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Bayern, o eterno campeão

17 de junho de 2020

Após dificuldades no início do Campeonato Alemão, veio uma campanha irretocável, coroada com o oitavo título consecutivo. O clube bávaro já ganhou a competição 30 vezes. Alguém duvida de que será campeão de novo?

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Jogadores do Bayern comemoram título
Jogadores do Bayern comemoram título Foto: picture-alliance/GES/POOL/M. Ibo Güngür

A primeira edição especial sobre a Bundesliga da revista Kicker foi publicada em 1963, justamente o ano da fundação da liga. Desde então, já são mais de 50 edições que celebram o início de uma nova temporada com um conteúdo abrangente. É possível encontrar uma ampla resenha de cada clube profissional alemão, entrevistas com celebridades do mundo do futebol e incontáveis dados relevantes sobre o campeonato prestes a começar com temas escolhidos a dedo pela redação e que fazem a festa de qualquer narrador e comentarista de TV.

Não foi diferente no caderno dedicado à atual temporada, que chegou às bancas em julho de 2019. No capítulo dedicado a uma pesquisa da qual participaram mais de 100 mil usuários do portal da Kicker, a primeira pergunta foi: quem será o campeão?

Para surpresa da redação, quase 50% dos consultados cravaram que, ao final da campanha, o Borussia Dortmund levantaria a Meisterschale – a salva de prata, também conhecida popularmente como saladeira por causa do seu formato redondo. Apenas 37% dos votos foram para o Bayern.

Jürgen Kohler, campeão mundial de 90, foi mais pessimista ainda. Consultado pela Kicker, afirmou na época que, se o Bayern ficasse entre os três primeiros, poderia se dar por satisfeito. "Não acredito que ficará em primeiro."

Olav Thon, outro campeão mundial, profeticamente acertou seu palpite: "O Bayern terá algumas dificuldades no primeiro turno, mas depois vai se ajeitar. Para mim, continua sendo claro favorito à conquista de mais um título."

E foi exatamente isso o que aconteceu. Ainda com o técnico Niko Kovac no comando, o Bayern patinou demais no primeiro turno, para desgosto de Hoeness e Rummenigge, dirigentes máximos do clube. E Kovac foi gentilmente defenestrado do cargo. O clube bávaro chegou a ficar em sétimo lugar na competição depois da derrota, em dezembro, para o líder Borussia Mönchengladbach, que, à essa altura, já abria uma vantagem de sete pontos sobre o todo poderoso elenco da Baviera.

A mudança de técnico fez bem ao clube. Hansi Flick, ex-assistente de Joachim Löw na seleção campeã mundial de 2014, ganhou o vestiário com seu "jeito Jupp Heynckes" de ser, apertou alguns parafusos de ordem tática no time e, mesmo sem poder contar com seus dois titulares na zaga (Süle e Hernandez), acertou a mão.

Desde aquela derrota para o Gladbach, o Bayern não perde mais. Só na Bundesliga, agora já são 16 vitórias e um empate. Uma campanha irretocável, que foi coroada nesta terça-feira (16/06) com a conquista de mais um título do Campeonato Alemão – o oitavo consecutivo, com duas rodadas de antecedência. São ao todo 30 títulos de campeão alemão, dos quais 15 foram conquistados nos últimos 20 anos.  

Flick remontou a defesa ao resgatar Boateng e deslocar Alaba para o miolo da zaga. Posicionou Pavard na lateral direita e Davies, pela esquerda. Formou uma dupla de volantes modernos com Kimmich e Goretzka. Montou um meio campo ofensivo com Gnabry e Coman, ambos flutuando de um lado para o outro, além de Müller com liberdade para se movimentar na faixa central, abrindo espaços e trabalhando como garçom para Lewandowski. 

Sem contar que Flick ainda teve à sua disposição jogadores como Thiago, Coutinho, Odriozola, Javi Martinez, Tolisso, Perisic e Zirkzee para eventuais rodízios, como foi preciso fazer contra o Gladbach.  É, sem dúvida, o elenco mais homogêneo do futebol alemão da atualidade. Só faltam mesmo substitutos à altura para Neuer e Lewandowski.

Pelo andar da carruagem da Bundesliga, não é apenas o primeiro posto que parece estar reservado tal qual uma cadeira cativa para um só time, o Bayern. O segundo lugar, pomposamente chamado de vice-campeão ou pejorativamente denominado o primeiro dos perdedores, também parece ter um  freguês habitual, o Borussia Dortmund. Caso confirme sua vice-liderança também ao final da temporada, será seu quinto "título" de vice-campeão na atual década, sempre comendo a poeira do líder bávaro.

Enquanto os aurinegros de Dortmund amargam mais essa medalha de prata que ninguém quer, o Bayern ainda estará de olho em dois títulos tentando repetir o feito da tríplice coroa de 2013. Vai disputar a final da Copa da Alemanha em julho com o Leverkusen e tentará chegar à decisão da Champions League visando encaçapar seu sexto título continental. 

O Bayern poderá até conquistar mais esses títulos, mas aquela festa de arromba com a torcida que costuma acontecer na Marienplatz, do alto da sacada da prefeitura de Munique, não vai haver. No máximo, talvez, uma cerimônia virtual de apresentação dos troféus conquistados. Tudo pela TV, e o torcedor em casa, instalado na sua poltrona, tomando suas cervejas.

E por falar em cerveja, quase ia esquecendo: também não haverá aquela tradicional ducha da autêntica Weissbier bávara, espetáculo produzido por jogadores brincalhões como Thomas Müller, que adorava despejar canecões de cerveja em cima dos outros.

Essa parte da festa pelo título ficará para a próxima temporada, se é que o Bayern vai ganhar de novo. Alguém duvida? 

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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