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Bolsonaro comemora suspensão de testes da Coronavac

10 de novembro de 2020

"Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", diz presidente. Para diretor do Butantan, suspensão do estudo é desnecessária e fomenta "descrédito gratuito" da vacina chinesa. Morte de voluntário não teria relação com imunizante.

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Jair Bolsonaro tirando máscara
Bolsonaro nunca compartilhou qualquer entusiasmo com potenciais vacinasFoto: Andre Borges/dpa/picture-alliance

O presidente Jair Bolsonaro comemorou nesta terça-feira (10/11) a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender os estudos clínicos da vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, contra o novo coronavírus.

A reação de Bolsonaro ocorreu no Facebook, em resposta a seguidores que fizeram perguntas sobre o imunizante. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", escreveu, referindo-se a seu desafeto João Doria, governador de São Paulo..

A Coronavac está sendo testada em dez países. No Brasil, os estudos começaram em 21 de julho, a partir de uma parceria da Sinovac com o Instituto Butantan, firmada diretamente com o governo de São Paulo e que prevê a produção da vacina no Brasil.

Sem dar detalhes, a Anvisa comunicou na segunda-feira que decidiu interromper o ensaio clínico da vacina Coronavac após a ocorrência de um "evento adverso grave" em 29 de outubro. A causa da suspensão teria sido a morte de um voluntário que participa do estudo clínico.

Butantan nega relação

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, negou que a morte tenha sido causada pela vacina. "A conclusão do relatório que está em mãos da Anvisa neste momento diz exatamente isso: o evento adverso grave foi analisado e não tem relação com a vacina", destacou durante uma coletiva de imprensa.

Segundo a TV Globo, que teve acesso ao atestado de óbito do voluntário, a causa da morte teria sido suicídio.

Covas considerou a suspensão do estudo desnecessária e afirmou que a decisão causa dor e insegurança nos voluntários que participam do estudo. "Fomentaram um ambiente que não é muito propício pelo fato de essa vacina ser feita em associação com a China. Fomentaram esse descrédito gratuito. A troco de quê?", acrescentou.

O diretor contou ainda que o instituto foi pego de surpresa com a decisão, mas evitou criticar a agência, a qual descreveu como "técnica e independente", ou considerar que a decisão tenha sido ideológica. Covas ressaltou que atribui a suspensão a "uma dificuldade de comunicação ou preocupação exagerada".

A Anvisa negou que a decisão tenha sido política e afirmou ainda desconhecer a causa da morte do voluntário, por isso, segundo a própria agência, suspendeu o estudo para garantir a segurança dos voluntários.

Apesar de a Anvisa dizer que não tem informações sobre as causas da morte, segundo o jornal Folha de S. Paulo a agência teria recebido os dados que comprovariam o suicídio do voluntário na manhã desta terça-feira, mas mesmo assim decidiu manter a suspensão dos testes. Os documentos foram enviados durante uma reunião que ocorreu com representantes da Anvisa e do Butantan.

Disputa política

A Sinovac foi uma das primeiras farmacêuticas a divulgar resultados dos estudos em estágio avançado das atuais vacinas que estão sendo testadas contra a covid-19 no mundo, colocando a China na liderança da corrida por um imunizante contra o coronavírus.

A vacina, no entanto, tem sido objeto de uma batalha política no Brasil entre um dos seus maiores apoiadores, o governador de São Paulo, João Doria, e Bolsonaro, principal adversário político do tucano.

A suspensão dos testes é a segunda polêmica envolvendo a vacina em menos de um mês. Em 20 de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou um acordo firmado com o estado de São Paulo que previa a compra de 46 milhões de doses da Coronavac e a inclusão do imunizante no calendário nacional de vacinação.

No dia seguinte ao anúncio, Bolsonaro desautorizou Pazuello, também pelo Facebbok, e disse que o governo federal não compraria a vacina. "Qualquer coisa publicada, sem comprovação, vira TRAIÇÃO", reagiu Bolsonaro a um comentário de um seguidor que acusou o ministro de agir pelas costas do presidente.

Após as declarações de Bolsonaro, o Ministério da Saúde voltou atrás e disse que "não há intenção" por parte do governo federal de adquirir "vacinas chinesas". A pasta afirmou ainda que houve "uma interpretação equivocada" da fala de Pazuello sobre o imunizante, mas reconheceu a assinatura de um protocolo de intenção com o Instituto Butantan para a compra da vacina.

Dois dias depois da polêmica, a Anvisa autorizou a importação de 6 milhões de doses do imunizante a pedido do Butantan, que guardará as doses até a liberação da vacinação pela agência.

No total, o governo de São Paulo fechou contrato com a Sinovac para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac. As primeiras 6 milhões virão prontas da China. As outras 40 milhões serão envasadas e rotuladas no Instituto Butantan, a partir de material importado.

Postura de Bolsonaro na pandemia

Bolsonaro nunca compartilhou qualquer entusiasmo com potenciais vacinas. Ao longo da pandemia, ele preferiu promover "curas" sem comprovação científica, como a aplicação da hidroxicloroquina no tratamento da doença. Além de minimizar o vírus, o presidente também agiu sistematicamente para sabotar a imposição de medidas de distanciamento social no país.

Mais recentemente, ele passou a agir ativamente contra a possibilidade de uma vacinação obrigatória, contrariando uma medida assinada pelo seu próprio governo no início da pandemia.

O fato de a linha de frente da produção da vacina ter sido assumida pelo governo João Doria e envolver a China – vista como inimiga por muitos bolsonaristas, inclusive membros de sua família – adicionou ainda mais combustível à fogueira ideológica do presidente.

CN/ots

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