Berlim apresenta primeira mostra dedicada a Scorsese
16 de janeiro de 2013O diretor Martin Scorsese está trabalhando em seu novo filme, O lobo de Wall Street, e não foi a Berlim para a abertura da exposição em sua homenagem, na última semana. Mesmo assim, sua presença foi e ainda é sentida na Cinemateca Alemã (Deutsche Kinemathek), na praça Potsdamer Platz de Berlim.
Para a mostra, o cineasta cedeu quase 600 objetos ao museu berlinense: fotos, storyboards, cartas e até móveis de sua coleção pessoal. "Muitas coisas que se veem na exposição foram retiradas das paredes do meu escritório e do meu apartamento", disse Scorsese na mensagem de vídeo exibida durante a abertura da exposição, que vai até o dia 12 de maio de 2013.
Segundo o cineasta, é uma honra suas memórias poderem ser vistas justamente em Berlim. Afinal de contas, a Cinemateca Alemã administra o legado de diretores importantes, como Friedrich Wilhelm Murnau e Fritz Lang, como também da atriz Marlene Dietrich, acrescentou o autor de Taxi Driver no vídeo que enviou à capital alemã.
Em prol do patrimônio cinematográfico
"Muitos colegas nos EUA estão perplexos que Scorsese tenha aberto seu arquivo pessoal para o museu berlinense e que sua primeira retrospectiva aconteça na Alemanha e não nos Estados Unidos", disse Nils Warnecke. Ele é um dos dois curadores que foram autorizados, no início de 2012, a examinar material para a mostra durante seis dias em Nova York.
A curadora Kristina Jasper tem uma explicação para o fato de Scorsese ter escolhido Berlim como lugar para sua primeira retrospectiva. "A Cinemateca apoia, há muitos anos, o restauro de filmes antigos. Scorsese com certeza se sente bem nesse ambiente", disse Jaspers.
A preservação do patrimônio cinematográfico é de grande importância para o neto de imigrantes italianos criado no bairro nova-iorquino Little Italy. O fato de as cores de filmes ficarem alaranjadas depois de alguns anos desagradava a Scorsese. Ele exigiu de empresas como a Kodak que desenvolvessem um material com cores estáveis e mobilizou colegas como Steven Spielberg, Stanley Kubrick e Werner Herzog para a causa. Algumas das cartas escritas sobre o assunto fazem agora parte da mostra berlinense.
Colaboração com Michael Ballhaus
O esforço de Scorsese para o restauro de filmes coloridos ocupa um lugar central na exposição em Berlim. O ítalo-americano é capaz de transmitir, como poucos, sua paixão pelo cinema, e isso pode ser escutado no guia de áudio da exposição.
As fitas foram gravadas por Scorsese em Nova York e enviadas para Berlim. Elas foram, então, complementadas pelo companheiro de longa data do diretor, o cinegrafista berlinense Michael Ballhaus, com quem Scorsese trabalhou em seis filmes. Entre eles estão os sucessos Os bons companheiros (1990), A época da inocência (1993), Gangues de Nova York (2002) e Os infiltrados (2006), pelo qual Scorsese recebeu o Oscar de Melhor Direção.
O trabalho de Ballhaus marcou a estética de Scorsese ao longo dos anos. "Eu fico impressionado com o seu senso rítmico para o movimento das câmeras, que ele transforma numa espécie de coreografia", disse o diretor sobre o trabalho do cinegrafista. O alemão lhe chamou atenção já no início da década de 1970. O diretor ficou impressionado com o movimento fluído da câmera, que Ballhaus desenvolveu juntamente com o diretor Rainer Werner Fassbinder.
Em 1985, Scorsese levou Ballhaus para os EUA. O estilo desenvolvido pela dupla serviu de exemplo para outros diretores, também na Alemanha. "Eu admiro a dinâmica da linguagem visual, a pressão que ela exerce sobre a narrativa", diz Dominik Graf, um dos mais importantes cineastas alemães da atualidade.
Esperando a visita de Scorsese
Apesar de todas as honrarias já recebidas, Scorsese ficou, na verdade, um pouco nervoso com o fato de ter sido homenageado com uma abrangente retrospectiva pouco depois de seu aniversário de 70 anos, em novembro do ano passado, disse na abertura da mostra Rainer Rother, diretor artístico da Cinemateca Alemã.
"Eu acho que Scorsese está feliz por a retrospectiva acontecer em Berlim e não em seu entorno imediato, como Nova York", completou a curadora Jaspers. "Scorsese escapa, assim, da constante pressão para se justificar. Um ou outro ator ou um funcionário do diretor poderiam lhe perguntar por que seu nome não aparece na exposição."
Em Berlim, por sua vez, os responsáveis estão contentes com a "mostra espetacular" e esperam que, até meados de maio, Scorsese tenha tempo para uma visita. "Ele foi convidado e nós esperamos que ele venha", disse Rother. "Nós iremos colar uma foto dele na bilheteria. Scorsese não deve andar incógnito pela sua própria exposição", acrescentou em tom de brincadeira.
Autor: Tobias Köberlein (ca)
Revisão: Francis França / Luisa Frey