Berlim tem novos protestos pela vida de blogueiro saudita
12 de junho de 2015O porta-voz da sucursal da Anistia Internacional em Berlim, Florian Oswald, se encontra diante da embaixada da Arábia Saudita. Como todas as semanas, ele é um dos que se encarregam de que haja suficientes coletes amarelos com o logo da ONG, cartazes e faixas.
As manifestações já transcorrem desde fevereiro: todas as quintas-feiras um grupo maior ou menor de ativistas se reúne no local para protestar contra a punição do blogueiro saudita Raif Badawi, que, por suas atividades críticas online foi condenado a dez anos de prisão, mil chibatadas e uma multa equivalente a 195 mil euros.
"Só por ter dito a própria opinião", comenta Oswald, enquanto vai pegando o megafone para coordenar: "Agora, todo o mundo diz: 'Liberdade para Raif Badawi!'"
Valorização crescente pelos direitos humanos
Nesta quinta-feira (11/06), os partidários da liberdade de expressão e dos direitos humanos são cerca de 40, e entoam as palavras de ordem com um pouco mais de ênfase do que de costume. No fim de semana chegaram novas, más notícias da Arábia Saudita: um tribunal de apelação confirmou a sentença do ativista de 31 anos. "Temos medo que amanhã já recomecem os açoitamentos", explica o porta-voz.
Os manifestantes de Berlim se postam em fila, bem juntos uns dos outros, para "fazer mais volume" nas imagens dos fotojornalistas presentes. Hoje também a presidente do Partido Verde alemão, Simone Peter, recita o "não" ritmado à injustiça dos açoites: "No flogging for blogging!"
Para ela, o grupo de manifestantes é um exemplo da valorização crescente dos direitos humanos para as sociedades civis. "É importante estarmos aqui hoje e protestarmos contra a punição. Somos muitos, por toda parte do mundo."
Há algumas semanas ela conheceu a esposa de Raif Badawi, que luta a partir do Canadá pela liberdade do blogueiro, acusado tanto de "apostasia" como de "tentativa de questionar a legitimidade do rei". Esse encontro a impulsiona, afirmaPeter. Do governo alemão, ela deseja, finalmente, um sinal claro: "Há um excesso de palavras bonitas e carência de ações."
Aposta da persistência
Ao lado da política verde está o ex-presidente da Academia das Artes de Berlim, Klaus Staeck, que já participou dos protestos outras vezes. "Nosso princípio é continuar insistindo", observa o artista e jurista de 77 anos.
Entretanto, como manter a certeza de que o condenado será libertado, numa situação dessas? Do ponto de vista da técnica processual, apenas o rei Salman bin Abdulaziz al-Saud tem poderes para suspender a aplicação da brutal pena física: as 19 repetições de 50 chibatadas que ainda faltam representam perigo de vida para o condenado.
Staeck tem uma resposta na ponta da língua: "Raif Badawi só vai estar perdido quando ninguém mais se importar com ele." E gente como Gloria Treichel cuida para que isso não aconteça. Do outro lado da rua, ela carrega uma faixa que diz "Parem com a tortura"; sua voz se esganiça, tão forte ela grita "Freedom for Raif Badawi", seguindo as indicações do homem com o megafone.
"Venho aqui pelo menos de duas em duas semanas", conta, durante uma breve pausa entre as palavras de ordem. E indaga: "Como é que um rei pode ser tão duro contra o próprio povo? Essa situação na Arábia Saudita é como no Oriente Médio."
No inverno, Gloria congelava aqui, no bairro das embaixadas. Agora ela está de óculos escuros, gotinhas de suor brilham em sua testa. Ela não vai parar de protestar: "Isso não está certo, Raif tem simplesmente que poder voltar para a família dele."