Arte em Berlim
11 de dezembro de 2011O ateliê Milchhof fica no bairro Prenzlauer Berg, em Berlim. A região reúne um grande número de artistas entre seus moradores. No jardim em frente ao prédio onde funciona o ateliê, uma escultura de gesso foi colocada em uma vitrine, em um pátio de árvores frondosas. De um lado e de outro desta ilha idílica urbana, estão sendo erigidos modernos prédios de luxo – habitações para abastados. "Mas defendemos nosso lugar aqui", diz Manfred Fuchs. Segundo ele, os moradores gostam do ateliê, aparecem de vez em quando e compram ocasionalmente alguma coisa.
Fuchs trabalha desde 1992 como artista no ateliê comunitário Milchof, uma associação registrada oficialmente. Ele vivenciou o início de tudo, com a ocupação das instalações onde funcionava uma antiga propriedade de produção de laticínios. E também a fundação da associação, a assinatura do contrato e, enfim, a mudança para uma antiga escola a alguns quarteirões de distância.
Ali, no andar térreo, por trás de janelas altas, fica também o ateliê da escultora Anne Katrin Stork. No prédio, conta ela, trabalham 48 membros permanentes da associação, embora haja também um grande número de outros locatários. Embaixo do seu ateliê, bandas de música usam o espaço para ensaiar. Uma situação bem prática, segundo Stork: "Quando preciso de algum material ou de alguém para me ajudar a carregar algo pesado, o que acontece com frequência quando você trabalha com escultura, então, bato na porta de um vizinho".
Gente de todo o mundo
Na maioria dos casos, contudo, os artistas trabalham – cada um por si – de maneira concentrada e a portas fechadas. Já na hora da pausa para o café, diz Anne Katrin Stork, os encontros são bem-vindos, sejam eles com os vizinhos que desenham, fotografam ou trabalham com impressões; ou com aqueles que produzem vídeos, pintam ou fazem esculturas enormes, por exemplo.
Os artistas vêm, além dos próprios alemães, da América do Sul, Austrália, Rússia ou Polônia. Maruska, uma pintora italiana, se mudou para Berlim há alguns anos atrás, por causa de um namorado. Da mesma forma que ela, outros artistas declaram seu amor por Berlim, pela atmosfera criativa da cidade e por todo tipo de inspiração que encontram na cidade.
E elogiam também o fato de que a capital alemã, ao contrário de Madri, Roma, Londres ou Nova York, não tem um custo de vida alto, razão pela qual a cidade atrai cada vez mais artistas jovens de todo o mundo. "Percebo que, quando os artistas acabam de chegar na cidade, eles ficam muito entusiasmados com as condições de vida aqui", relata Anne Katrin Stork.
Não se sabe ao certo quantos artistas vivem e trabalham na cidade. Há diversos ateliês, em sua maioria espalhados por antigas fábricas ou em instalações comerciais desativadas. Os bairros preferidos pelos artistas são Kreuzberg, Friedrichshain e Prenzlauer Berg. Mas a atratividade dessas regiões centrais e descoladas já chegou há muito aos ouvidos de investidores alemães e estrangeiros. Ou seja, os preços dos imóveis tanto residenciais quanto comerciais aumentaram vertiginosamente, para azar dos profissionais ligados à arte e à cultura.
Aluguéis em alta forçam mudança de antigos moradores
No Milchhof, manter um ateliê continua custando menos de 200 euros por mês, incluindo os custos com energia elétrica e aquecimento. E os artistas alugaram o prédio a longo prazo. Ali, há pouca oscilação de moradores. Aqueles que procuram hoje um ateliê acabam sendo forçados a buscar imóveis em bairros mais distantes, como Pankow ou Weissensee, por exemplo.
A escultora Sabine Bibow, que trabalha com concreto, se mudou de Hamburgo há cinco anos, porque os ateliês naquela cidade haviam se tornado impagáveis. Desde então, ela trabalha na European Creative Center Weissensee (ECC), mais um dos centros criativos da cidade. No entanto, o local oferece menos do que o nome promete. A região é pouco hospitaleira, e as instalações onde o centro funciona, construídas em 1939, são também pouco convidativas.
No passado, funcionava ali uma unidade de comando soviética, a sede da Stasi, a polícia política da então Alemanha Oriental, e até a Receita Federal. Depois, o espaço permaneceu fechado durante 10 anos. Hoje, trabalham no lugar mais de 300 artistas de todo o mundo. "Preciso de um espaço útil e pago aluguel por isso. Onde fica esse espaço e o que funcionou ali no passado não é tão importante para mim", diz Sabine Bibow.
Já o artista italiano Dario Puggioni admite que o lugar seja meio distante, embora ele não veja isso como um problema. "O principal é poder trabalhar", afirma. Além disso, Puggioni acha o preço do aluguel "razoável". Jovem, ele até agora não conseguiu ganhar muito dinheiro com a arte que produz. Por isso, faz outros trabalhos ocasionais, como muita gente ligada à cultura e à arte em Berlim, contando com a sorte de que o mercado de trabalhos paralelos e ocasionais seja, na cidade, bem mais tranquilo que o mercado imobiliário.
Autora: Silke Bartlick (sv)
Revisão: Marcio Damasceno