Berlim celebra Fassbinder
7 de maio de 2015A Alemanha revive Rainer Werner Fassbinder. Considerado por muitos o maior cineasta alemão do pós-guerra, ele comemoraria seu septuagésimo aniversário no dia 31 de maio.
Uma grande exposição em Berlim, documentários no cinema e na televisão e novos livros fazem do cineasta, morto em 1982, um nome difícil de passar desapercebido.
O coração dessa celebração é a exposição Fassbinder Jetzt (Fassbinder Agora, em tradução livre), no espaço Martin Gropius Bau. Dividida em três partes – Oficina, Figurinos, e Artes visuais – a mostra busca mostrar a coerência na obra do cineasta e sua influência na produção de arte contemporânea, não só na Alemanha, mas em todo o planeta.
A oficina vai a fundo no método de trabalho de Fassbinder, com detalhados roteiros, planos de filmagem e storyboards. Objetos pessoais complementam a visão de mundo do alemão, como a inconfundível jaqueta de couro, seu legendário sofá, uma máquina de fliperama e sua coleção de videocassetes.
A parceria com a figurinista Barbara Baum é a parte mais glamourosa de Fassbinder Jetzt e realça a importância estética não só em seus filmes, como também na construção de personagens como Maria Braun, Veronika Voss ou os marinheiros de Querelle (1982).
Referências interculturais
"Não entendo nada da língua alemã, mas ela me entende muito bem", disse o videoartista cingapurense Ming Wong em sua instalação Aprenda alemão com Petra Von Kant.
Na obra, exposta em Berlim, ele usa a figura da protagonista do filme As lágrimas amargas de Petra von Kant (1972). Fascinado pelo trabalho de Fassbinder, ele entrou em contato com o filme no final dos anos 1990 através do Instituto Goethe.
"Sem um conhecimento prévio de Fassbinder, eu entrei completamente despreparado no mundo de Petra Von Kant", disse o artista, que ficou fascinado pelo mundo mostrado no filme, onde só existiam mulheres extravagantes.
Artistas de outros países europeus, Paquistão, Bangladesh e Estados Unidos também têm obras relacionadas ao trabalho do alemão expostas em Fassbinder Jetzt, evidenciando sua influência nas artes visuais, além do cinema alemão e internacional.
"A referência intercultural é essencial para essa exposição", diz Anne Fricke, co-curadora da mostra. "Isso evidencia que a obra de Fassbinder começa a ser vista internacionalmente, mais do que se tem consciência na Alemanha."
Líder do Novo Cinema Alemão
Fassbinder era a figura central do Novo Cinema Alemão, movimento artístico que nos anos 1960 buscava uma nova forma de se fazer cinema e de tratar temas marginalizados.
"Mesmo 33 anos após sua morte, seu trabalho, em temas e estética, continua atual. Essa é uma fascinação pessoal, que espero encante os jovens que hoje vão ao cinema", diz Cláudia Dillmann, diretora do Museu do Cinema de Frankfurt, um dos organizadores da mostra.
Os filmes de Fassbinder também são retratos essenciais e particulares da história do país. Lili Marlene (1981) mostra a Alemanha durante o regime nazista. Lola (1981) e O casamento de Maria Braun (1979) retratam capítulos do milagre econômico na Alemanha Ocidental.
Num ano de 13 luas e Alemanha no outono (ambos de 1978), o cineasta comenta o terrorismo da esquerda alemã no final dos anos 1970. Em seu monumental épico, Berlin Alexanderplatz (1980), ele oferece uma visão impressionante da Alemanha na década de 1920.
Sua estética das cores, complexos movimentos de câmera, jogos de olhares e perspectiva e a extrema dramaticidade de seus filmes não encantaram apenas os artistas presentes na exposição em Berlim. Assim como Fassbinder buscava inspiração em cineastas do passado, nomes como Pedro Almodóvar, François Ozon e até Martin Scorsese têm forte conexão com o trabalho do alemão.
Mestre do melodrama
O melodrama é recorrente nos filmes de Fassbinder. Ele fazia referência ao trabalho de Douglas Sirk, diz Fricke, "encorajando o público a pensar". Para isso, ele utilizou a ilusão da máquina do cinema para "transportar esse conteúdo". Esse melodrama também está incorporado nas obras dos artistas de todo o mundo que fazem parte da exposição.
"Na Alemanha, ele é considerado por muitos louco por causa de sua força", diz Juliane Lorenz da Fundação Rainer Werner Fassbinder. Nos Estados Unidos isso é diferente. Os americanos são fãs de gênios. "Reiner nunca diria isso dele mesmo. Ele trabalhava duro e tinha carisma. Ele tem o direito de ter muitos jovens talentosos reunidos ao seu redor", completa.
A exposição Fassbinder Jetzt está em cartaz no Martin-Gropius-Bau em Berlim até 23 de agosto.