Bibliotecas européias versus Google
1 de maio de 2005Dezenove bibliotecas nacionais européias uniram forças contra a revolução das comunicações anunciada pela principal máquina de busca da internet, a Google. Em oposição à biblioteca virtual global que esta pretende criar, as instituições estão apoiando uma contra-ofensiva multimilionária para colocar literatura européia online.
"Os diretores das bibliotecas nacionais abaixo assinados desejam apoiar a iniciativa dos governantes europeus, visando uma digitalização ampla e organizada dos livros pertencentes à herança de nosso continente", reza o documento. "Tal passo exige uma coordenação estreita das ambições nacionais no nível da UE, para decidir a seleção das obras."
A declaração teve a assinatura na Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Polônia, República Tcheca e Suécia. A Biblioteca Nacional Britânica deu apoio implícito à iniciativa, porém sem assinar a moção, enquanto Chipre, Malta e Portugal concordaram verbalmente em assinar o texto.
Reação a americanos e ingleses
A ação, organizada pela Biblioteca Nacional da França, veio em reação ao anúncio da Universidade de Michigan e mais outras quatro bibliotecas – Harvard, Stanford, Nova York e Bodleian de Oxford – de que permitiriam à Google digitalizar milhões de seus livros, disponibilizando-os online.
Enquanto Michigan e Stanford pretendem digitalizar todo o seu acervo – num total de 15 milhões de publicações –, a Bodleian ofereceu um milhão de livros publicados antes de 1900. As contribuições de Harvard e da Biblioteca Pública de Nova York são mais modestas, porém mesmo assim o projeto deverá levar um total de até dez anos, com custos estimados entre 116 e 154 milhões de euros.
Temor da dominação americana
Os planos da Google agitaram os meios culturais de Paris, suscitando temores de que a língua e o pensamento franceses possam ser soterradas na internet, já dominada pela língua inglesa.
O presidente Jacques Chirac pediu a seu ministro da Cultura, Renaud Donnedieu de Vabres, e ao presidente da Biblioteca Nacional, Jean-Noël Jeanneney, que estudem como as coleções aa França e Europa poderão ser colocadas de forma mais ampla e rápida na internet. O chefe de Estado francês abordará a questão durante a abertura da conferência de ministros da Cultura da UE, nos dias 2 e 3 de maio, em Paris.
Jeanneney acentuou que um tal projeto – incluindo mais de 4,5 bilhões de páginas de texto, auxiliaria pesquisadores, além de permitir às nações pobres acesso ao ensino global. Porém acrescentou: "A verdadeira causa é outra, e é imensa. Trata-se do risco de uma esmagadora dominação norte-americana, definindo como as gerações futuras deverão conceber o mundo".