Bibliothek: Os escritores alemães que têm chegado ao Brasil
26 de setembro de 2017Nós brasileiros temos a tendência de reclamar que nossa literatura, ou cultura em geral, não recebe ainda a devida atenção no âmbito internacional. No entanto, mesmo nós acabamos muitas vezes por nos concentrar em regiões específicas do mundo, especialmente o de língua inglesa.
É mais fácil que um americano celebrado pelo The New York Times seja publicado com rapidez no Brasil do que mesmo os autores de outras línguas amplamente faladas, como o francês e o espanhol, apesar da proximidade geográfica. O português, europeu e americano, é uma ilha cercada pela fala hispânica. E como anda a relação entre Brasil e Alemanha?
Alguns brasileiros têm chegado à Alemanha após um período de silêncio entre as duas línguas. Autores clássicos como Machado de Assis, Jorge Amado e Clarice Lispector têm recebido novas traduções, e escritores vivos, como Luiz Ruffato e Angélica Freitas, vêm sendo traduzidos.
No Brasil, o coquetel é parecido, servindo ao leitor brasileiro de autores clássicos a contemporâneos. Uma visita pelas páginas das maiores editoras do país mostra novas traduções para autores como Thomas Mann, que teve seu Doutor Fausto relançado pela Companhia das Letras em tradução de Herbert Caro, e Bertolt Brecht, que voltou às prateleiras com um livro importante para nossos dias, seu Conversas de refugiados, lançado pela Editora 34 em tradução de Tercio Redondo. O livro, que permaneceu inacabado, seria publicado postumamente na Alemanha apenas em 1961. Em nossos dias, em que os refugiados tornaram-se o centro do debate político na Alemanha, este livro nos lembra de que houve um tempo em que eram os alemães os refugiados.
Dois escritores de língua alemã e ganhadores recentes do Prêmio Nobel podem ser encontrados facilmente no país, como Günter Grass, que teve seu A caixa lançado pela Record em 2013, com tradução de Marcelo Backes; e Herta Müller, que tem hoje seis livros no país: O Compromisso (tradução de Lya Luft, São Paulo: Globo, 2004); Depressões (tradução de Ingrid Ani Assmann, São Paulo: Globo, 2010); Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio (tradução de Claudia Abeling, São Paulo: Globo, 2012); Tudo o que tenho levo comigo (tradução de Carola Saavedra, São Paulo: Companhia das Letras, 2012); Fera d'alma (tradução de Claudia Abeling, São Paulo: Globo, 2013); e O rei se inclina e mata (tradução de Rosvitha Friesen Blume, São Paulo: Globo, 2013).
Além de Herta Müller, talvez o autor contemporâneo de língua alemã mais tenha discutido na imprensa brasileira seja Ingo Schulze, que teve quatro livros publicados no Brasil: Histórias simples da Alemanha Oriental (tradução de Theresa Graupner e João Marschner, Rio de Janeiro: Lacerda, 2002); Celular – 13 histórias à maneira antiga (tradução de Marcelo Backes, São Paulo: Cosac Naify, 2008); Vidas novas (tradução de Marcelo Backes, São Paulo: Cosac Naify, 2009); e Adam e Evelyn (tradução de Sergio Tellaroli, São Paulo: Cosac Naify, 2013).
Ao procurar por autores alemães entre as editoras brasileiras, eu tinha também curiosidade de ver quais escritores lançados no Brasil estão entre os mais discutidos aqui na Alemanha nos últimos anos. Há vários. Por exemplo, Ilija Trojanow, Julia Franck, Uwe Timm, Daniel Kehlmann, Wladimir Kaminer e Silke Scheuermann são todos autores que aparecem com frequência na imprensa cultural alemã e nas listas de prêmios, vendem bem seus livros e são amplamente resenhados. Todos estes autores tiveram livros traduzidos e lançados no Brasil nos últimos anos. Ainda há muito por fazer na relação literária entre Brasil e Alemanha, mas nos últimos anos foram dados alguns bons passos.
Na coluna Bibliothek, publicada às terças-feiras, o escritor Ricardo Domeneck discute a produção literária em língua alemã, fala sobre livros recentes e antigos, faz recomendações de leitura e, de vez em quando, algumas incursões à relação literária entre o alemão e o português. A coluna Bibliothek sucede o Blog Contra a Capa.