Bancos grandes, lucros pequenos
7 de fevereiro de 2003Graças a uma drástica redução de custos e à venda de participações em empresas, o Deutsche Bank conseguiu dobrar seu lucro antes do pagamento de impostos para 3,5 bilhões de euros em 2002. Somente em pessoal, o maior banco alemão economizou 2 bilhões de euros, reduzindo os custos operacionais em 14%, anunciou seu presidente Josef Ackermann, nesta sexta-feira, ao apresentar o balanço em Frankfurt. Até 2002, foram cortados 11.300 postos de trabalho. O saneamento prossegue este ano, com mais 3155 cortes na Alemanha e no exterior.
"Grandes bancos, lucros pequenos", intitulou o jornal Handelsblatt um artigo sobre a situação dos bancos alemães, após a desastrosa crise de 2002, o pior ano para os grandes bancos desde a Segunda Guerra. De fato, sem a venda dos pacotes de ações, o balanço do Deutsche Bank não seria tão positivo. E o lucro após o pagamento de impostos e amortizações foi de "apenas" 400 milhões de euros, após 200 milhões de euros em 2001.
Créditos e provisões motivaram perdas
A mesma sorte não teve o Commerzbank, o quarto banco alemão, que fechou seu balanço de 2002 com o primeiro prejuízo em toda a sua história, no montante de 298 milhões de euros. Após o pagamento de impostos, a perda aumentou para 372 milhões de euros. A principal razão do balanço negativo foram as altas provisões por créditos não reembolsados e correções no valor das participações, diante da queda das bolsas. A receita que seu presidente Klaus-Peter Müller pretende empregar este ano é a mesma do grande concorrente: diminuir os custos operacionais, cortando empregos e vendendo participações consideradas não estratégicas.
As expectativas agora estão voltadas para o Dresdner Bank, que ainda não apresentou seu balanço. Segundo os analistas, o banco que foi encampado pelo grupo financeiro Allianz pode haver acumulado as maiores perdas. O fraco desemprenho dos bancos não pode ser atribuído somente ao desaquecimento da conjuntura e às desvalorizações nas bolsas. Muitos problemas têm razão interna. O sistema bancário alemão perde de longe, na comparação européia, pois a concorrência trabalha de forma muito mais rentável em outros países - sejam os tempos propícios ou de vacas magras.
As falhas do sistema bancário alemão
"Demasiados bancos e agências", resume Christopher Schweiger, da auditoria Ernst & Young, a questão. Na Grã-Bretanha e na França, os cinco maiores bancos têm uma fatia de mercado de 40% . Na Alemanha, tal parcela não chega nem a 20%. No final de 2000, havia uma agência bancária na Alemanha para 1940 habitantes. Contudo, a rentabilidade se estabelece a partir de 3800 habitantes, verificou um estudo da auditoria. A agência de rating Fitch, mencionada pelo jornal alemão, calculou que os dividendos do capital próprio dos grandes bancos alemães situam-se entre 0,9% e -25%!
Aos problemas estruturais vieram juntar-se graves erros de decisão do passado. O Dresdner Bank, por exemplo, concedeu inúmeros créditos "podres" a empresas de porte médio nos Estados Unidos, que agora representam uma pesada carga. Já o Hypovereinsbank, o número 2 no mercado alemão, ainda está digerindo um erro fatal de avaliação: achou que dava para ganhar muito dinheiro com o boom da construção no leste do país, logo após a reunificação alemã. Os sonhos de proprietários e construtoras estouraram como bolha de sabão, deixando um rombo nos cofres do banco de Munique.
Falências deixarão rombo em 2003
Os grandes bancos também foram afetados pelo recorde de 37 mil falências no ano passado. Pelos cálculos da Ernst & Young, o setor terá um prejuízo de 46 bilhões de euros em 2003, somente em créditos não ressarcidos. Contudo, os grandes bancos são responsáveis apenas por 14% de todos os créditos. Quem domina esse segmento na Alemanha são os bancos municipais e regionais, em posse do Estado ou de cooperativas.
Os especialistas acham necessário eliminar a diferenciação entre bancos privados, caixas econômicas (geralmente municipais) e bancos em sistema de cooperativa. Enquanto ela persistir na Alemanha, os grandes bancos não conseguirão se igualar aos seus concorrentes de outros países. Como muitos institutos bancários são demasiado pequenos para garantir rentabilidade, a auditoria prevê uma onda de fusões no setor das caixas e bancos de cooperativas. Das 530 caixas econômicas que havia em 2001, não sobreviverão mais de 400 nos próximos dois anos.