de que haverá uma mudança nesse cenário.
Entre os editores brasileiros, também há otimismo. Alexandre Dórea, da editora DBA, considera que o programa poderá facilitar as negociações para a venda de direitos sobre títulos brasileiros a editoras estrangeiras. Presente regularmente na Feira do Livro há 20 anos, o editor vê um maior interesse pelo Brasil no momento.
"O Brasil é visto como um país cool, jovem, bacana. Surfando agora numa onda de desenvolvimento econômico, tudo o que está ligado ao Brasil é visto com maior simpatia, tem maior penetração", diz.
Bruno Zolotar, diretor de marketing da editora Record – que já teve mais de cem de seus títulos traduzidos do português para outros idiomas – diz ter sentido um aumento do interesse pelo país de 2010 para este ano, pelo fato de ter sido anunciado como homenageado da Feira do Livro de 2013. Ele também aposta num incremento da visibilidade da literatura nacional através das bolsas de tradução propostas pelo governo.
"Seria bom se houvesse um programa assim em todo o mundo", diz Sabine Schneider, agente literária alemã em busca de títulos brasileiros para publicar no país da Feira. "O programa vai ajudar a mostrar a multiplicidade da cultura brasileira para além dos clichês", acrescenta a escritora brasileira Regina Drummond, que pela primeira vez terá um livro traduzido para o alemão neste ano.
Internacionalização da literatura
Segundo Amorim, Frankfurt servirá de largada para o processo de internacionalização da literatura brasileira. Antes mesmo de ser o país homenageado em 2013, ele já está ampliando sua presença na maior feira do livro do mundo. De 2010 para 2011, o espaço dedicado ao estande do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt foi ampliado em 50%, com livros de mais de 50 editoras em exposição.
Além do fomento à tradução e a reedição de obras já traduzidas, dentro da estratégia de internacionalizar a literatura brasileira, o governo prevê uma série de outras ações. Entre elas há o plano de promover intercâmbios de tradutores alemães no Brasil, para que conheçam a realidade do país. Também será lançada uma revista trimestral com os primeiros capítulos de novas obras brasileiras traduzidas, em inglês e em espanhol, e será incentivada a publicação de livros brasileiros nos demais países lusófonos.
Especificamente sobre o fomento à tradução, Amorim destaca que a meta é conceder mais de cem bolsas por ano e conseguir que no mínimo mil obras sejam traduzidas nos próximos anos. "Peço que vocês me ajudem a gastar esse orçamento de 7,6 milhões de dólares. Mas a gastar bem, para que possamos ampliar cada vez mais esses recursos", disse o presidente da Biblioteca Nacional durante o anúncio do programa em Frankfurt, para o qual foram convidadas diversas editoras alemãs.
As inscrições para o programa de bolsas estão abertas no site da Biblioteca Nacional desde julho. As propostas serão avaliadas a cada três meses. As editoras estrangeiras receberão 50% do fomento no momento da aprovação do projeto e os outros 50% após a publicação da obra.
Autora: Luisa Frey
Revisão: Alexandre Schossler