Berlinale tem forte presença brasileira
28 de janeiro de 2014Na próxima quinta-feira (06/02), quando as luzes se apagarem e a cortina vermelha abrir para a exibição da estreia mundial de O Grande Hotel Budapeste, novo filme do cineasta americano Wes Anderson, não será apenas o começo de mais uma Berlinale.
O segundo mais importante festival de cinema do mundo marca também uma das mais importantes participações do cinema brasileiro em grandes eventos internacionais nos últimos anos.
O Brasil tem cinco longas e dois curtas selecionados para as principais mostras do festival neste ano. Desde a vitória de Tropa de Elite de José Padilla em 2008, não havia um filme majoritariamente brasileiro – ou de temática brasileira – selecionado para a mostra competitiva.
O líder dessa invasão brasileira é o cineasta cearense Karim Aïnouz. Seu último longa-metragem, A Praia do Futuro, rodado em Fortaleza e em Berlim, faz parte da competição oficial do festival e concorre ao Urso de Ouro.
Aïnouz também participa do programa oficial com a estreia, fora de competição, de Catedrais da Cultura. O projeto produzido por Win Wenders é dividido em episódios, em que seis diferentes cineastas fazem um curta documental em 3D sobre um prédio famoso. O brasileiro mostra o Centro Georges Pompidou, em Paris.
Além do cinema brasileiro, um dos grandes destaques deste ano é a volta do tradicional Zoo Palast para o circuito de exibição do festival. "Estou muito feliz de anunciar a volta do Zoo Palast para a Berlinale depois de uma bela restauração", disse nesta terça-feira Dieter Kosslick, diretor do festival, na abertura oficial do evento para a imprensa em Berlim.
Construído em 1956, o cinema no antigo centro de Berlim Ocidental estava fechado desde o fim de 2010.
Competição discreta
A mostra competitiva deste ano está relativamente discreta, o que pode trazer grandes surpresas. São 23 filmes selecionados – e 20 disputam o Urso de Ouro. O programa incluiu filmes e coproduções de 21 países, 18 estreias mundiais e três filmes de diretores estreantes.
A Berlinale 2014 optou por poucos filmes americanos e grandes nomes. Por acontecer em fevereiro, o festival frequentemente seleciona longas indicados ao Oscar, o que garante a presença de grandes estrelas – e ocasionalmente de bons filmes.
Entre os americanos, Richard Linklater volta a Berlim com Boyhood. Estrelado por Patricia Arquette e Ethan Hawke, o filme acompanha a história de um jovem dos 5 aos 18 anos. Já entre os grandes diretores europeus, o único nome de peso é o francês Alain Resnais, que compete com Aimer, Boire et Chanter.
"Temos muitos filmes alemães selecionados neste ano. Desde 1986, não temos uma presença alemã tão grande na mostra competitiva", disse Kosslick. Quatro filmes alemães disputam o Urso de Ouro.
A América do Sul também tem presença marcante na seleção. Ao lado de A Praia do Futuro, os argentinos Historia del miedo, de Benjamin Naishtat, e La tercera orilla, de Celina Murga, também disputam os principais prêmios. Vencedora do Urso de Ouro em 2009 por A teta assustada, a peruana Claudia Llosa, volta ao festival com Aloft, seu primeiro filme em inglês.
A crise econômica não é mais um tema direto nos filmes selecionados, mas seus reflexos nas crianças e jovens aparecem em diversas formas e em diferentes histórias. "Existem cerca de um bilhão de crianças no mundo. Se contarmos os jovens são mais de dois bilhões. Grande parte dessas crianças vive em sofrimento", lamentou Kosslick ao citar o filme Macondo, que mostra o cotidiano de jovens chechenos radicados na Áustria.
Outro destaque é o cinema chinês. A "nova China", com seus conflitos entre o campo e a cidade e o passado e o presente, aparece em três distintas produções. A força do cinema asiático também pode ser vista em outras sessões do festival.
O Brasil mostra suas caras
A China também tem uma presença forte na mostra Panorama, com seis filmes selecionados. Entre filmes de ação, ficção científica e experimentalismo, os chineses se juntam ao forte bloco do cinema asiático, que inclui títulos do Japão, Coréia, Vietnam e Filipinas.
"Como sempre a seleção de filmes latino-americanos é muito forte no festival. Dizem que a Ásia é a nova América Latina, mas ainda temos título excelentes vindos do continente", disse Wieland Speck, diretor da Panorama, mostra do festival que constantemente seleciona títulos brasileiros. No ano passado, Flores Raras, de Bruno Barreto, fez parte do programa.
Speck escolheu dois longas-metragens brasileiros para a Panorama 2014. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro, e O Homem das Multidões, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães.
"Ambientes de trabalho impiedosos e os absurdos das instituições culturais" é o lema da mostra Forum, dedicada a diferentes paisagens cinematográficas, investigando o experimental, independente e a observação política. Explorando a forma, e não o formato documental, o programa selecionou Castanha, documentário do cineasta brasileiro Davi Pretto.
Seguindo a linha experimental, o curta Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar, de Felipe Bragança e Helvécio Marins Jr., será exibido na Forum Expanded, que além da projeção de filmes também promove debates e exposições durante o festival.
O Brasil ainda marca presença na mostra Native Cinema, dedicada a narrativas cinematográficas com foco nos povos indígenas, com Terra Vermelha, de Marco Bechis. O curta-metragem Eu não Digo Adeus, Digo até Logo, da brasileira Giuliana Monteiro, faz parte da Generation, dedicada a filmes para e sobre crianças e adolescente. Já o projeto Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, busca parcerias para produção e finalização no Co-production Market.
Além da presença brasileira, em diferentes formas e formatos, os fãs de cinema que estiverem em Berlim entre os dias 6 e 16 de fevereiro terão a chance de conferir a retrospectiva de um dos mais importantes cineastas políticos da história, o britânico Ken Loach. E se deliciar, ou aterrorizar, com a estreia mundial da versão sem cortes de Ninfomaníaca, de Lars Von Trier. A maratona só está começando.