Berlim e os desafios de se tornar uma metrópole mundial
16 de setembro de 2016Dit is Berlin (Isto é Berlim), suspiram berlinenses, novos moradores e turistas no dialeto local, quando mais uma vez duvidam da capacidade da cidade de resolver seus problemas. A frase funciona como uma espécie de mantra de meditação – quando o transporte público fica um caos, canteiros de obra se tornam provas de paciência ou quando se leva meses para conseguir marcar uma hora para registrar o carro na prefeitura. Nesses momentos, o residente da capital alemã percebe como Berlim está sobrecarregada com a sua própria dinâmica.
Atualmente, dois temas estão particularmente em discussão. O primeiro é o Aeroporto de Berlim-Brandemburgo (BER), onde já foram enterrados bilhões de euros. Depois de dez anos de construção, ainda não se sabe quando ele vai ficar pronto.
Outro tópico é a situação de muitas escolas. Nos bairros gentrificados da cidade, o número de crianças cresceu vertiginosamente. Faltam escolas, e contêineres foram transformados em salas de aula. Outros prédios escolares apresentam rachaduras e goteiras.
Feridas do passado
Afinal, a capital alemã pode ou não ser considerada uma metrópole mundial? Quanto a essa questão é preciso dizer que cidades supostamente funcionais, como Munique, Frankfurt, Paris e Londres, não podem ser comparadas a Berlim. Pois nenhuma cidade possui tantas feridas visíveis na paisagem urbana e tantas lesões em sua alma quanto a capital alemã.
Antes metrópole mundial, ela foi destruída na guerra, depois dividida por décadas, tornando-se uma interface da Guerra Fria. Depois de 1989, Berlim se tornou forçosamente – sobretudo em sua administração – um laboratório para a integração entre o leste e o oeste da Alemanha reunificada.
Depois da longa ressaca das comemorações da queda do Muro e do histérico burburinho em torno da capital alemã, Berlim voltou finalmente a jogar na primeira liga das metrópoles mundiais. Desde o novo milênio, pessoas da Europa e de todo o mundo se mudaram para lá. Atualmente, a população da cidade registra um aumento anual de 40 mil habitantes. Isso significa um imenso desafio para a infraestrutura de Berlim, que ainda não superou completamente as consequências da divisão alemã.
Sede do governo, Meca do turismo, capital do sexo e festas, ímã de startups – são atributos usados frequentemente para descrever a vida em Berlim e, ao mesmo tempo, tudo o que precisa ser administrado. Alguns berlinenses estão simplesmente estressados e questionam o próprio lugar nesse novo mundo.
"Pobre, mas sexy"
A famosa descrição de Berlim feita pelo ex-prefeito Klaus Wowereit, "pobre, mas sexy", continua sendo verdade apenas em parte. Na comparação com outros estados alemães, o crescimento econômico da capital (Berlim é uma cidade-Estado) não deixa a desejar; a taxa de desemprego está finalmente prestes a ficar abaixo da marca dos 10%; as receitas fiscais são altas. Mesmo assim, a cidade ainda depende da transferência de recursos de outras unidades da federação, e mais de 60 bilhões de euros em dívidas ainda não foram pagos.
Quem lançar um olhar sobre os telhados berlinenses verá um guindaste atrás do outro. Isso é assim há anos. Em Berlim, as construções não param. Atualmente, também arranha-céus – símbolos da vida em grandes cidades – voltaram a ser erguidos. Paralelamente, nos bairros, as construções se adéquam aos cidadãos. A prefeitura apoia experimentos de novas formas de convivência. Afinal de contas, a cidade não deve ser entregue somente a investidores.
Pouco antes da eleição, o atual prefeito, Michael Müller, político social-democrata que pretende continuar no cargo, cogitou introduzir um imposto especial para investidores estrangeiros, com o objetivo de conter a especulação imobiliária. Também o tema do aluguel de apartamentos por temporada para turistas já foi tratado – já que na cidade há falta de moradias. Para plataformas de hospedagem, como Airbnb, não é mais tão fácil impor seu modelo de negócios em Berlim. A capital alemã está ciente de que tem a chance de não repetir os erros de outras metrópoles, permanecendo habitável e acessível.
Tradicional insatisfação
Com toda essa natureza multifacetada da cidade, não é de estranhar que as preferências partidárias sejam mais fragmentadas na capital alemã do que em qualquer outro estado do país.
Nas pesquisas antes das eleições para a assembleia legislativa municipal e distrital, marcadas para este fim de semana, o Partido Social-Democrata (SPD) é o único com mais de 20% das intenções de voto dos eleitores. A União Democrata Cristã (CDU), o Partido Verde e, mais recentemente, também a legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) estão quase empatadas e somente um pouco atrás do SPD. Ainda que o segundo lugar da CDU esteja quase garantido.
Nesta eleição estadual legislativa, questões políticas nacionais desempenham somente um papel secundário. Afinal de contas, existe uma abundância de temas locais em jogo, e nesse contexto, a insatisfação dos berlinenses é tradicionalmente grande. Isso pode ser visto antes do pleito. Numa eleição direta, Müller não seria reeleito pelos berlinenses.
Mesmo assim, o atual prefeito, de 51 anos, pretende continuar no cargo. Ele já declarou, publicamente, ser a favor de uma coalizão entre o SPD e o Partido Verde. No entanto, as pesquisas de intenção de voto indicam um cenário diferente. O motivo é a AfD, que balançou antigas relações de maioria. Por isso, acredita-se na provável formação de uma coligação tripartite entre SPD, Partido Verde e A Esquerda.
Independentemente dos resultados das urnas, uma coisa é certa: não faltarão berlinenses insatisfeitos com os resultados – algo típico dos moradores da capital alemã.