BNDES empresta mais do que Banco Mundial
28 de fevereiro de 2012Metrôs, rodovias, hidrelétricas e gasodutos – a expansão da infraestrutura nos vizinhos latino-americanos conta com dinheiro brasileiro. Na América Latina e no Caribe, se concentra a maior parte dos 6,7 bilhões de dólares desembolsados no exterior pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social, BNDES. A soma dos financiamentos na região chega a 1,7 bilhão de dólares.
O destino mais frequente é a Argentina, onde as ampliações e construções de gasodutos se tornaram possíveis também por intermédio do banco brasileiro. O trâmite é simples: o BNDES paga o exportador brasileiro quando este entrega o produto, no caso, as tubulações. Quando o projeto é finalizado, o comprador (na maioria dos casos, o governo estrangeiro) devolve, a prazo, o valor ao banco brasileiro.
Não há limites para o credor estatal brasileiro. "Podemos financiar desde uma máquina de 100 mil dólares, até o projeto de uma hidrelétrica, que pode chegar a um bilhão e meio de dólares", contou Leonardo Botelho, chefe do Departamento de Internacionalização do BNDES, à DW Brasil.
O gigante brasileiro já é maior do que o Banco Mundial. Em 2011, a instituição internacional desembolsou "só" 43 bilhões de dólares, contra os 73 bilhões dólares – ou 137 bilhões de reais – financiados pelo BNDES. "É um banco bom, grande, voltado mais para o Brasil. Mas esse ritmo de crescimento não é sustentável", analisa Mansueto Almeida, economista do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada, Ipea.
Amigos latinos
Atualmente, os argentinos devem 3,1 bilhões de dólares ao banco brasileiro. Só em 2011, o empréstimo ao país vizinho foi de 802 milhões. A Venezuela vem em segundo na lista de destinos: no país comandado por Hugo Chávez, o BNDES financiou, principalmente, a construção de hidrelétricas. O saldo devedor atual é de 1,2 bilhão de dólares.
"Na carteira de financiamento também há várias linhas de metrôs e mais recentemente uma siderúrgica", acrescentou Botelho. As construções de hidrelétricas nas nações vizinhos são, no entanto, os projetos que mais recebem recursos do BNDES, comentou Carlos Frederico Braz de Souza, chefe do Departamento de Relações Institucionais, Planejamento e Novos Negócios do banco.
O dinheiro é pago às empresas estabelecidas no Brasil que participam da obra – algumas construtoras chegam a "entregar uma hidrelétrica montada", exemplifica Souza. "O Brasil é hoje o maior mercado de hidrogeração. As empresas precisam ser estabelecidas no país para solicitar o financiamento do BNDES", esclareceu Botelho, lembrando que multinacionais fabricantes de turbinas, por exemplo, mantêm estrategicamente unidades em território brasileiro.
Mais créditos, mais dívida
Mansueto Almeida ressalta o crescimento vertiginoso da instituição: em 1995, o banco tinha disponível cerca de 1% do Produto Interno Bruto nacional para emprestar. Em 2011, essa taxa era de aproximadamente 4,5% a 5%. Para aumentar essa capacidade de empréstimo, no entanto, o governo se endividou. Em quatro anos, calcula Almeida, o Tesouro teve um custo extra de 300 bilhões de reais para fortalecer o BNDES.
Na teoria, a instituição é sustentada por um imposto que incide sobre o faturamento das empresas. Também parte do Fundo do Amparo ao Trabalhador é repassada ao BNDES e compõe os fundos do banco. Considerando-se apenas esses recursos, a autonomia financeira seria de 90 bilhões de reais por ano, ressalta o economista do Ipea.
"Um governo não deve se endividar tanto para capitalizar um banco, por mais que ele financie a infraestrutura do país, porque não garante o crescimento da economia. Os países que mais se endividam não são os que mais crescem. Se essa lógica fosse verdadeira, a Grécia seria uma das nações mais ricas do mundo", compara Almeida.
Por enquanto, todos os pedidos de financiamento de exportadores brasileiros que chegam ao BNDES têm um final feliz. "Estamos atendendo tudo o que tem chegado. Nossa missão é apoiar o exportador brasileiro de bens e serviços. Existe uma demanda forte da América Latina, um dos principais mercados para brasileiros. E um grande interesse desses mercados nas soluções brasileiras", pontuou Leonardo Botelho.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer