BH entrega Mineirão a tempo, mas "esquece" turismo
28 de março de 2014Minas Gerais saiu na frente ao cumprir o prazo de reforma do Mineirão, o segundo dos 12 estádios que vão receber jogos da Copa a ficar pronto e a primeira grande obra do Mundial em Belo Horizonte, inaugurada ainda em dezembro de 2012.
Algumas linhas do chamado BRT/Move, também prometidas para 2014, já operam desde o início de março último, embora haja ajustes a serem feitos, como a construção de passarelas. Outro desafio era concluir pelo menos a primeira etapa da despoluição da Lagoa da Pampulha até os turistas começarem a chegar. A prefeitura admitiu que não ficará pronta a tempo.
A ordem de serviço para o desassoreamento da Lagoa, considerado o início dos trabalhos de despoluição, foi emitida em maio do ano passado. O orçamento é de aproximadamente 109 milhões de reais. A expectativa era retirar 800 mil metros cúbicos de sedimentos até a Copa. Mas problemas no maquinário que fazia a limpeza provocaram um atraso. A nova previsão de término é no próximo mês de agosto.
O membro do Comitê dos Atingidos Pela Copa (Copac) Fidélis Oliveira conhece o local e se diz indignado. "A despoluição prometida não está acontecendo e não vai acontecer em tempo hábil".
A Lagoa é o cartão postal e um dos principais pontos turísticos da capital mineira. Faz parte de um complexo arquitetônico que inclui a "Igrejinha" de São Francisco de Assis, assinada por Oscar Niemeyer. "Ela é fruto de uma barragem construída na década de 1930 em virtude do represamento do Ribeirão Pampulha. A qualidade da água era tão boa que foi utilizada para abastecimento da região até o final da década de 1950", conta Marcus Vinicius Polignano, coordenador do projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que mapeia as águas do estado.
A ocupação urbana desordenada no entorno da Lagoa fez com que ela passasse, desde o final da década de 1960, a receber lixo e esgoto de 500 mil pessoas. Anualmente, estima-se que 300 mil metros cúbicos de dejetos se acumulem embaixo e em volta do espelho d'água, que ao longo dos anos foi reduzido em 75%. "Tudo isso modificou demais as características do ecossistema da Lagoa. Ela sofreu um processo de eutroficação. Algas se proliferaram, a água ficou esverdeada e com um forte odor", afirma Polignano.
Entulho vem de todos os lados
Hoje, ninguém mais pode nadar na Lagoa por causa dos altos níveis de contaminação. O problema já é considerado de saúde pública. Em 2010, o projeto Manuelzão propôs uma meta de revitalização para 2014. Ele previa que as pessoas pudessem até voltar a pescar na Pampulha. O governo do estado e a prefeitura assinaram, na época, uma carta de intenções com a Copasa para interceptar e tratar o esgoto que vai para a Lagoa.
A assessoria de comunicação da prefeitura explicou que esse serviço está em andamento, mas que a Lagoa da Pampulha é uma espécie de bacia, composta por oito cursos d'água: córregos Mergulhão, Tijuco, Ressaca, Sarandi, Água Funda, Braúna, Olhos D água e AABB. O que significa que o entulho vem de todos os lados. Por isso, o município informou também que trabalha em conjunto com a Copasa para implementar um projeto de intervenção também nas outras áreas.
"É verdade que até este ano grande parte do esgoto estará interceptado, só que ainda faltam muitas ligações domiciliares que não foram feitas pelos moradores", pondera Marcus Vinicius Polignano.
Ele reconhece que a pressão da Copa foi importante, embora tudo ainda não tenha se resolvido. E apesar de frustrado por não ver ainda a Lagoa completamente limpa, Polignano acredita que, durante o Mundial, as pessoas "vão se encantar". A experiência, para ele, serviu para "mobilizar a sociedade e comprometer o poder público".
Praça da Estação
Outro lugar importante na história de Minas Gerais e que passaria por obras para a Copa é a Praça da Estação, no centro de BH. É aonde chega e de onde sai o trem da linha férrea Vitória-Minas.
No ânimo da preparação para a Copa, voltou-se a cogitar em 2013 a construção do Corredor Cultural na praça, um tema em debate há 20 anos em Belo Horizonte. Seria uma forma de revitalizar o espaço, ocupado hoje por muitos moradores de rua.
De acordo com a Fundação Municipal de Cultura, o projeto não foi aprovado pelo PAC Cidades Históricas. A Fundação está discutindo com a comunidade novas propostas de "potencialização" do local que não passem por intervenções urbanísticas. A DW Brasil enviou email ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para saber o motivo da recusa, mas não obteve resposta.