Berlim rejeita categoricamente ataque ao Iraque
8 de agosto de 2002Uma ofensiva militar no Iraque pode explodir a aliança internacional contra o terrorismo, argumenta o chefe de governo alemão e presidente do Partido Social Democrático (SPD). O ministro de Relações Exteriores, Joschka Fischer (Partido Verde), também advertiu para riscos quase incalculáveis e conseqüências perigosas para a Europa.
Ambos políticos acham que, em vez de uma operação contra o ditador iraquiano Saddam Hussein, tem-se de prosseguir com a luta antiterror, iniciada depois de 11 de setembro, e os esforços por uma solução pacífica para o conflito no Oriente Médio. Além do mais, Fischer considera improvável que o Conselho da ONU aprove um mandato para uma ação militar no Iraque.
Schröder e Fischer concordam, todavia, que tem-se de manter as pressões para forçar Saddam Hussein a permitir o retorno de inspetores da ONU ao Iraque, a fim de examinar se o país cumpriu as exigências das Nações Unidas de renunciar à posse ou fabricação de armas de destruição em massa.
Aventura militar
Schröder aumenta sua resistência ao que chamou de "aventura militar" no Iraque na medida em que se aproxima a data da eleição do novo Parlamento e do governo da Alemanha, em 22 de setembro. No seu encontro com o presidente da França, Jacques Chirac, na semana passada, ele condicionou uma participação alemã no plano bélico do presidente americano George W. Bush a um mandato da ONU. No lançamento antecipado da chamada fase quente da campanha eleitoral, na segunda-feira (5), o chanceler federal alemão foi categórico: "não estamos aqui para fazer guerra".
Para o governo alemão, um mandato da ONU não seria um argumento decisivo para uma ação destinada a tirar Saddam Hussein do poder em Bagdá, mas as conseqüências no Iraque e na Europa.
Irresponsabilidade total?
Schröder está sendo acusado de "irresponsabilidade total" por parte da oposição conservadora que, quando estava no governo sob a chefia de Helmut Kohl, criou um imposto provisório para financiar parte considerável da Guerra do Golfo, em 1991, que libertou o Kuweit da ocupação iraquiana.
O líder da bancada do Partido Liberal, Wolgang Gerhard, cobrou uma declaração de governo sobre a política alemã para o Iraque. O ex-presidente da União Democrata-Cristã (CDU) Wolfgang Schäuble exigiu que a meta tem de ser um processo conjunto com a ONU. Do contrário, há o perigo de uma ação unilateral dos EUA.
Surgiu um primeiro crítico nas fileiras do SPD de Schröder. O presidente da Comissão de Relações Exteriores no Parlamento, Hans-Ulrich Klose, disse que não deve ser excluída nenhum opção para forçar uma inspeção do arsenal iraquiano pela ONU.
Campanha eleitoral
O SPD se defende das críticas da oposição de que sua resistência visaria apenas dividendos eleitorais. O ministro da Defesa, o social-democrata Peter Struck, argumentou que a questão é polêmica também em outros Estados europeus. Talvez com a exceção da Grã-Bretanha, cujo governo apoiou até agora, incondicionalmente, todas as ações militares americanas. "O Iraque não é um tema que o SPD inventou para, impreterivelmente, ganhar a eleição. É um tema latente, pois sabemos que o presidente americano está muito fixado no Iraque, disse o ministro alemão.
Sem dúvida que os verdes e social-democratas querem conquistar votos da esquerda pacifista. Mas o governo alemão seria ainda mais duramente criticado se se engajasse numa ofensiva contra o Iraque quando a Alemanha enfrenta desemprego e falências em massa. Hoje mesmo, o Departamento Federal do Trabalho anunciou, pelo segundo mês consecutivo, um aumento atípico do número de desempregados. A taxa costuma cair no verão, mas em julho cresceu de 9,5% para 9,7%. O país tem mais de 4 milhões de desocupados.