Bolsonaro diz que Brasil é referência no combate à covid-19
25 de dezembro de 2020Em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão na noite desta quinta-feira (24/12), véspera de Natal, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil é referência para outras nações no combate ao coronavírus, e destacou as ações de seu governo durante a pandemia. Na contramão do discurso de outros líderes mundiais, Bolsonaro não mencionou medidas de distanciamento social durante as festas de fim de ano nem a vacinação.
A fala de Bolsonaro foi ao ar em um dia que o Brasil registrou 58.428 novos casos confirmados de covid-19 e 762 mortes, de acordo com divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) e pelo Ministério da Saúde. Em números absolutos, o Brasil é o terceiro país do mundo com mais infecções e o segundo em número de mortos.
Segundo Bolsonaro, os esforços do governo "sempre tiveram como foco principal a preservação da vida e de empregos, pois saúde e economia caminham juntas, lado a lado". Bolsonaro também disse que "na saúde não faltaram recursos e equipamentos para todos os estados e municípios no combate ao coronavírus, dentre outras ações" que, segundo ele, têm ajudado o Brasil "a seguir rumo ao progresso e ao desenvolvimento; sendo, inclusive, referência para outras nações".
Ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente agradeceu o trabalho dos profissionais de saúde e disse se solidarizar com as famílias que perderam entes queridos durante a pandemia.
Bolsonaro destacou que, em um ano de grandes desafios para o Brasil e o mundo, "as famílias, as empresas, os trabalhadores, formais e informais, tiveram que mudar suas rotinas e modo de viver".
"Não poupamos esforços, trabalhamos dia e noite para encontrar e implementar as melhores soluções para o bem-estar do nosso povo", destacou o presidente. Em seguida, ele listou algumas medidas tomadas pelo seu governo, como o auxílio emergencial e a ampliação de crédito para pequenas e microempresas.
A primeira-dama também se pronunciou, afirmando que os planos de 2020 foram interrompidos por uma pandemia e que "Deus, em sua grandeza e ternura, nos encorajou e nos presenteou com nobres missões e ações".
"2021 renasce com o desejo de fazer o bem; de valorizar pequenos gestos; de agir e dar mais valor ao próximo", pontuou a primeira-dama.
Desde o começo da pandemia, Bolsonaro minimizou a gravidade do coronavírus, criticou as medidas de distanciamento social, foi contra a paralisação do comércio e serviços para conter o vírus e chegou a desdenhar de quem optou por ficar em casa para se proteger.
Enquanto líderes mundiais ao redor do mundo preocupavam-se em dar o exemplo e motivar a população a ficar em casa, o presidente brasileiro, em inúmeras ocasiões, desafiou medidas impostas para evitar aglomerações ao realizar passeios pelo comércio e participar de eventos públicos, inclusive de atos com apoiadores, abraçando e cumprimentando pessoas. Mesmo após contrair o coronavírus, raramente foi visto usando máscara.
Bolsonaro ironiza Coronavac
Também nesta quinta-feira, em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, Bolsonaro ironizou a eficácia da Coronavac, vacina chinesa contra a covid-19 produzida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan e defendida por seu rival político, o governador de São Paulo, João Doria.
"A eficácia daquela vacina lá de São Paulo parece que tá lá embaixo né? O percentual está bem baixo. Não vou divulgar percentual aqui, porque se eu errar em 0,0001% eu vou apanhar da mídia", disse o presidente.
Enquanto líderes mundiais, como o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, tomaram vacina em público para encorajar a população, Bolsonaro voltou a dizer que não vai se responsabilizar por algum eventual efeito colateral de uma vacina contra o coronavírus.
O presidente também voltou a defender a hidroxicloroquina e a ivermectina no tratamento contra a covid-19, mesmo ambos os medicamentos não tendo comprovação científica contra a doença.
"Deu problema, pessoal, procura seu médico e ele vai receitar para você, com toda certeza, a hidroxicloroquina e a ivermectina. Se ele não receitar, você troca de médico", afirmou.
A Coronavac está no centro de uma guerra política entre Doria e Bolsonaro. O governador paulista negociou a vacina diretamente com os chineses, diante da falta de ação do governo federal. Bolsonaro não disfarça sua má vontade com o imunizante promovido pelo adversário político. Em outubro, ele chegou a desautorizar publicamente Eduardo Pazuello após o ministro da Saúde manifestar a intenção de comprar milhões de doses da Coronavac.
A eficácia da Coronavac
Na quinta-feira, a Turquia divulgou que a Coronavac teve eficácia de 91,25% contra o coronavírus em uma análise preliminar dos resultados no país. Porém, o estudo completo não foi apresentado.
Depois da divulgação, o secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse que a Coronavac não atingiu 90% de eficácia em testes realizados no Brasil, mas que "está em níveis que nos permitem fazer uma redução de impacto de doença na nossa população". Ele destacou que o percentual de eficácia é superior ao mínimo de 50% recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Todas as vacinas que são formuladas por fragmentos de vírus acabam produzindo menos anticorpos que com vírus vivos, que chamamos atenuados, como sarampo e febre amarela, que produzem proteção menor. Sabíamos que a efetividade jamais atingiria 90%, mas o que nós não imaginamos é que a empresa objetivava um resultado próximo em todos os países", explicou Gorinchteyn em entrevista à rádio CBN.
Gorinchteyn garantiu que, mesmo com menos de 90% de eficácia, a vacina deve cumprir os requisitos para ser aprovada.
Na quarta-feira, o governo de São Paulo e o Instituto Butantan anunciaram que a Coronavac apresentou segurança e atingiu o índice mínimo de eficácia exigido pelas agências regulatórias. No entanto, o percentual exato de eficácia não foi divulgado.
A falta de dados específicos contrariou um anúncio prévio do governo paulista, que havia prometido a divulgação nesta semana. Foi o quarto adiamento do tipo. A justificativa foi que a Sinovac solicitou a base de dados para mais análises.
Segundo o governo de São Paulo, a empresa chinesa quer unificar e equalizar os dados com ensaios feitos na Turquia e Indonésia, com o objetivo de evitar a divulgação de índices diferentes. O prazo máximo previsto é de 15 dias.
Dessa forma, a Anvisa só deve receber os dados para registro após o fim desse processo. Após a entrega dos dados, a Anvisa estima que precisará de até dez dias para uma avaliação de uso emergencial. Já um registro definitivo tem prazo máximo de análise de 60 dias, que pode ser eventualmente apressado.
LE/ots