Boeing anuncia saída de CEO em meio à crise do 737 MAX
25 de março de 2024O CEO da Boeing Company, Dave Calhoun, deve deixar a companhia até o final do ano, como parte de uma ampla reestruturação da cúpula da empresa, duramente afetada pela interminável crise envolvendo problemas de segurança no avião 737 MAX. Seu substituto não foi anunciado.
"Os olhos do mundo estão voltados para nós e sei que sairemos desse momento como uma empresa melhor, aproveitando todos os aprendizados que acumulamos ao trabalharmos juntos para reconstruir a Boeing", disse Calhoun, que atuava como CEO da empresa desde janeiro de 2020. Ele é o segundo CEO da Boeing a deixar o cargo desde o início da crise do 737 MAX. Em 2020, ele havia tomado o lugar de Dennis Muilenburg, que deixou a empresa após dois acidentes fatais envolvendo o modelo.
A saída de Calhoun não é isolada. A empresa também pretende fazer várias mudanças na diretoria nos próximos meses.
Paralelamente, a gigante americana da aviação informou que Stan Deal, presidente e CEO da Boeing Commercial Airplanes - principal divisão de fabricação e venda de aviões de uso civil da Boeing -, se aposentará. Stephanie Pope liderará essa divisão. Por fim, Lawrence Kellner não deve buscar ser reeleito para o posto de presidente do conselho da Boeing, e o cargo passará a ser ocupado por Steve Mollenkopf.
Crise do 737 MAX
A Boeing está mais uma vez sob pressão desde o início de janeiro, quando uma porta de um 737 MAX da Alaska Airlines se desprendeu em pleno voo. Investigadores apontaram que faltava uma série de parafusos usados para manter a peça no lugar.
O incidente se tornou a maior crise para a Boeing desde que toda a sua frota de jatos 737 MAX teve sua permissão de voo suspensa em todo o mundo em 2019, após dois desastres com o modelo provocarem a morte de 346 pessoas.
Aviões 737 MAX 9 com a mesma configuração de porta do modelo da Alaska Airlines ficaram parados por semanas até serem inspecionados. Reguladores também passaram a examinar todos os processos de fabricação da Boeing. Uma auditoria da Federal Aviation Administration (Agência Federal de Aviação dos EUA, conhecida pela sigla FAA) na fábrica da Boeing, perto de Seattle, indicou problemas em quase três dúzias de aspectos da produção. A Boeing tem até o final de maio para apresentar à FAA um plano de melhoria.
Cultura da empresa
Executivos de companhias aéreas também têm expressado frustração com a empresa, e a imprensa dos EUA tem apontado para problemas que vêm se avolumando na cultura de gestão da companhia, excessivamente focada em lucros e cortes de custos.
Por décadas conhecida pela excelência da engenharia dos seus aviões, a Boeing passou por profundas mudanças na segunda metade dos anos 1990, quando promoveu uma fusão com sua então rival McDonnell Douglas.
Segundo analistas do setor, com o tempo, a cultura corporativa da McDonnell Douglas, menos rigorosa com segurança e dedicada a manter os custos de produção baixos, tanto na fabricação quanto no desenvolvimento de novos modelos, acabou engolindo a Boeing, que passou a terceirizar boa parte da sua produção - inclusive de componentes sensíveis - e a direcionar menos verba para pesquisa. Um dos símbolos dessa mudança foi a troca da sede corporativa, antes em Seatle, nas proximidades da fábrica, para Chicago, distante centenas de quilômetros, que afastou ainda mais os executivos dos aspectos da produção.
No início do mês, a Boeing também apareceu no noticiário após um ex-funcionário da empresa ser encontrado morto em Charleston, no estado da Carolina do Sul, dias após prestar depoimento sobre falhas nas aeronaves da companhia. John Barnett, de 62 anos, havia atuado como gerente de qualidade da Boeing até 2017, trabalhando na linha de produção do modelo 787 Dreamliner, outra aeronave da empresa que acumulou problemas na sua trajetória. Segundo informações preliminares, ele cometeu suicídio. Em 2019, Barnett disse à rede BBC que a Boeing instalou deliberadamente peças de má qualidade ou defeituosas em aviões 787 para impedir atrasos na produção.
jps/le (Reuters, EFE, AP)